Crítica: The Invitation (2015)
The Invitation é realmente um convite envolvente e agoniante.
Ficha técnica:
Direção: Karyn Kusama
Roteiro: Phil Hay, Matt Manfredi
Elenco: Logan Marshall-Green, Tammy Blanchard, Emayatzy Corinealdi, Lindsay Burdge, John Carroll Lynch
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2015 (08 de julho de 2016 no Brasil – lançado diretamente na Netflix)
Sinopse: Will e a namorada vão para um encontro com velhos amigos a convite da ex-mulher dele, a Eden. Ela também está com um companheiro e ambos, junto com estranhos novos amigos, apresentam um comportamento que intriga Will. Será só paranoia ou de fato os anfitriões guardam um segredo?
Quanto um trauma pode afetar a vida das pessoas? Como lidar com ele? Provavelmente não há uma receita que funcione para todo mundo. Cada um segue a própria vida, após um acontecimento penoso, de maneira peculiar. Uns podem entrar para um religião, outros mudar o estilo de vida e há aqueles que dizem: “bola pra frente” e tentam levar uma vida normal. Mas o fato é que lá no fundo, o que ocorreu outrora, reverbera dia a dia.
The Invitation (literalmente: O Convite) nos brinda com um longa claustrofóbico, instigante e até reflexivo. Apenas para ilustrar, há elementos de suspense que vimos em Rua Cloverfield, 10, A Bruxa e Boa Noite, Mamãe. Boa parte do filme se passa em um ambiente de constituição rica, com uma desconfiança em cima do anfitrião. Um ritmo lento e uma boa construção de personagem, além de uma bela fotografia. E você não entende ao certo o que está acontecendo, mas sabe que tem algo de errado – o que te deixa sem saber para quem torcer, apesar das dicas estarem ali o tempo todo.
O comportamento alegre e “educado” demais de Eden e David gera uma estranheza em Will, que recebera um convite cheio de pompa para revisitar a casa que morara com a ex-esposa. O que poderia ser apenas uma reunião de amigos que não se viam há tempos é abalada por novos elementos: o taciturno Pruitt e a lasciva Sadie. Mas o incomodo recai basicamente sobre Will. Será que a volta à antiga residência o afetou? Ver a ex-mulher com outro? De fato o “mal” está ali? Ou até mesmo será que Will está com as faculdades mentais afetadas?
As perguntas espalham-se na nossa mente através do olhar do protagonista e da condução que a diretora Karyn Kusama nos propõem. Sem nunca correr mais do que devia e em planos fechados, mostrando só o necessário ou uma insinuação que resvala no concreto. Por vezes demora uns 2 segundos a mais para nos colocar de fato em cena, esse timing é o ponto alto aqui. A movimentação de câmera não é cansativa, quase que deslizando entre aquelas pessoas e (in)cômodos.
A fotografia cumpre um papel de destaque. Usa bastante a contraluz e tons frios, sombrios e pasteis dialogam entre si deixando o público às escuras naquele ambiente. O contraponto se dá em um ar mais suave nos flahsbacks, mas ainda assim com um toque sem vida. O design de produção da casa também é sóbrio e eficaz, com poucos objetos, adornos bem pontuados e um semilabirinto. A trilha vem mais como um toque mais sutil, sem querer puxar para si o centro das atenções.
Logan Marshall-Green se destaca na atuação e assume o protagonismo que lhe é designado. Calado, mas muito expressivo. Distante e sempre presente. Forte e frágil. São alguns dos contrastes que ele tem que nos passar e o faz de forma competente. Um personagem rico, bem interpretado. Dentre os demais destaco Tammy Blanchard (Eden), com movimentos elegantes, invasivos e perturbados.
Os finais neste tipo de filme podem decepcionar por dois motivos: frustar a ideia que o espectador tinha de algo apoteótico ou permitir que o público adivinhe a resolução. Creio que o clímax em The Invitation ocorre cedo demais, mas sem dúvida que mesmo nos entregando um pouco além do que devia nesse sentido, a cena final é impactante.
The Invitation não é genial ou totalmente original, mas funciona de forma mais que correta naquilo que se propõe. Sem prejudicar o todo, um ou outro momento falha um pouco na execução – como na do vídeo exibido ou na cena inicial. Este instante aliás ecoa bem em duas outras circunstâncias na trama. O filme nos deixa tensos, cativados e não passamos impunes. Longa muito além da média do gênero. Vale conferir The Invitation, atualmente disponível na Netflix.