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Crítica: Boa Noite, Mamãe

Boa Noite, Mamãe foi o representante Austríaco na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro. 

Ficha Técnica:
Direção e Roteiro: Severin Fiala e Veronika Franz
Elenco: Lukas Schwarz, Elias Schwarz e Susanne Wuest

Sinopse:
Uma mãe acaba de voltar de uma cirurgia com parte do rosto envolto em faixas. O comportamento dela soa estranho para os dois filhos gêmeos, Lukas e Elias. As duas crianças fazem de tudo para averiguar se estão diante da verdadeira mãe ou de uma impostora.

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Tal como o nacional Que Horas Ela Volta?, o Boa Noite, Mamãe é disputou uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro, como representante da Áustria, mas não foi lembrado dentre os finalistas. Contudo, figurou na lista final para o Critics Choise Awards – um dos maiores prêmios internacionais – com justiça.

Um dos pontos fortes aqui é a sugestão, o que deixa o filme muito mais instigante. Não há, por exemplo, o uso de jump scare – aqueles sustinhos que tomamos quando aparece algo na tela repentinamente. Muitas vezes um filme de terror usa esse artifício como muleta, o que acertadamente não ocorre aqui. O horror e a tensão estabelecidos funcionam de forma orgânica neste filme. Tem uma hora, logo no começo do filme, que você se prepara para tomar um baita susto e a cena não entrega o óbvio. Ali você sabe: “se eles nos pouparam agora… algo de pior vem pela frente”.

Dois irmãos gêmeos, ali na casa dos 9-10 anos, são bastante parceiros nas brincadeiras e aventuras. Eles vivem em uma propriedade localizada em um terreno grande o suficiente para ser explorado e descoberto e a casa em si também não é pequena (um certo clichê do gênero, é verdade…).

boa noite mamae garotos

Logo nos é mostrada a figura da mãe. Ela aparece com partes do rosto encoberto por faixas. Isso foi resultado de uma cirurgia necessária após um acidente. Deixando a aparência irreconhecível para os filhos. Mas o meninos cogitam que a mudança foi além disso, devido à personalidade dela estar tão diferente.

Vemos uma brincadeira, aparentemente despretensiosa, entre eles: um jogo onde um dos participantes escreve o nome de algo em um papel (objeto, pessoa, personagem, etc) e cola na testa da outra pessoa que ele está jogando (esta, com base em perguntas variadas, tem que adivinhar quem/o que é). Esse foi um interessante e inteligente jeito que o filme nos mostra um pouco da personalidade da mãe e que serve para também incentivo para os meninos desconfiarem da procedência daquele ser diante deles.

Outro mérito aqui é que praticamente tudo que vemos em cena é relevante para compormos o cenário como um todo. E em geral as coisas estão inseridas na trama de um jeito que flui naturalmente dentro da narrativa. Desde objetos, animais, pinturas até, claro, os diálogos entres os envolvidos – estes são poucos, tornando o filme pouco expositivo sem explicações desnecessárias (não mastigando tudo para o público).

A fotografia é um dos elementos que mais brinca com o mistério em Boa Noite, Mamãe. Há a predominância de sombras no interior da casa e até nos olhos dos personagens. Em contraposição a um exterior em tons quentes (mas que a depender do ambiente, mesmo fora da residência, também existe um tom mais escuro). Mas o que chama muito a atenção são os fade out, onde a luz vai se apagando até gerar um breu parcial ou total. E, com menos intensidade, os fade in – oposto do fade out: as luzes crescem na tela a partir da escuridão.

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Os pontos negativos ficam por conta de algumas cenas desnecessárias que destoam da proposta do filme (principalmente no meio do segundo arco em diante). Há, por exemplo, uma passagem envolvendo a Cruz Vermelha que é tanto inverosímel. Aliás, todos os personagens, para além do trio principal, são descartáveis. A cena que eu destaquei não é a única que sobra no filme, o que gera, portanto, uma barriga considerável, mesmo o filme não sendo tão longo (cerca de 1h40).

A direção e o roteiro são assinados tanto pelo Severin Fiala quanto pela Veronika Franz. Há uma certa multiplicidade de direcionamento que tangencia uma falta de identidade. A primeira parte, por exemplo, é conduzida de uma forma a criar uma atmosfera de suspense e percebemos que estamos vendo algo diferente ali. Já do meio para o final se encaminha para algo mais físico que tem um bom impacto visual, mas não é tão vigoroso. Essa inconsistência empregrada por Fiala e Franz pode desagradar, mas a obra no todo se sustenta bem.

Já o último arco de Boa Noite, Mamãe perde-se um pouco da sutileza e sugestão nos diálogos em algumas passagens, contudo temos uma excelente conclusão para a história. O enredo mesmo não sendo totalmente original – e ecoando alguns outros filmes (o que faz este perder força) – traz uma ideia que é facilmente comprada pelo público, ao contrário de outras obras do gênero. O longa estreia por aqui no Brasil no dia 25 de fevereiro e vale a pena conferir.

https://www.youtube.com/watch?v=AfojB6rlx2Y&ab_channel=Trailersnosferahcorp

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