Crítica: Ponte Aérea
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Crítica: Ponte Aérea

PonteAerea_poster_filme“Você sabia que os cavalos já nascem sabendo andar? Imagina se fosse assim com a gente?”. Esta é uma das frases ditas em “Ponte Aérea” que remetem a diversos questionamentos sobre a vida pós-moderna e os relacionamentos típicos da Geração Y.

Infelizmente (ou felizmente) não nascemos sabendo andar, e ainda demoramos a aprender. Com as múltiplas possibilidades da vida, estamos deixando para caminhar com nossas próprias pernas cada vez mais tarde. “Ponte Aérea” é sobre isso, essencialmente. Fala sofre definirmos quem queremos ser, e aceitarmos algumas coisas para toda a vida.

“Ponte Aérea” conta o romance de Amanda e Bruno. Ela é uma jovem paulistana publicitária de sucesso, que vive intensamente e também cheia de trabalho, enquanto ele é um artista carioca imaturo que ainda não encontrou seu lugar e não sabe o que fazer da vida. Os dois passam a se encontrar entre diversas idas e vindas entre São Paulo e Rio. Dirigido por Julia Rezende, o filme tem roteiro dela e de Rafael Pitanguy, com colaboração de L.G. Bayão e Patrícia Corso, e é inspirado nas teorias do sociólogo Zygmunt Bauman sobre a pós-modernidade e a liquidez das relações sociais.

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No início da trama, Amanda diz que gosta de São Paulo porque sempre há um espaço com uma placa onde está escrito “em breve”, como se a capital paulista sempre prometesse uma vivência mais completa. Em seguida, Bruno a leva para um local onde ouviriam o típico chorinho carioca, mas ao chegar lá, encontram uma festa particular que celebra as bodas de ouro de um casal. Eles se questionam como é possível um casal ficar 50 anos junto e manter o amor. É incrível como nesta sequência encontramos elementos para debater a vida moderna. A dificuldade de amar para sempre, as mudanças e transformações da vida, a forma como nos adaptamos e readaptamos às realidades, a chegada de novas experiências que prometem satisfazer o eterno desejo de mais – de ser mais, de ter mais, de poder mais, de fazer mais. O casal chega ao local em que sempre existe alguma coisa, mas ele mudou, e aí eles se adaptam, e se divertem.

Os elementos mais interessantes de “Ponte Aérea” são justamente as referências a questões da era que vivemos hoje, cheia de incertezas, vidros, aviões e redes sociais. As atuações são seguras e a direção de arte deixa claro qual a personalidade de cada um dos protagonistas – especialmente o apartamento cheio de vidro. Embora a diretora não se renda a elementos clichês das cidades retratadas no filme, a fotografia acaba optando por alguns momentos de um cinza que chega a ser redundante para a forma como São Paulo é retratada, mas nada que afete demais o trabalho final.

Ainda assim, sem jamais deixar a naturalidade dos acontecimentos na trama e no desenvolvimento dos personagens, o longa traz um roteiro que pouco falha e nunca se rende ao lugar-comum – note como as tramas paralelas são bem encaixadas e ajudam no desenvolvimento dos personagens. “Ponte Aérea” é um dos muitos filmes brasileiros que falam com um grande público sem deixar de lado a maneira pessoal e autoral como a(o) cineasta idealizou o projeto. É também um filme leve sem ser fútil, profundo sem ser arrogante, e sensível sem ser piegas.

Foto: Aline Arruda / Divulgação

Foto: Aline Arruda / Divulgação

 

4/5

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