Crítica: Tim Maia
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Crítica: Tim Maia

TimMaia_poster_cartazZezé Di Camargo e Luciano, Cazuza, Luiz Gonzaga e Renato Russo estão entre os poucos músicos brasileiros que ganharam cinebiografias. Mesmo que não existam tantos filmes do gênero no Brasil (ainda mais quando comparados a documentários, estes sim presentes em vasta quantidade), podemos afirmar que esta pode se tornar uma especialidade nacional, já que até o momento não houve uma produção abaixo da média.

Felizmente, “Tim Maia” é um longa que mantém a qualidade das cinebiografias brasileiras, ainda que não seja perfeito. Trata-se de um bom retrato do “síndico” da música brasileira que não se preocupa com “reencarnar” o músico real, mas em transmitir sua essência e sua vida como ela realmente foi, sem julgamentos.

É discutível que o filme tenha optado por ter o personagem Fábio (Cauã Reymond) como narrador: embora seja importante para dar unidade a uma personalidade cuja vida foi uma verdadeira montanha russa, resvala no preconceito o fato de que o músico representante da ‘soul music’ brasileira tenha um narrador branco para lhe representar. Do ponto de vista da construção de ficção dentro de uma história real, é interessante verificar que tanto o personagem de Reymond quanto o da atriz Alinne Moraes não existiram, mas atuam como sínteses de diversas pessoas que fizeram parte da vida do cantor. A ligação entre acontecimentos semelhantes com personagens religiosos e importantes para Tim também cria uma ligação bastante orgânica para explicar acontecimentos da narrativa que, provavelmente, não tiveram o mesmo significado na vida real.

Extremamente eficiente nas categorias técnicas – como a maquiagem perfeita que fizeram em Babu Santana nos momentos finais da vida de Tim; a reconstituição da época; e o retrato da Nova York em que Tim Maia viveu – o filme de Mauro Lima apresenta algumas escolhas interessantes e outras deslocadas. É interessante ver que o longa não caiu na tentação de utilizar-se de frases de canções em diálogos ou de insistir em mostrar o protagonista compondo a todo instante, por exemplo. Baseado na obra ” Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, de Nelson Motta, o filme tem momentos de muito humor para fazer jus à personalidade do biografado, mas também mostra os defeitos (gigantescos) do ser humano Sebastião Maia, como seu temperamento explosivo e sua falta de comprometimento com contratos e pessoas.

TimMaia_RobsonNunes

Talvez uma das maiores falhas do filme não esteja no personagem de Tim Maia, cuja falta de unidade entre a versão jovem de Robson Nunes e a mais velha de Babu Santana é usada em prol da narrativa, mas no personagem de Roberto Carlos. Importante para a carreira de Tim, o “rei” Roberto não apenas é vivido de forma caricata pelo ator George Sauma, como também tem muito tempo de tela para depois ser descartado pela narrativa. Pode-se interpretar que Roberto Carlos tenha sido feito de forma caricata propositalmente pelo diretor, já que ele formou um tipo de rival e contraponto para Tim, mas isso ficou pouco explicado. O mesmo podemos dizer da ênfase dada ao personagem: ele é importante e tem uma cena interessante como gancho para dar um fim mais emocionante ao longa, mas o embate entre os dois foi supervalorizado para o que a trama mostra.

Se todas as cinebiografias possuem uma grande estrela que encarna o personagem com verdade e muitas vezes grandes semelhanças físicas, Tim Maia mantém a regra com Babu Santana inspiradíssimo (Robson Nunes se livra da exigência por viver uma fase menos conhecida do cantor). Que venham mais filmes deste gênero.

TimMaia_cena_BabuSantana

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