Crítica: Guardiões da Galáxia
O mundo evolui rapidamente, o cinema também! Muitos efeitos especiais, estruturas narrativas todas parecidas, adaptações de filmes, musicais da Broadway, revistas em quadrinhos, tudo muito parecido.
Mas de vez em quando algum filme se destaca dos demais e resgata algo do passado. Lá atrás é onde estão grandes filmes, “O Poderoso Chefão”, Casablanca, “Chinatown” e as vezes pensando no passado você cria um novo filme muito bom.
Não tem muito tempo, 2012, o filme “O Artista” ganhou o Oscar de melhor filme, detalhe, o filme é em preto e branco e essencialmente mudo. E em 2011 também chegou aos cinemas o filme “Super 8” do diretor J. J. Abrams, uma homenagem sua ao diretor Steven Spielberg e aos filmes do final dos anos 70 começo dos 80.
“Os Guardiões da Galáxia” é o novo filme da Marvel Studios, estúdio que está adaptando seus quadrinhos de super-heróis ao cinema em uma grande e emaranhada saga. Mas ao contrário do Homem de Ferro, Thor e o colorido grupo Os Vingadores, Os Guardiões da Galáxia não são um grupo de super-heróis. E isso é excelente!
Tudo começa com o roteiro da dupla James Gunn e Nicole Pearlman, Nicole aliás é a primeira mulher a trabalhar em um roteiro dos filmes da Marvel. A história do filme não é uma história de origem, que passa metade da película explicando como os personagens ganharam poderes. Isso por que nenhum deles tem superpoderes, cada um de sua raça alienígena específica, mas todos de certa forma normais. O filme trata sobre a formação de um grupo, um bando de desajustados, e ao contrário dos Vingadores, onde o Homem de Ferro sem dúvida chama toda a atenção para si, em Guardiões da Galáxia, TODOS os personagens são legais, encantadores, tem sua motivação e sem dúvida cada um vai ter sua legião de fãs.
Como escrevi no texto introdutório, muitos conceitos do passado tornam-se inovadores no presente e James Gunn, que também dirige o filme conseguiu isso magistralmente, e sem dúvida alguma se baseando e muito na trilogia clássica de Star Wars, ou melhor, Guerra nas Estrelas.
Está tudo lá! Um vilão implacável, um bando de personagens diferentes que no começo se estranham, mas depois acabam não vivendo um sem o outro. Planetas únicos, batalhas épicas com naves espaciais, caçadores de recompensa. Aliás, a Marvel Studios assim como a Lucasfilm pertencem a Disney, onde esperamos que o diretor J. J. Abrams preste bem atenção neste novo filme.
O protagonista, inicial, do filme é Peter Quill, é ele que vai nos apresentando aquele mundo, pois ele é o único terráqueo do filme. Peter pode ser descrito como um Indiana Jones misturado com Han Solo jovem. Debochado, mulherengo, mercenário, o ator Chris Pratt traz um protagonista que está longe de ser um modelo a ser seguido, mas assim como o certinho Capitão América, tem em sua natureza, mesmo que de forma latente no começo, o dom da liderança. Engraçado é ver a necessidade do personagem de fazer emplacar seu codinome – Star Lord – e sua cara ao ver que foi reconhecido é impagável.
Gamora é a garota do filme, e infelizmente acaba sendo interesse romântico do Peter, o que sexualiza demais essa personagem. Sério, será que ninguém pensa que uma garota pode ser amiga de um bando de caras e mesmo assim não se envolver com ninguém amorosamente? A alienígena verde começa o filme como uma capanga do vilão Ronan, e de seu pai adotivo Thanos. A bela Zoe Saldana interpreta Gamora em seu terceiro papel sobre filmes no espaço, pois ela faz a tenente Uhura na nova safra de filmes Star Trek e também a protagonista do filme Avatar.
Drax, O Destruidor, é um dos personagens mais poderosos dos quadrinhos Marvel, ele é aquele que foi criado para destruir Thanos. No filme o alienígena vermelho cheio de runas é interpretado por Dave Bautista. Bautista é fisiculturista e lutador de MMA, mas você se engana se pensar que ele é apenas o músculo do filme, o Drax consegue ao seu modo expressar sentimentos, sendo uma das cenas de conforto e prova de carinho protagonizada por ele e Rocket.
Aliás, Bautista já contou que chorou de emoção quando descobriu que foi escolhido para fazer parte do filme. Drax é um personagem que acaba tendo cenas muito engraçadas pois sua raça não entende figuras de linguagem, metáforas, levando tudo ao pé da letra, como se fosse um Vulcano extremamente forte e talvez sua motivação seja uma das mais dramáticas possíveis.
Agora o coração da equipe, sem dúvida é a dupla Rocket e Groot. Essa dupla de caçadores de recompensa remete a clássica dupla Han Solo/Chewbacca. Os dois personagens são os fisicamente mais diferentes do grupo, Rocket Racoon é um guaxinim que sofreu experimentos genéticos, foi desintegrado, reestruturado, teve implantes cibernéticos pelo corpo todo, o que para ele mostra o quão revoltante são atitudes das pessoas e talvez por isso ele seja sarcástico, violento e no começo do filme até mesmo o mais egoísta do filme. Mas tudo isso é compensado pelas hilárias cenas que ele protagoniza e também por sua genialidade. Rocket foi feito através de dublagem e captura de movimentos do ator Bradley Cooper.
Seu parceiro é Groot, um vegetal humanoide, que parece às vezes ser apenas uma espécie de “bicho de estimação” mas que se mostra ser um ecossistema vivo, com alma e coração puros. O ator por trás dos movimentos e voz de Groot é Vin Diesel. Vin Diesel aliás surpreendeu a todos pois ele dá vida a um personagem que diz apenas 3 palavras (I am Groot – Eu sou Groot), mas com sua entonação de voz a cada momento consegue dar sentido e sentimentos diferentes a cada vez que fala e o ator também aprendeu a falar a singela frase em 6 idiomas diferentes para que pudesse ser aproveitado em países onde o filme tem sua versão dublada (como o Brasil).
O filme, uma verdadeira opera espacial nos mostra muitos planetas e organizações, tudo bem caricato, mas com sua identidade própria, além de Star Wars não dá para não pensar no icônico “Guia do Mochileiro das Galáxias” do escritor Douglas Adams, ou mesmo no anime “Cowboy Bebop”.
Conhecemos os alienígenas da raça Kree, a qual pertence o vilão do filme Ronan, o Acusador, em interpretação caricata e sem nenhuma novidade do ator Lee Rapace, o planeta Xandar, lar da organização policial Tropa Alfa. Aliás vemos que Ronan tem uma aliança com o titã Thanos, o vilão por trás também dos eventos do filme Vingadores 1 e que é interpretado pelo recém contratado Josh Brolin.
Vale a pena falar também de dois outros coadjuvantes interessante, primeiro o alienígena azul Youndo Udonta, interpretado por Michael Hooker (o Merle do seriado The Walking Dead), um contrabandista e pai adotivo de Peter e que tem aquele sotaque bem característico dos red kneck (ou caipirões) do meio-oeste americano, e também, do personagem O Colecionador, interpretador por Benício Del Toro o personagem parece uma mistura de Lulu Santos com Clodovil e já tinha aparecido na cena pós-crédito do filme Thor – O Mundo Sombrio.
Não dá para falar de Guardiões da Galáxia sem falar de talvez um sexto membro para o grupo – a trilha sonora. Peter quando é abduzido estava com uma fita cassete com o título AWESOME MIX VOL. 1, e é toda composta por rock anos 80 (o pequeno Peter foi abduzido em 1988), passando pela “Hooked on a feeling” do Blue Sweed, “Spirit in the sky” do Norman Greenbauld a “Escape – The Pina Colada Song –“ do Rupert Holmes a “I want you back” do Jackson Five.
“Guardiões da Galáxia” é um filme imperdível para fãs de Star Wars, heróis da Marvel e comédias escrachadas e até mesmo psicodélicas, e está no top dos filmes do estúdio junto com Homem de Ferro 1, Os Vingadores e Capitão América – O Soldado Invernal.