Eu Cinéfilo #12: O tango universal de ‘Medianeras’
Eu Cinéfilo

Eu Cinéfilo #12: O tango universal de ‘Medianeras’

Quando criança assistia aos filmes dublados e me perguntava, tentando entender, por que aquela assincronia entre o que era dito e o movimento labial dos atores. Já adulto, e com a resposta, descobri as legendas e desde então, são companhias fiéis em todo filme estrangeiro que assisto.

Fui assistir ‘Medianeras’, o áudio e a fala eram equivalentes, e não denunciavam a exibição de uma novela mexicana, mas as legendas em português não apareceram.

A vontade de ver o filme era tanta que topei enfrentar as barreiras da língua, e meti o pé no acelerador em espanhol mesmo, sem tradução.

No decorrer do filme fui olhando mais para baixo e me dei conta do abismo que existe nas relações humanas.
A conexão direta, sem fronteiras das redes é um ilusório placebo em meio à crônica ilha de solidão que vivemos. É como se saíssemos do calabouço dos nossos lares e levássemos a alvenaria junto. Andamos pela rua, desviamos de milhares de olhares, cruzamos com milhares de corpos…

Olhem o pôster do filme. Milhares de pessoas espalhadas. Pensem que cada uma das pessoas que ali estão são as pessoas, que ao longo da nossa vida, nos foram próximas. Na infância, na escola, no curso de inglês, na faculdade, no trabalho… Onde eles estão? Quais morreram? O que fazem da vida? Já passamos por muitos deles na rua e não vimos…

A maior parte deles ficaria em preto e branco, e em cores ficariam apenas alguns, os poucos com os quais de fato, somos vizinhos não só de janelas.

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“Medianeras” é mais uma obra prima do cinema argentino e a reafirmação da tese de que um roteiro simples e bem construído é suficiente para a realização de ótimos filmes.

O diretor Gustavo Taretto consegue transparecer a solidão, a desordem e os toques de Martín e Mariana. E os dois, conseguem se transmutar em multidões.

O vai e vem frenético é igual ao nosso de cada dia, o mundo infinitamente particular que envolve cada um deles é igual ao qual nos escondemos quando chegamos em casa após um dia inteiro na rua.

Toda essa empatia, toda essa proximidade dá o tom universal do filme.

Seja em Buenos Aires, seja em Berlim, seja em Salvador… A solidão é a mesma.

A introspecção de Martín e Mariana é tão familiar que tomamos pra si. Em pouco mais de uma hora de filme, ficamos melancólicos, silenciamos por fora e por dentro.

E antes das janelas se fecharem, nossos olhos arregalam, o coração entra em taquicardia, cruzamos os dedos, tentamos frustradamente congelar o tempo para que um consiga ficar frente a frente com o outro. Eis que no momento ápice da fita, o clímax do mediterrâneo, o fim acaba no começo.

A continuação fica por nossa conta.

‘Mediarenas’, um ótimo tango argentino, que vale a pena dançar, mesmo sozinho.

 

Texto escrito por:

Felipe Ferreira
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