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Grandes Mestres do Cinema: Steven Spielberg

Steven Spielberg é a maior mente criativa do cinema dos últimos 45 anos, e isso não é nada pouco. Cineasta desde sua infância – quando fazia vídeos experimentais de aventura – o grande gênio da indústria de Hollywood revolucionou a maneira de fazer cinema, iniciando os blockbusters, tornando as salas de cinema mais convidativas nos lucrativos verões norte-americanos.

Fascinado pelo clássico “Lawrence da Arábia” (1962), do diretor David Lean, Spielberg se tornou o diretor mais novo a assinar um contrato para dirigir alguns filmes para um grande estúdio. Ele chamou a atenção dos executivos depois de realizar o curta-metragem “Amblin” (que se tornaria o nome de sua produtora). Daí em diante foi uma sucessão de grandes filmes (alguns poucos não deram certo) e bilheterias astronômicas que fizeram do diretor o homem mais poderoso de Hollywood. Todo ator quer ser dirigido por Spielberg; todo técnico quer ter seu nome nos créditos de um filme dele.

Além de diretor, Spielberg é também produtor, roteirista, e já participou também de alguns produções como ator, inclusive em alguns documentários. Muito tímido quando criança e de origem judia, ele fez parte de um importante grupo de diretores nos anos 70 que se tornaria um marco da cinematografia mundial; são eles: George Lucas (“Star Wars – Episódio IV – Uma Nova Esperança”), Martin Scorsese (“Touro Indomável”), “Francis Ford Coppola” (“O Poderoso Chefão”) e Brian De Palma (“Os Intocáveis”).

“Encurralado” (1971)

Inicialmente intercalando alguns trabalhos para o cinema e a TV – inclusive dirigindo a estrela Joan Crawford – Spielberg dirigiu “Encurralado” (1971), seu primeiro filme de destaque comercial (e de crítica) que foi feito para a TV, mas devido ao grande sucesso foi exibido nos cinemas. Em “Louca Escapada” (1974) dirigiu Goldie Hawn, William Atherton e Ben Johnson em uma alucinada aventura com direito a várias perseguições. Um bom e típico Road Movie.

Mas foi com o estrondoso sucesso de “Tubarão” (1975) que Spielberg conheceu os louros da fama. O suspense marítimo estrelado por Roy Scheider, Richard Dreyfuss e Robert Shaw demonstrou que o então jovem diretor era de fato muito talentoso. O filme inaugurou a era dos blockbusters e venceu 3 Oscars: edição, mixagem de som e trilha sonora (para John Williams), além de ter concorrido, entre outros, ao prêmio de melhor filme.

“Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977)

Com “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, Spielberg trabalhou pela primeira vez com um grande orçamento, dirigindo novamente Richard Dreyfuss, dessa vez em uma ficção-científica memorável, que contou ainda com a presença do célebre diretor francês François Truffaut (“A Noite Americana”) no elenco. Vencedor dos Oscars de melhor fotografia e um prêmio especial pelo efeitos sonoros (hoje chamado de edição de som). Por esse filme, Spielberg concorreu pela primeira vez ao Oscar de direção.

Convencido de seu poder na indústria do cinema, Spielberg resolveu fazer uma comédia que se passa durante a Segunda Guerra Mundial; mas o seu “1941 – Uma Guerra Muito Louca” (1979) não agradou os críticos e foi uma decepção nas bilheterias. Dois anos depois, seu amigo George Lucas o convidou a dirigir “Os Caçadores da Arca Perdida”, uma das maiores aventuras de todos os tempos que apresentou ao mundo o arqueólogo aventureiro Indiana Jones (Harrison Ford). Spielberg assim voltaria a fazer as pazes com o sucesso. O filme venceu quatro Oscars, entre eles os de efeitos visuais e direção de arte.

“Os Caçadores da Arca Perdida” (1981)

E.T, o Extraterrestre” (1982) se tornaria por vários anos a maior bilheteria de todos os tempos. Foi um projeto pessoal do diretor que agradou todos e consolidou seu nome para sempre na indústria do cinema. A comovente história da amizade entre um menino e um alienígena venceu quatro Oscars e obteve o reconhecimento da crítica, tornando-se um dos filmes mais vistos e queridos de todos os tempos.

Em 1984, Spielberg dirigiu “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, aventura que consegue ser tão boa quanto a primeira. Foi durante as filmagens desse filme que Spielberg conheceu Kate Capshaw, sua futura esposa que se tornou um grande e ótimo diferencial em sua vida. A segunda aventura estrelada por Ford venceu o Oscar de efeitos visuais. No ano seguinte, Spielberg resolveu fazer seu primeiro filme sério, dirigindo Whoopi Goldberg, Danny Glover e Oprah Winfrey no dramático “A Cor Púrpura”, filme que obteve 11 indicações ao Oscar mas que acabou não levando nenhum prêmio.

O Império do Sol” (1987) é um drama estrelado pelo ainda menino Christian Bale, e se passa durante a Segunda Guerra Mundial. A história do garoto rico que se vê perdido em um terrível confronto dividiu os críticos mas agradou boa parte do público. Em 1989, Spielberg dirigiu “Indiana Jones e a Última Cruzada”, onde Sean Connery interpreta o pai do famoso herói. No mesmo ano, “Além da Eternidade (refilmagem do clássico “Dois no Céu”) tem como maior destaque a última participação no cinema da inesquecível estrela Audrey Hepburn.

Com “Hook – A Volta do Capitão Gancho”, nem as presenças de atores como Robin Williams (como Peter Pan), Dustin Hoffman (Gancho) e Julia Roberts (a Fada Sininho) conseguiram agradar muito os críticos. Enquanto isso, uma boa parcela do público foi ao cinema ver se a releitura da clássica história de Peter Pan pelos olhos de Spielberg tinha algo novo a oferecer.

“A Lista de Schindler” (1993)

1993 foi sem nenhuma dúvida o melhor ano de Steven Spielberg. Ele revolucionou os efeitos visuais no cinema com a ótima aventura “Jurassic Park” (que se tornou a maior bilheteria de todos os tempos até o surgimento de “Titanic”, em 1997). Além do sucesso estrondoso, o filme venceu os Oscar de efeitos visuais, edição de som e mixagem de som. “A Lista de Schindler”, um intenso drama sobre o Holocausto, é considerado por muitos sua grande obra-prima e um dos melhores filmes de todos os tempos. Vencedor de sete Oscars (entre eles filme, direção e roteiro adaptado), a produção conta com um ótimo elenco encabeçado por Liam Neeson. Spielberg esperou por vários anos até resolver filmar essa obra, e aqui fez as pazes de vez com sua origem judia (que durante sua infância e adolescência ele tanto rejeitava e escondia).

O Mundo Pedido: Jurassic Park” foi a continuação que Spielberg fez em 1997 do grande sucesso de 1993. Está bem aquém do original e não traz de volta todos os atores originais, mas ainda assim não deixa de ser uma boa diversão. No mesmo ano Spielberg dirigiu o drama “Amistad”, sobre uma revolta de escravos ocorrida na primeira metade do século 19 nos EUA. O filme tem um elenco excepcional: Djimon Hounsou, Morgan Freeman, Anthony Hopkins e Nigel Hawthorne.

Por “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), Spielberg recebeu seu segundo Oscar de direção. Trata-se de um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos, onde o diretor nos mostra da forma mais crua possível a jornada de oito soldados em uma missão para resgatar o paraquedista James Francis Ryan (Matt Damon). A cena inicial da tomada da praia de Omaha é antológica. Foi o primeiro de uma série de filmes que Spielberg e o ator Tom Hanks fariam juntos. Eles produziram as ótimas séries de guerra “Band of Brothers” (2001) e “The Pacific” (2010). “O Resgate do Soldado Ryan” recebeu ainda os Oscars de edição, fotografia, mixagem de som e edição de som.

“O Resgate do Soldado Ryan” (1998)

O diretor Stanley Kubrick sonhava em levar às telas a história “Super Brinquedos Duram o Verão Todo”, de Brian Aldiss. Impressionado com as produções revolucionárias repletas de efeitos visuais de Spielberg, Kubrick queria que seu amigo assumisse a direção. Com a morte do diretor de “Laranja Mecânica” em 1999, Spielberg levou o projeto adiante, realizando “A.I. – Inteligência Artificial” (2001), um filme que peca por alguns excessos, mas no geral é um bom trabalho que deixaria Kubrick orgulhoso. Foi indicado ao Oscar de efeitos visuais.

2002 foi um ano muito bom para Spielberg. “Minority Report: A Nova Lei” é uma ótima ficção científica que marca a primeira parceria do diretor com o astro Tom Cruise. A história de agentes que conseguem prever os crimes e prender os criminosos antes que eles consigam agir, rende momentos fantásticos e se mantém como um dos melhores filmes do diretor da década passada. Em “Prenda-me se For Capaz”, Tom Hanks, em sua segunda parceria com Spielberg, se junta a Leonardo DiCaprio em uma divertida caçada de gato e rato que é uma das melhores comédias dramáticas dos últimos tempos. Indicado aos Oscars de ator coadjuvante (Christopher Walken) e trilha sonora.

Em 2004, a terceira parceria Spielberg/Hanks rendeu “O Terminal”, um drama que se passa o tempo todo em um grande aeroporto. O maior destaque dessa obra é a incrível direção de arte que reconstitui um aeroporto de verdade.

Guerra dos Mundos” (2005) adapta para os dias atuais a clássica ficção científica escrita por H.G. Wells. Com Cruise novamente no elenco, o resultado dividiu a crítica, sendo os excelentes efeitos visuais a maior qualidade do filme. Também em 2005, Spielberg fez aquele que é seu último grande filme até o momento. “Munique” é uma obra tão ousada e polêmica, que às vezes parece não ter sido dirigida por Spielberg, um diretor tão relacionado a filmes sentimentalistas. Um filme cru e impactante que não toma partido na duradoura luta entre árabes e israelenses.

Munique (2005)

Spielberg demorou quase 20 anos para filmar a quarta aventura do famoso arqueólogo interpretado por Harrison Ford. E não se pode dizer que o grande intervalo de tempo favoreceu a produção, porque trata-se de um filme que fica muito abaixo das aventuras anteriores. “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” (2008) traz Ford já idoso, que segura bem o personagem; o problema é o roteiro esquemático cheio de absurdos. Pouca gente gostou do resultado.

As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne” (2011) é a primeira (e até o momento única) animação em computação gráfica dirigida por Spielberg. Produzida por Peter Jackson, o filme é uma boa e nostálgica diversão que venceu o Globo de Ouro de melhor animação (e que estranhamente ficou de fora dos indicados ao Oscar na categoria). Uma segunda parte seria produzida por Spielberg e dirigida por Jackson, mas até o momento nada saiu do papel. Também no mesmo ano, Spielberg dirigiu a aventura dramática “Cavalo de Guerra”, filme com tons épicos que peca por alguns momentos sentimentalistas demais; mas boa parte do público acaba gostando.

Lincoln” (2012) foi o filme que deu o terceiro Oscar de ator principal para Daniel Day-Lewis e uma nova indicação de melhor direção para Spielberg. Um trabalho correto e sincero que conta a história – narrada de forma por vezes solene – de uma das maiores personalidades norte-americanas de todos os tempos. Lewis dá um show ao lado de Sally Field (vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante). Venceu ainda o Oscar de direção de arte.

Lincoln (2012)

De 2015 temos “Ponte dos Espiões”. A quarta parceria de Spielberg com Tom Hanks rendeu um filme discutível, criticado por conter alguns momentos inverossímeis de sentimentalismo e patriotismo. Os irmãos Coen – acostumados a nos brindar com obras de roteiros bem ácidos – co-escreveram um roteiro burocrático, criando uma história que poderia ter rendido muito mais. Obteve 6 indicações ao Oscar (entre elas melhor filme) e venceu na categoria de melhor ator coadjuvante (o então pouco conhecido Mark Rylance). “O Bom Gigante Amigo” (2016) traz uma história baseada em um conto infantil do escritor Roald Dahl (“A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “Matilda”) que foi um relativo fracasso de bilheteria. É uma obra que tem problema para atingir um público-alvo. As crianças o acham muito bizarro, e os adultos o consideram infantil demais.

O novo projeto de Spielberg é “The Post – A Guerra Secreta” (2017), obra que promete ser um dos melhores filmes do ano (foi premiado como melhor filme no National Board of Review), trazendo Tom Hanks mais uma vez como protagonista. O astro se une a Meryl Streep em uma história que remete ao editor-executivo Ben Bradlee (aqui feito por Hanks e que já fora retratado em “Todos os Homens do Presidente”, interpretado por Jason Robards), responsável por chefiar matérias reveladoras do jornal Washington Post.

Seu projeto de 2018 é “Jogador Nº 1”, adaptação do elogiado romance de ficção científica escrito por Ernest Cline.

Entre os inúmeros filmes produzidos (sem ter dirigido) por Spielberg, estão: “Poltergeist” (1982), “Gremlins” (1984), “De Volta para o Futuro” (1985), “Os Goonies” (1985), “O Enigma da Pirâmide” (1985), “Um Hóspede do Barulho” (1987), “Viagem Insólita” (1987), “Uma Cilada para Roger Rabbit” (1988), “Gasparzinho, o Fantasminha Camarada” (1995), “Twister” (1996), “MIB – Homens de Preto” (1997), “A Máscara do Zorro” (1998), “Cartas de Iwo Jima” (2006), “A Casa Monstro” (2006), “Transformers” (2007), “Bravura Indômita” (2010), “Cowboys & Aliens” (2011) e “Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros” (2015).

Uma carreira invejável que faz deste diretor norte-americano, nascido em 18 de dezembro de 1946, um dos maiores gênios do cinema de todos os tempos.

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