Crítica: Saturday Night: A Noite Que Mudou a Comédia – 48ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
2 Claquetes

Crítica: Saturday Night: A Noite Que Mudou a Comédia – 48ª Mostra de São Paulo

Ficha técnica – Saturday Night: A Noite Que Mudou a Comédia
Direção:
Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman, Gil Kehan
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2024
Sinopse: A noite de estreia do lendário programa de humor Saturday Night Live.

.

Acompanhe a Mostra de São Paulo

O pai de Jason Reitman, Ivan Reitman, se tornou um nome ultra notável por dirigir Os Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 1984), um blockbuster que misturava comédia e aventura que fez muito sucesso sendo protagonizado por grande parte do elenco das primeiras gerações do Saturday Night Live além de ser coescrito pelo Dan Aykroyd, aqui nesse filme é interpretado pelo Dylan O’Brien. A associação e relação da família Reitman com a comédia estadunidense e lendas da comédia estadunidense é algo histórico então não é surpresa para ninguém o desejo de Jason em trazer para as telas a captura da primeira exibição do Saturday Night Live, que se tornou um dos programas de humor mais importantes da história.

Temos figuras de uma cena jovem do humor e do audiovisual mais independente como a Rachel Sennott interpretando essas personalidades também jovens e que trouxeram para o mainstream das noites da NBC ímpetos de anarquia, questionamento e criatividade em um cenário extremamente quadrado. O grande acerto de Reitman é escalar bons excelentes pra compor essas personalidades indo em emulações de quem elas são que fogem de um “cosplay” e são muito vividas, todos estão excelentes, esses personagens também são todos figuras e artistas ultra fascinantes em suas particularidades de personalidade e trabalho e essas coisas de bastidores e processo criativo do audiovisual desses momentos icônicos e históricos ainda mais algo com um material tão rico como a história do SNL acabam sendo interessantes por si só. 

E pra mérito do Reitman e do seu corroteirista Gil Kenan algumas cenas caracterizam bem como as personas daquelas figuras se destacam, são divertidas ou têm as suas particularidades específicas, principalmente os momentos com demonstrando o carisma egocêntrico do Chevy Chase, a excentricidade destrutiva e animalesca do John Belushi ou a ambição criativa por trás das câmeras do Lorne Michaels. Gabriel LaBelle, Cory Michael Smith e Matt Wood estão perfeitos. O grande problema do filme acaba sendo que é constrangedor ver o Jason Reitman, um cineasta ultra quadrado e básico, tentando ser energético e caótico. A movimentação de câmera constante, os efeitos sonoros que não param, a montagem alucinada, a granulação da fotografia e todo o frenesi contínuo da encenação soam marcadinhos por serem extremamente cronometrados e encaixados do modo mais básico possível em como isso ritmado e decupado pelo diretor (o que tira a autenticidade da criação de caos da coisa) e dão um ar de falsidade para essa energia que o filme quer capturar. Parece mais a imitação desse estilo Birdman/Safdie/The Bear que está na moda do que isso sendo de fato algo que está sendo construído pelo filme em prol da captura desse momento, fazendo que o filme seja um longa mais conservador em forma e narrativa que quer parecer desesperadamente mais “moderninho”. O que deveria imergir na realidade se torna distrativo, se tornam truques, por essa falsidade formal.

Os melhores momentos do Reitman são quando ele mostra uma ligação e uma saudação genuína a essas figuras, a história e o humor delas – principalmente pela própria história de vida dele com elas e o que elas significam pra família dele – do que quando vai pra esse caminho da afetação cênica. Momentos como a delicadeza num plano geral John Belushi na patinação de gelo, no seu contato melancólico com as pessoas ao seu redor ou o Chevy Chase sendo confrontado pelo personagem do J.K. Simmons acabam sendo os melhores do filme justamente por isso. Essa tentativa de ser um “registro de um marco cultural do seu tempo” e de uma “cena cultural rica, revolucionária e única” também acaba existindo bem superficialmente e sendo bem didática sobre o que devemos sentir sobre essas pessoas, o que se torna bobo, mesmo que o filme acerte ao fugir da caricatura mais apelativa. Mas são diversos momentos do roteiro faz personagens dizerem que “essas pessoas nunca serão ninguém”, “que isso será uma fracassado”, “que a história não se lembrará delas” e coisas do tipo ou momentos onde ele se resume a jogar informações de Wikipedia sobre os personagens do que construir situações e desenvolvimentos de fato que envolvam esses personagens (que praticamente são inexistentes), o que além de repetitivo por ser tão na sua cara nas suas intenções faz com que o efeito todo se perca. É bacana saber curiosidades como o Billy Crystal sendo cortado do programa, as coisas que o filme diz didaticamente na nossa cara e coisas do tipo, mas ao mesmo tempo isso é só o banal e o filme nunca sai disso.

Apontando o que já está óbvio e sacrificando o orgânico mostrando que por trás de todo o seu “caos” e “intensidade”, ainda temos um filme extremamente burocrático e protocolar. Figuras como Gilda Radner (interpretada aqui por Ella Hunt) são colocadas em terceiro plano praticamente por Reitman e como se fossem só escadas para os personagens masculinos, sendo que ela era uma comediante tão sensação, tão única e tão genial quanto Chase ou Belushi. Assim como a personagem de Sennott, Rosie Schuster, só existe basicamente para ser o interesse romântico do Lorne Machiels numa sub–trama manjada sobre separação e reconciliação. No geral é um filme muito conservador que quer parecer “moderno” e são coisas assim que fazem que Saturday Night não decole, apesar das suas boas sacadas ocasionais de diálogos pra piadas, de elenco (escalar o Nicholas Braun para fazer dois papéis diferentes mega icônicos foi uma delas) e boas cenas aqui e ali.

  • Nota
2

Deixe seu comentário