Crítica: Good Bye, Till Tomorrow (1960)
Good Bye, Till Tomorrow/Do Widzenia, Do Jutra (1960), dirigido por Janusz Morgenstern, é uma obra essencial do cinema polonês, inspira-se nitidamente na Nouvelle vague para compor um hino ao desencontro da paixão, aquela se revela perversa no instante que um coração imagina o para sempre em um encontro que traduz a necessidade do agora.
O conceito de amor é alimentado desde os primórdios do cinema, principalmente em Hollywood, de forma unilateral, geralmente sob o viés heteronormativo, onde o homem busca do começo ao fim maneiras de conquistar a pretendente, o que fatalmente acontece. Por quê? Ora, há de acontecer, primeiro pois o final precisa ser sempre gentil, leia-se, não agressivo aos olhos, segundo que o amor adornado nunca se baseia no instante, soa como uma projeção que se estende, como uma sombra perpétua. No entanto, esses dois motivos não escondem o fato de que o papel da mulher nessa decisão fica completamente aniquilado, pois em diversos casos sua função é aceitar os jogos de sedução que lhe são impostos, filosoficamente – unido com a necessidade do comércio, esse formato fora muito utilizado pela Hollywood clássica da década de 30 – as damas, quando personificam o interesse romântico do herói, servem a trama como objetos de desejo e são veículos para o letreiro imaginário “e viveram felizes para sempre”. Em uma visão moderna, contestadora, sabemos que sobrecarregar o feminino com essa postura de pregá-la como sinônimo de felicidade, é algo no mínimo infantil, para não dizer desrespeitoso, é óbvio que pitadas de romantismo clássico aqui e acolá é aceito em diversos momentos sem pestanejar pela maioria, a crítica aqui é a padronização.
A Nouvelle vague na década de cinquenta já demonstrava preocupação com essa fórmula e espantava o mundo com o desprendimento jovem acerca das relações e seus desdobramentos nada padronizados. Além disso, as figuras femininas ganharam infinitas camadas e sua significância atingiu o ápice da complexidade, principalmente quando atreladas à questões filosóficas, sociais e políticas. Dada tamanha proporção e impacto a partir do contexto histórico, é sabido que essa linha de pensamento e produção impactou duramente o mundo e os artistas das mais diversas formas, dentre eles um polonês chamado Janusz Morgenstern que em seu primeiro trabalho “Do Widzenia, Do Jutra” (1960) utiliza o maior movimento cinematográfico como inspiração para um conto urbano sobre o desencontro da paixão.
“Do Widzenia, do Jutra” ou “Good Bye, Till Tomorrow” (1960) se utiliza da musa social para apontar as suas lentes em dois corações distintos, percorre a correnteza e o abismo, a certeza de que o que se vive hoje não precisa necessariamente depender do amanhã para ser especial. Jacek (Zbigniew Cybulski) é um jovem ator, entusiasmado com as perspectivas dos sentimentos verdadeiros despertados no minuto que conhece a delicada (mas não fraca) Marguerite (Teresa Tuszynska). Ela é flexível como as ondas do mar, mesmo sendo sete anos mais jovem que o protagonista, é tomada por um senso de desprendimento inabalável, viajante e incrivelmente forte, tem a necessidade de conhecer diversos universos, enquanto Jacek – como um bom ator – tem a pretensão de expor o seu e se desespera ao perceber que mesmo com evidente sintonia, um só não é o suficiente para uma força feminina tão poderosa e indomável como Marguerite.
Teresa Tuszynska além de ser agraciada pelos deuses com uma beleza assustadoramente delicada, é brilhante e compõe sua personagem sob camadas complexas, contrastando sua imagem pura e apaixonada – por vezes deixa-se levar por essa condição, é humana, afinal – com uma mulher que tem o coração no ato de ir e vir e na liberdade total para se permitir conhecer.
A estrutura de roteiro parte da ideia simples de passos pelas ruas, lugares e os personagens interagindo nesses espaços, inclusive muitos diálogos são motivados a partir de pequenas situações que os envolve – difícil não imaginar que Linklater tenha assistido esse filme para criar a trilogia do antes – e apesar dessa simplicidade, fica exposto desde o primeiro momento a habilidade do diretor em desenvolver uma história que se sustenta em dois personagens e no ritmo que os envolvem a partir dessa interação, citando também a fotografia como consequência. Jan Laskowski dá prioridade aos protagonistas mas deixa pistas da distância entre eles, em diversos momentos no quadro ambos estão separados por grades, a posição os diferenciam enormemente ou mesmo, aliado com o figurino, cria uma poesia da distância através das cores e posição que se (des)encontram.