Cine PE 2019 | Abraço
“Nós estamos nessa coisa meio Marvel, onde todo mundo tem que ser super-herói…Não. nós somos os heróis.” O ator Flávio Bauraqui tem uma visão bem interessante sobre as figuras vistas em“Abraço”, obra da Mostra Competitiva de Longas Metragens no CinePE 2019. É um filme que não tem herói”, o ator ressaltou na coletiva do dia 31 no Hotel Nobile Suítes Executive (“QG” do Cine Pe 2019).
Ambientada em 2008, quando professores sergipianos travaram uma luta jurídica contra o governo para convencer os desembargadores do Tribunal de Justiça a não votar pelo fim da carreira do magistério – diminuindo salários e impossibilitando que profissionais do ensino continuassem a dar aula -, a produção é parte filme de tribunal, parte roadmovie (o grupo de professores parte num ônibus para a capital Aracaju para reivindicar seus direitos) e parte drama edificante, “Abraço” acompanha um evento real, atribuindo importância aos protestos feitos pelos professores.
A obra conta com uma protagonista feminina interpretada pela atriz Giuliana Maria, utilizando a jornada da mesma para também relatar os preconceitos que enfrenta pelo caminho por ser mulher. Ainda que tais abordagens, com momentos inspirados como as conversas da protagonista com sua mãe (Mônica Moreira, um achado) sejam mais sensíveis e interessantes justamente por retratarem pessoas com ideais tão distintos mas com a ligação essencial de serem, – até mesmo antes de mãe e filha – mulheres, “Abraço” não obtém êxito quando se propõe a abordar a questão dos professores.
Com uma trilha sonora constantemente pontuando a narrativa com composições inspiradoras e orquestras de tom épico, como se gritasse a todo momento o quão importante é aquela história, o que se tem é exatamente a diminuição destes momentos, que soam artificiais. De fato, o que aconteceu em 2008 com aqueles professores é algo absurdo, mas momentos característicos de produções estrangeiras associadas costumeiramente como “awards baits” – como aquele onde o personagem de Bauraqui pausa dramaticamente antes de revelar o resultado do tribunal (como se quisesse criar um suspense não característico com a situação) – tiram o espectador do filme e de seu roteiro, que claramente retrata a protagonista como a “heroína”.
As atuações de Moreira, Maria e Bauraqui, no entanto, são o que mais funciona em “Abraço”, que possui um roteiro e narrativa visual problemática, mas que ao menos trás à tona um evento não lembrado por muitos, em um momento que é necessário. Balraqui evidência isso em suas declarações na coletiva:
“Uma coisa que eu primo na minha história como artista é não contar histórias que não me interessam. Eu acho que à partir do momento que você faz parte de uma história que você não quer contar você deixa de ser artista e vira um manipulado“
A 23ª edição do Cine PE segue em exibição no Cinema São Luiz, em Recife. As entradas são gratuitas.