"Alphaville" - (1965) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Cine(filo)sofia

“Alphaville” – (1965)

Alphaville é escrito e dirigido pelo diretor francês Jean-Luc Godard.

“Sometimes, reality is too complex, for oral communication.”

Escuro. Luz. Sombras.

Temos em foco uma visão que se distorce diante de sua própria mudança, um tempo de infinito percorre todo limiar de alcance que a comunicação não oral consegue suportar. A luminosidade clara e fugaz de um fogo veloz que acende um cigarro, transfigura-se como a mensagem que o respiro de Lemmy Caution (Eddie Constantine), antes de sua ação, ao inalar e exalar, que teremos acerca do que vem pela frente. “Prudência. Lógica. Silêncio.” Os trovões da sinfonia que acompanha a trama, desde o início, nos dão uma sensação de inquietude, de medo, de suspeita. No decorrer de um plano sequência magnífico, ela vai se acalmando, vai se dando por inteira, mesmo que de começo mais calma, contudo, à um terreno melancólico.

Não sabemos quem ele é, o que foi fazer naquele hotel e porquê não deixa ninguém encostar em sua mala de mão. O imprevisto não visto, realiza-se. As mulheres que se aconchegam a sua volta o querem como um ato proclamado à acontecer. O que é o amor? – ele pergunta. Ela não sabe sobre o que estão falando, não se conhecem. “It’s always like that. You never understand anything and one night, you end it in death” – ao som mudo da trilha, como uma mensagem subliminar provinda dos pensamentos do narrador/voz.

Com os flashs de sua máquina fotográfica percebe trejeitos, características daqueles que lhe são interessantes e estrangeiros para si. Os diálogos que se dão, abordam temas existenciais como vida, morte , política, medo e angústia. “The essence of the so-called capitalist world or the communist world is not an evil volition to subjet their people by the power of indoctrination or the power of finance but simply, the natural ambition of any organization to plan all its actions.” Os crimes que prevêem a morte, principalmente, são consequências de ações ilógicas segundo as autoridades de Alphaville. O espetáculo da morte ocorre como um esporte, isto é, os espectadores – sim, há entre tal acontecimento, pessoas que assistem tais criminosos serem abatidos como bois – assim que ouvem o tiro, batem palmas e algumas mulheres lindas de maiô, pulam na água para socorrer o corpo sem vida. Tudo acontece como num clube: com arquibancadas com uma piscina no centro.

alphaville

A voz grave que narra o enredo da cidade futurista é conduzida por um tom não humano através de Alpha 60, um computador que regula a vida das pessoas em Alphaville – localiza-se para além do espaço, ou seja, é necessário atravessar o espaço galáctico para encontrá-la: uma cidade distópica. Lemmy, lá chega com uma missão: encontrar um agente perdido e assassinar o professor Von Braun (Howard Vernon), o arquiteto de um estado cujo povo é governado tanto pela lógica quanto pela ciência, além de serem manipulados ao ponto de não terem mais emoção. É nesse sentido que o viajante, ao trocar palavras com Natasha Von Braun (Anna Karina) – a filha do líder, e à questionar sobre consciência e sobre amor, ela acaba não entendo, como se fossem conceitos distantes e não familiares para com sua realidade. Ela diz: “Nearly every day, words disappear because they are forbidden. They are replaced by new words expressing new ideas.”

Alphaville nos faz pensar, refletir e ter acesso a um imaginário, que construído belamente por Godard em seu tempo, atualmente, reverbera através dos mecanismos tecnológicos que gradualmente de forma intensa fazem parte de nossas vidas. Preto e branco, revigorante e autêntico. As marcas de seu cinema são novas para àqueles que não tiveram acesso a seus filmes, já que ausentes de efeitos especiais, mesmo porque eles não existiam como hoje, conseguimos nos aproximar e entender o que nos é passado durante a narrativa, a qual de um tom Sci-Fi, torna-se um romance intersideral.

Nota: 5

Deixe seu comentário