Sobre Narcos, sotaques e… quem se importa?
Eu assisti Narcos, a série da Netflix estrelada pelo Wagner Moura.
Além de ter um formato que me agrada – com narrador explicando tudo direitinho – a série tem muita coisa interessante. Talvez o mais curioso seja o fato de que, se fosse ficção, não seria aceita por falta de verossimilhança, mas na Colômbia, como dizem, tudo é possível.
O que me deixou curioso foi o incômodo que muita gente teve com o sotaque do Wagner Moura. Sinceramente, achei que ele não só está falando espanhol muito bem, como encontrou uma forma de falar que usa seu sotaque a favor do personagem.
Confesso que, mesmo tendo um pouco de conhecimento de espanhol, não me dei conta de que a maioria dos atores, que não são colombianos, estavam falando com sotaques variados. E foi aí que me peguei pensando: “who cares?”. Até entendo que um colombiano, ou qualquer falante da língua espanhola, tenha algum estranhamento inicial com os sotaques na série, mas acredito que isso seja algo fácil de se acostumar. Afinal, trata-se de uma obra de ficção. Como podemos reclamar disso quando aceitamos que determinados atores paulistas façam o papel de surfistas cariocas nas novelas brasileiras? E quem nunca achou que o sotaque nordestino “inventado” por atores cariocas da globo ficaram um pouco exagerados? (sejamos honestos: isso vem melhorando nos últimos tempos, pelo menos na TV brasileira).

Se é para citarmos um exemplo brasileiro, lembre-se de “Meu Tio Matou um Cara”, filme que se passa em Porto Alegre, sem nenhum ator gaúcho: Darlan Cunha é carioca, Lázaro Ramos é baiano, Ailton Graça é paulista e Dira Paes é paraense.
Quem entende inglês também já deve ter reparado que alguns filmes americanos que se passam no Texas podem ter atores que falam com sotaque nova-iorquino, ou californiano, ou canadense. Ninguém se importa muito.
Portanto, vamos prestar atenção no que importa mais: na câmera, na trama, nas atuações. Sotaques são – sempre foram e sempre serão – meros detalhes, tanto no cinema quanto na vida.
