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Artigo

A “ciência” por trás de Jurassic World

Esse texto contém spoilers!

Acredito que nesse momento todos já possuem uma opinião formada sobre o filme “Jurassic World: O mundo dos dinossauros”, a continuação da famosíssima franquia “Jurassic Park”, iniciada em 1993 e dirigida por Steven Spielberg. Para mim, a palavra “decepção” define o filme. Não estou aqui para fazer uma crítica completa (leiam aqui a crítica de Daniel Cury, e escutem o nosso podcast sobre o filme), embora não consiga deixar de expressar a minha opinião em diversos aspectos desse longa-metragem. Mas resolvi falar um pouco da ciência em que foi baseada “Jurassic World”: nenhuma. Não sou especialista em paleontologia, aliás, estou bem longe disso, visto que foi uma das matérias que eu fui literalmente forçada a fazer pra me graduar em Ciências Biológicas. Mas o filme de ficção científica extrapola nas invenções, e vai muito além das extrapolações do primeiro filme.

No primeiro filme da franquia os produtores estudaram meticulosamente a literatura científica mais recente da época, para criar um filme de ficção que não fosse visto como um absurdo pelo público leigo e pela comunidade científica. Acreditava-se que os dinossauros eram parecidos com grandes lagartos, e foi essa representação visual que os produtores resolveram levar para as telas. Além disso, a busca pelo DNA em fósseis antigos não era uma idéia nova. Um dia após a estréia do filme foi publicado um estudo na revista Nature onde um grupo de cientistas havia extraído e seqüenciado o DNA de um mosquito preservado por âmbar, de aproximadamente 130 milhões de anos atrás. Embora a idéia de trazer dinossauros para a vida seja improvável, a base científica do filme é algo que está presente nas pesquisas paleontológicas atuais.

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“Jurassic World” exagerou no aspecto científico ao qual o filme se baseia. A crítica em relação ao primeiro filme continua, onde seria impossível extrair e seqüenciar DNA de dinossauros. Mas isso não é nada perto das novas incoerências que surgiram. Os produtores não se deram ao trabalho de pesquisar os trabalhos paleontológicos recentes, considerando que o primeiro filme foi lançado há mais de 20 anos atrás. Tem muita literatura nova desde então! Acredita-se hoje que os dinossauros não se assemelhavam a lagartos gigantes, mas sim a grandes avestruzes. E por que isso? Porque eles eram cobertos por penas e plumagem, e não por escamas. Eles não deixaram de ser aterrorizantes, uma vez que eram enormes e possuíam dentes bastante ameaçadores também. Mas a produção optou por deixá-los parecidos com o que se aceitava na década de 90. E isso é realmente uma pena, pois deixou de passar para o público as descobertas recentes e a evolução da ciência. Como “Jurassic World” atinge um público enorme, poderiam aproveitar essa oportunidade para levar conhecimento aos espectadores. Entretanto, a oportunidade não foi aproveitada, e os dinossauros ainda são vistos como grandes lagartos.

Ainda que seja entendível a escolha de manter a aparência dos dinossauros como se acreditava antigamente, há um ponto no filme que me intrigou ainda mais. A criação de um ser híbrido. Embora a ciência já provou ser capaz de adicionar uma ou outra característica genética diferente em uma sequência de DNA, a concepção de um animal com várias características genéticas de outros animais é impossível, e até hoje não existe nenhuma tecnologia disponível para isso. A criação do “Indominus rex” com características de vários animais me incomodou, e muito. Eu sei que a justificativa está na própria classificação do filme de ficção científica, mas visto que houve tanto investimento em não extrapolar muito nos limites da ciência no primeiro filme da franquia, os produtores de “Jurassic World” poderiam manter esse aspecto. Além disso, a inteligência do novo ser criado é absurdo. Ele é considerado uma máquina de matar, porém, não há conhecimento de nenhum animal que mate por prazer.

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Agora, saindo do aspecto científico, “Jurassic World” peca em muitos outros pontos. O que antes era considerado o maior predador do Cretáceo, o Tiranossauro rex virou quase uma mãe boazinha nesse filme. O que é aquilo? Só porque temos um vilão maior, o clássico T. rex não deveria ser deixado de lado. E nem perdido suas características assustadoras. O que antes esperávamos ansiosamente para ver no cinema com seus grandes dentes devoradores de carne virou o grande salvador da pátria. Impossível não rir!

Para não falar que o filme foi um total descontentamento para mim, o que fez valer a pena meu bilhete do cinema foram os efeitos sensacionais que o filme traz para o público. Os efeitos não deixam a desejar! Mas, por último, vamos esquecer a história, esquecer a ciência, esquecer os dinossauros. Podem discordar comigo com tudo o que eu falei aqui, já que estamos discutindo uma ficção científica. Sei que minhas expectativas estavam altíssimas e eu acabei saindo do cinema rindo para não chorar. Atuações fraquíssimas (e coloca fraco nisso, rapaz), mas consegui me divertir um pouco. Porém, em um aspecto específico acredito que ninguém irá discordar comigo. Digam-me qual pessoa em sã consciência, que está em um parque invadido por todos os tipos de dinossauros, fica de salto alto do começo ao final do filme? Existe alguma pessoa mentalmente normal que vai soltar um T. rex (embora aqui no filme ele seja “bonzinho”) com um salto alto nos pés? Não, não existe. O filme está pedindo para ser criticado. E conseguiu.

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