Por que os cartazes de filmes são ruins?

Às vezes, algumas coisas se tornam ruins e a gente nem percebe. É o caso dos cartazes de filmes.

Não que não existam cartazes bem feitos nos dias de hoje. Existem alguns, e houve até um site que elencou os melhores de 2014.

Repare que estes de 2014 (acima) são, geralmente, parecidos com pinturas, e tentam se afastar dos clichês de pôsteres que vemos o tempo todo nos cinemas. Ainda, podemos ver que muitos deles são cartazes promocionais, ou seja, não estarão nas salas de cinema, muito menos estampando os DVDs do lançamento em home video (provavelmente).

Se parar pra reparar nos detalhes, podemos ver que os pôsteres antigos eram muito bons. Afinal, eram encomendados a artistas, que inseriam nos cartazes diversos elementos do filme, ou então alguma grande “sacada” que chamava a atenção do público. Abaixo, veja alguns exemplos de bons cartazes de filmes antigos (clique para ampliar):

Repare que em “Um Corpo Que Cai” (Vertigo), há apenas uma referência à escada. Quem nunca viu o filme certamente vai esperar por algum momento em que há uma escada! Na cartaz de “Chinatown”, vemos o rosto de uma mulher encoberto pelas fumaças do cigarro, o que gera uma dúvida sobre a importância dela para a trama.

No entanto, o que podemos ver nos cartazes da nova era de Hollywood é que não há qualquer preocupação com variedade – com novas paletas de cores, por exemplo – e muitas vezes não há nenhuma relação da imagem com o filme. Tudo isso certamente faz parte da industrialização do cinema, que recebe mais e mais produções, fazendo com que os grandes estúdios não percam muito tempo na criação de cartazes.

AGORA, SE PREPARE: ESTE ARTIGO SERÁ LONGO! É importante deixar claro que, em nenhum momento, vamos discutir a qualidade dos filmes. Afinal, não se pode julgar um filme pelo cartaz, como diz o ditado (ele fala de livros, na verdade, mas funciona da mesma forma, certo?). Existem ótimos filmes com péssimos cartazes, e péssimos filmes com excelentes cartazes.

Abaixo, veja os maiores clichês de pôsteres e uma breve análise deles:

Quer mostrar que o filme é um thriller cheio de ação? Então coloque alguém correndo no canto, abuse do tom azulado, desde que bastante frio, para dar a impressão de que há perigo no ar, e acrescente, é claro, a cabeça dos astros que vão encabeçar o longa metragem. Repare como os cartazes carregam o mesmo sentido.

Se o filme for sobre natureza, o azul também precisa estar presente, mas precisa ser aquele azul bonito do céu, cheio de luz. Se puder, acrescente uma paisagem estonteante (que pode até ser verde) e, é claro, animais! Voilá!

Outro elemento que adora estar presente nos cartazes é o banco! Carlos Alberto de Nóbrega deve adorar… mas piadas ruins à parte, repare como o banco sempre representa um tom de bom-humor. Se não é comédia, o cartaz com banco traz dramas cheios de brincadeiras, filmes independentes que tendem à comédia, ou romances que fazem o expectador sair saltitando de alegria após ver o filme.

As cabeças flutuantes no céu são uma constante mais comum em cartazes que pimenta líquida para pipoca em cinema do interior (nunca colocou pimenta na pipoca no seu cinema de cidade grande? não sabe o que está perdendo!). Mas voltando às cabeças: elas geralmente vem acompanhadas de pessoas em miniatura que estão, de preferência, na praia. Dramas, romances e narrativas edificantes costumam fazer o estilo das cabeças. Quando se deparar com um pôster assim, lembre-se de Mufasa dizendo: “Simba… nunca se esqueça de quem você é”.

Por que criar um cartaz original se eu posso colocar os protagonistas em uma cama de casal? É o que devem pensar os criadores de cartazes de comédias sobre relacionamentos. Famílias inteiras ou amigos dividindo a cama são variações, também! Um rasgo separando a cama, pessoas de semblante bravo ou elementos que elicitem as diferenças entre as pessoas vão deixar claro o que todos já sabiam: é um filme sobre relações conflituosas!

O filme é de ação e cheio de tiros? Os protagonistas são durões, fortes e loucos para descer o porrete em todo mundo ou se vingar de alguma coisa? Então não erre na concepção do seu pôster: coloque tudo em preto e branco, acrescente cores que remetam às chamas alaranjadas das explosões, e coloque o protagonista com cara de mau. Não tem erro: todo mundo vai achar que é uma bosta querer assistir!

Outro típico cartaz para filmes é aquele que traz o protagonista de costas, geralmente em um ambiente soturno e cheio de sombras, muitas vezes com a cabeça um pouco virada sobre os ombros. Não se esqueça das armas, presentes na maioria deles, sejam elas espadas, facões ou revólveres. Muito comum em filmes de ação, em que o protagonista faz o tipo “poucos amigos”, este pôster também pode ter outras variações.

De costas ou de ladinho, sempre sensual e mostrando o popozão – ou a perninha. Não, isso não é a letra do próximo hit do Axé (ainda existe isso?). Trata-se de uma regra bastante comum para os cartazes de filmes. A ideia é mostrar as mulheres da forma mais machista sensual possível. Afinal, o departamento de marketing sabe que o pessoal quer ver muitos peitinhos por aí. E não tem gênero de filme que escape: romance, comédia, ação, fantasia e ficção científica estão cheios de moçoilas destilando inveja nas recalcadas.

Desta vez, eles não estão de costas para o público, mas de costas um para o outro. Se o filme quer mostrar um relacionamento entre duas pessoas (seja amoroso, seja entre pai e filho, amigos, etc), ele pode fazer desta maneira. Sempre em tom de bom humor e predominante nas comédias românticas, este formato já mostra os grandes astros do filme logo de cara.

Se o tom é de comédia e há sensualidade no filme, o segredo é colocar os elementos da produção entre as pernas de uma mulher. Há variações como as que não usam tanto da sensualidade, mas todos os pôsteres se propõem a mostrar que todos estão “aos pés” da dona das pernas. Resta saber se as tramas são minimamente relacionadas a este tipo de relação entre os personagens.

Outro tipo de pôster que já ficou comum é aquele que estampa textos gigantes no rosto dos atores. Neste caso, o objetivo é que o público leia alguma chamada de efeito… o problema é que a chamada nem sempre tem muito efeito. Mudam os closes no rosto e há variação no tamanho do texto, mas a proposta é sempre a mesma.

O clichê dos cartazes não faz parte apenas dos grandes blockbusters: os filmes independentes de grande porte, aqueles feitos com pouco dinheiro, mas bons diretores e grandes astros, tendem a abusar do amarelo dourado saturado. A explicação é que eles se sobressaiam na hora de ficarem expostos. Mas temos que admitir: pelo menos a disposição dos elementos do filme é bem variada.

Óculos que refletem uma paisagem ou um personagem também são recorrentes. Seja para mostrar ação ou sensualidade, os cartazes não evitam os óculos escuros. O tipo mais comum é aquele que mostra aquilo que o personagem enxerga… mas é claro que isso nem sempre representa algo que vai aparecer no filme. Os óculos fazem sentido em filmes de voyeurismo, mas em todos os outros são desnecessários.

Se o filme se chama “The Eye” (O Olho, em tradução literal), “Blindness” (cegueira) ou “Blind Loves” (amores cegos), faz muito sentido que o cartaz tenha uma grande córnea estampada. Mas e se for “Avatar”, “Frankenstein” ou”Dinossauro”? Acho que não tem essa necessidade. Mas existem muitos e muitos pôsteres que colocam apenas um olho, seja ele muito próximo ou com outros elementos, como mais um pouco do rosto de alguém. O reflexo na córnea é difícil de evitar, mas há os cartazes que abusam de mãos saindo ou algo interagindo com o globo ocular.

Por serem muito específicos, os olhos vendados não são largamente utilizados, mas já se tornaram um pouco clichês. A ideia é que o tema combina com suspense e pode passar a ideia de que o protagonista não enxerga o que deveria ver, ou sofreu alguma proibição. A imagem também remete à ideia de justiça. Afinal, a justiça é cega… e o pior cartaz é aquele que não quer ver que tem um monte deles, todos iguais.

Que tal formar um rosto por meio de mosaico? Ou então encontrar o formato de uma face (ou esqueleto) através de elementos do filme? Apesar de ter se repetido diversas vezes com longas de terror, alguns podem ser bem legais. Dois olhos, uma boca… e talvez aquele nariz de esqueleto. Se não der medo, pode dar preguiça.

Quase sempre remetendo à sensualidade e à paixão, a cor vermelha acaba ficando muito presente nas roupas das mulheres. Mesmo que haja casos em que é apenas para chamar atenção, na maioria das vezes os vestidos demonstram sensualidade, e ainda abusam do decote ou das alças caídas, que deixam o colo à mostra. Romances, comédias românticas e thrillers eróticos são predominantes, mas tem espaço pra tudo.

O título do filme em vermelho chama a atenção e faz com que todo mundo leia. O restante, em preto e branco, traz um ar de urgência e seriedade. Afinal, trata-se de um filme com uma trama forte e cheia de consequência, não é mesmo?

Para finalizar e deixar o tema mais atual, vejamos alguns cartazes de filmes recentes, prestes a estrear nos cinemas, e em qual padrão eles se encaixam:

Enquanto o terror de baixo orçamento “Lazarus: Day of the Living Dead”, previsto para chegar em fevereiro no Brasil, não hesitou em estampar um olho no pôster, o longa “Busca Implacável 3” repete exatamente a mesma fórmula de ação do Liam Neeson: preto e branco, personagem correndo para indicar ação, e o título em vermelho (é muito clichê, Brasil!). No final de fevereiro, chega o filme “Golpe Duplo” (Focus), com Will Smith, que já ganhou um pôster clássico: texto estampado na frente do rosto do protagonista.