Brasil, a terra da comédia
O cinema comercial brasileiro é formado por ondas. Entenda por “comercial” o cinema das grandes bilheterias. Algumas ondas mais fortes, outras mais fracas. Nada mais icônico para o país da “marolinha”.
Tivemos o período da pornochanchada. Com a retomada, o Brasil se viu discutindo a violência urbana com filmes que falavam de tráfico de drogas: Cidade de Deus é seu ápice e Tropa de Elite 2, sua maturidade. Nos últimos anos, duas pequenas ondas temáticas tiveram seus momentos: os filmes espíritas, que levaram milhões de pessoas para ver as biografias de Bezerra de Menezes e Chico Xavier, e conhecer uma vida após a morte cheia de efeitos visuais. As adaptações de músicas e biografias de artistas também podem ser incluídas em outra onda, que ainda não terminou na areia. Mesmo que “O Abismo Prateado” não seja parte das grandes bilheterias mainstream, as adaptações “O Menino da Porteira” e “Faroeste Caboclo” conquistaram ótimos públicos em seus devidos tempos diferentes. Renato Russo, Cazuza, Heleno, Dois Filhos de Francisco, Olga, entre tantos outros, são cinebiografias responsáveis por grandes bilheterias. Em breve, o síndico vem aí.
Mas talvez nenhuma onda tenha sido tão surfada quanto a das atuais comédias brasileiras. Nem mesmo o cinema-favela conquistou tantas boas bilheterias em tão pouco tempo. “De Pernas pro Ar“, “Até que a Sorte nos Separe”, “E aí… Comeu?”, “Se eu Fosse Você”, “A Mulher Invisível”, “Lisbela e o Prisioneiro”. E muito mais.
Na maioria das vezes, são comédias despretensiosas, urbanas e até mesmo despreocupadas com a crítica. O que importa é o público. E tudo indica que as comédias não vão parar.
“Muita Calma Nessa Hora 2”, continuação do primeiro grande filme do diretor Felipe Joffily, deve chegar não somente focada em divertir o público, mas com objetivos comerciais de superar os 1,5 milhão de espectadores do primeiro filme. Em entrevista ao Estadão, Marcelo Adnet, uma das principais figuras do longa, disse que “a vida está tão corrida que as pessoas querem ver algo leve, ágil”.
Talvez seja isso. As dificuldades da vida cotidiana fazem com que a maioria procure relaxar em uma sala de cinema, mesmo que a política nacional esteja em efervescência e que a população, ainda que findada a grande onda de protestos, debata o assunto.
É uma pena, no entanto, que a maioria dos filmes mereça o rótulo de “Globochanchada”. São produções rasas, em sua maioria. Repetem estereótipos, mantém o mesmo status quo da sociedade e não promovem qualquer novidade.
Não consigo ver possibilidade de novos ares com “O Concurso”, recém lançado nas salas de cinema, ou “Meu passado me condena”, próximo filme de Fábio Porchat. Talvez o longa da produtora “Porta dos Fundos” traga algo novo, mas há de se esperar por isso.
Se continuarem a fazer comédias com tanta preguiça, uma hora o povo pode se cansar e combinar manifestações. Ou talvez acabe, como tudo no mundo, que muda o tempo todo como uma onda no mar.