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Crítica: Morra, Amor

Morra, Amor
Direção: Lynne Ramsay
Roteiro: Enda Walsh, Lynne Ramsay, Alice Birch
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2025
Elenco: Jennifer Lawrence, Robert Pattinson, Sissy Spacek, Nick Nolte, LaKeith Stanfield, Kennedy Calderwood, Victoria Calderwood, Gabrielle Rose.
Sinopse: Baseado no romance de Ariana Harwickz, o drama de Lynne Ramsay acompanha uma mulher que vive em uma casa isolada em uma cidade rural no interior dos Estados Unidos. Ela convive com uma condição de psicose e batalha diariamente com sua sanidade enquanto a maternidade e o casamento a enlouquecem.

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O início de “Morra, Amor”, de Lynne Ramsay, começa com diversos elementos dissonantes entre si. Por um lado, vemos uma câmera completamente parada de uma casa empoeirada, quando Grace (Jennifer Lawrence) e Jackson (Robert Pattinson) chegam até o local.

Essa câmera sai do estático e passa a ser difusa, com a direção usando ela na mão, para mostrar uma grande tensão sexual entre os dois personagens, que fazem sexo de forma animalesca. Em meio a isso, uma guitarra grita aos ouvidos do público, que também passa a ver uma floresta pegando fogo.

Ramsay invoca as diversas sensações que serão importantes para o desenvolvimento de uma narrativa justamente sobre o caos. Como acreditavam os gregos antigos, o caos é o início de tudo, uma massa uniforme. O mesmo pode ser dito da mãe que (sem fazer piadinhas com o longa de Darren Aronofsky) é aquela na qual gera a vida. Ou seja, é também o início de tudo.

Mas assim como as gerações do caos não são necessariamente positivas e podem gerar ainda mais complicações para a humanidade, o mesmo pode ser dito de uma mãe. Afinal, há toda uma pressão social para cuidar do filho e, ao mesmo tempo, lidar psicologicamente com o fato de que se gerou uma vida completamente nova – e que é de sua responsabilidade ela.

Essas digressões são trabalhadas de maneira completamente explícitas por Ramsay logo ao início de “Morra, Amor”. Há uma cena em Grace ajuda a cuidar do sogro doente enquanto está grávida, já construindo a ideia de do afeto, do cuidado enquanto uma mulher mãe. Adiante, ainda existe um diálogo que debate o quão comum é a depressão pós-parto. Não há sutilezas nessa construção da direção em momento algum.

Até mesmo por isso, a obra abarca um caminho mais explosivo concentrado dentro da personagem principal. Grace recorrentemente anda de quatro, como se fosse um animal. Não tem remorso ao atingir sem querer um bicho. E necessidade estar diretamente relacionada com seu lado mais animalesco a todo momento (ela reclama quando não realiza sexo a todo momento).

A construção dessa figura reforça uma ideia de um olhar social para essa protagonista. Ela é alguém que pode ser amável, mas ao mesmo tempo é uma mulher e que não deveria demonstrar todos os próprios defeitos e mágoas e sim escondê-los.

“Morra, Amor” faz de Grace um modelo com o objetivo de contestar uma visão patriarcal da sociedade. Ao mesmo tempo, suas atitudes consolidam um caráter também reprovável. Ela age, de certa forma, como se pairasse sobre a sociedade e não estivesse diretamente inserida nela. Por isso, suas ações são sempre pautadas no instinto e não em uma racionalidade.

Nesse sentido, o longa de Ramsay constrói uma própria crítica para si quando consolida a personagem dessa forma. Ao mesmo tempo que ela quebra todos os padrões, seu reforçamento aos mesmos é quando está mais se sentindo bem. Ou seja, ela só se sentiria mal perante ao mundo no momento em que não segue as regras sociais impostas.

Isso fica bem evidente em uma sequência na qual ela caminha com o carrinho do bebê pela estrada e é confrontada em seguida por Jackson. Ao ver ele, começa a chorar, admitindo um sentimento de culpa.

O filme possui três chaves bem claras, em uma brincadeira com o real, metafórico e lúdico. Quando combina os três elementos, em que não deixa nada evidente na forma como a personagem caminha sob esse mundo, funciona enquanto uma grande alegoria crítica bem evidente. O problema é que, na maior parte do tempo, esses “núcleos”, por assim dizer, convivem em separado. E dão pouca margem para algo maior do que apenas um reforço ao que já foi dito na sequência anterior.

Mais do que isso, o final fecha de forma coerente até a ideia de sua relação com um mundo não masculino, em que poderia conviver sob outras perspectivas pautadas pela natureza, pela criação. Ao mesmo tempo, que esse mundo se espelha no próprio caos que ela convive. Em meio a isso, ela se reforça enquanto um remorso de ter, no fim das contas, se preocupado apenas com ela.

Nota: 2 /5

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