De cima para baixo: como a câmera no teto transforma o olhar do espectador no cinema?cva
Entenda as mensagens implícitas por trás da câmera zenital, um estilo de enquadramento que capta a imagem totalmente de cima
Um filme é composto por inúmeras cenas, que por sua vez trazem enquadramentos variados. Chamamos de enquadramento a forma como a câmera está posicionada e, em suma, tudo aquilo que está sendo posto em cena. Apesar de parecer apenas um detalhe criativo, a linguagem do cinema ensina que existem significados bem mais profundos nesse aspecto.
O enquadramento ajuda o diretor a contar a história e a transmitir sensações que complementam sua narrativa. Um simples plano fechado é o suficiente para nos transmitir um sentimento de claustrofobia, enquanto o contra-plongée é comumente utilizado para escancarar a superioridade de certos personagens dentro daquela cena.
Em meio a tudo isso, temos a câmera zenital, também chamada de plongée absoluto. Neste enquadramento, tudo é filmado de cima para baixo, dando mais protagonismo para o ambiente do que para os que estão ali presentes.
Para que o plongée absoluto é utilizado?
Apesar de ser um estilo de enquadramento mais incomum, existem diversos diretores aclamados que fazem bom uso do plongée absoluto – entre eles, Stanley Kubrick, Wes Anderson e Alfred Hitchcock.
A câmera zenital costuma ficar imóvel, colocando como ponto central o protagonista daquela cena, seja uma pessoa ou o próprio ambiente. Trata-se de um enquadramento mais impessoal, em que o foco não está em apresentar o personagem, mas, sim, transmitir uma ideia específica sobre ele.
Com a câmera posicionada no teto, temos um campo de visão expandido, permitindo enxergar o personagem em um contexto menos óbvio. Geralmente, esse enquadramento transmite uma ideia de solidão ou até mesmo inferioridade, já que as pessoas postas em cena estão “pequenas” aos olhos do espectador.
Mesmo com sentimentos considerados negativos, o plongée absoluto ainda consegue ser visualmente artístico. O próprio Wes Anderson é um diretor que adora captar simetrias, independentemente do ângulo. A disposição do cenário não costuma interferir na ideia de distanciamento e desconexão provocada pelo ângulo.
Técnicas de direção
Diferentemente de outros ângulos, na maioria das vezes, o plongée absoluto não requer um cameraman por trás da lente. A câmera é instalada em um objeto como um ventilador de teto, e a partir dali capta a essência da cena de forma mais natural.
O truque do ventilador de teto, por exemplo, pode dar uma sensação única de movimento para a cena, já que é um objeto que se move em um padrão giratório. Tudo vai depender do contexto e da ideia que o diretor deseja colocar em cena, e isso varia de obra para obra.