"Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá" estreia em 10 de julho - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Cinema Nacional

“Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” estreia em 10 de julho

Chega aos cinemas no dia 10 de julho, com distribuição da Embaúba Filmes, o documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, dirigido por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna. O filme acompanha a jornada de reencontro entre Sueli Maxakali e seu pai, Luiz Kaiowá, de quem foi separada ainda bebê durante a ditadura militar.

Chega aos cinemas no dia 10 de julho, com distribuição da Embaúba Filmes, o documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, dirigido por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna. O filme acompanha a jornada de reencontro entre Sueli Maxakali e seu pai, Luiz Kaiowá, de quem foi separada ainda bebê durante a ditadura militar.

O longa lança luz sobre a violência do Estado contra os povos indígenas naquele período, capítulo da ditadura pouco retratado no cinema até então. “São memórias que o cinema nos dá uma chance de revisitar e que podem assim ser jogadas na cara do povo brasileiro de uma certa forma”, afirma o etnólogo e cineasta Roberto Romero em entrevista à Agência Brasil.

No início dos anos 1960, Luiz Kaiowá, indígena guarani kaiowá, deixou o território tradicional de Ka’aguyrusu, em Mato Grosso do Sul, em uma longa caminhada com outros parentes. Após passarem por São Paulo e Rio de Janeiro, foram levados à força até Minas Gerais por agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Luiz viveu mais de 15 anos entre os Tikmũ’ũn (Maxakali), onde teve duas filhas: Maiza e Sueli. Quando Sueli tinha apenas dois meses de idade, Luiz foi reconduzido ao Mato Grosso do Sul e nunca mais voltou. Décadas depois, graças a encontros políticos e à chegada da internet nas aldeias, Sueli localizou o pai com ajuda de duas primas, e logo depois iniciou, com apoio de aliados, a construção do filme como forma de concretizar esse reencontro.

Uma série de mensagens, telefonemas e vídeos trocados entre os protagonistas antecederam a produção. Em fevereiro de 2019, Luiz Kaiowá foi surpreendido com uma vídeo-carta de suas filhas maxakali. Só três anos depois, em 2022, é que uma delegação maxakali pode percorrer os mais de 1800 km de distância que separam a Aldeia-Escola-Floresta, em Minas Gerais, das Terras Indígenas (TIs) Panambi-Lagoa Rica, Panambizinho e Laranjeira Ñanderu, em Mato Grosso do Sul, para descobrir o paradeiro de Luiz – hoje, um dos mais importantes xamãs de seu povo.

“Foi muito emocionante, eu chorei muito. Eu queria mostrar a verdade”, conta Sueli em entrevista ao portal Feito por Elas. Com produção coletiva e imersão nas realidades de dois povos indígenas, o filme registra os preparativos na Aldeia-Escola-Floresta, onde vive Sueli, e nas aldeias guarani kaiowá, onde vivem Luiz e alguns de seus parentes. “Não é só um filme. São nossos encantados, nossos rituais, que dão a força para chegar até aqui”, resume Sueli.

“O filme se contenta com as versões, que são muito mais ricas do que qualquer tentativa frustrada de reconstituir os fatos”, comenta a diretora Luisa Lanna. “O espectador aprende a ver o filme enquanto assiste – um aprendizado que se dá pela escuta, pela duração dos planos, pelas formas de elaboração da palavra”.

Falado nas línguas maxakali, guarani kaiowá e português, o longa é atravessado pelos cantos tradicionais destes povos, enfocando também as lutas enfrentadas por eles em defesa de seus territórios e de seus modos de vida. As pesquisas e as filmagens também ocorreram nos territórios dos dois povos, contando com a participação de outros cineastas indígenas além da dupla Sueli e Isael – como Alexandre Maxakali, que atuou na fotografia do filme, e as realizadoras Michele Kaiowá e Daniela Kaiowá, responsáveis pela direção assistente e fotografia junto ao seu povo.

Comemorado em festivais e pela crítica, Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá tem se destacado como um expoente do cinema indígena contemporâneo. No 57º Festival de Cinema de Brasília, onde fez sua estreia em novembro de 2024, o longa levou o prêmio de melhor direção; já na 14ª Mostra Ecofalante de Cinema Socioambiental, em junho de 2025, recebeu menção honrosa do júri na categoria longa-metragem. Ele também foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes e no X Festival de Documentários de Cachoeira. Em sua resenha sobre o filme, o Coletivo Crítico destaca a delicadeza e a originalidade formal do longa: “A imagem é crua, precária, mas transborda afeto e um caráter enigmático que cativa e é ímã ao espectador. Um porta-retrato se constrói diante dos nossos olhos para representar toda uma história familiar”. Já o Papo de Cinema afirma que o filme “marca uma tendência positiva do cinema brasileiro recente: histórias de alto valor para os povos indígenas contadas por eles mesmos, em parceria com realizadores sensíveis ao seu tempo, espaço e ritmo”.

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