Filme bom pra Quem?
Nem todo clássico é pra todo mundo. E todo mundo tem aquele filme que ama em segredo. Eu odeio uns amados e amo uns odiados. E com certeza você também. Prepare-se pra discordar de mim. E talvez, de você mesmo.
Imagina a cena: você vai ao cinema assistir o maior sucesso dos últimos meses. Seus amigos amaram, os críticos estão babando, e o filme tá rapando todos os prêmios da temporada. O hype tá lá no teto. Aí o filme começa… e, quando termina, você solta um “Uai?! Era só isso?” Quem nunca, né? Vou te confessar uma coisa: eu tenho uma listinha — nada secreta — de filmes adorados pelo mundo, mas que pra mim… são puro exagero. Tem até clássico aí no meio. Se eu falasse tudo, acho que perderia metade dos meus amigos cinéfilos. Mas o contrário também rola! Tenho meus xodós que o povo esculacha sem dó, mas que pra mim são ouro puro. Agora imagina você numa roda de conversa soltando: “O Poderoso Chefão? Baita filme chato! Bom mesmo é Caça aos Gângsteres. Que filmaço!” (Calma, calma! É só um exemplo ilustrativo — minha lista é polêmica, mas nem tanto!). O ponto é: todo mundo tem essas birras e paixões inexplicáveis. E aí fica a pergunta que não quer calar: filme bom pra quem? Te convido a abrir o coração, assumir suas polêmicas cinematográficas, e embarcar comigo nessa reflexão.
Então deixa eu começar abrindo meu coração cinéfilo: eu não gosto de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança. Pronto, falei. E antes que alguém me jogue uma VHS na cabeça, deixa eu explicar… Reconheço: o roteiro é inventivo, a proposta é interessante. A Kate Winslet entrega uma performance incrível, e o Jim Carrey merecia, sim, uma indicação ao Oscar. Gosto tanto de analisar cinema que já cheguei a escrever num dos trocentos blogs que criei (e larguei) sobre como a cor do cabelo da personagem da Kate reflete o estado emocional dela. Ou seja, eu vejo os méritos. Mas o filme simplesmente não me pegou. Sentei esperando algo que mudasse minha vida, que trouxesse o amor sob uma nova lente, que me fizesse refletir, terminar o filme com um sorriso no rosto… ou pelo menos com esperança. Mas no fim eu só pensei: “É isso?” Esse é o tal romance do século XXI? Essa é a revolução do amor no cinema? Talvez eu não estivesse no clima. Tinha acabado de sair de um relacionamento de dois anos, e a próxima tentativa foi só um ensaio frustrado, onde eu era só figurante — esnobado e deslocado. Pode ser que o filme exigisse um coração em outra frequência. Mas a verdade é: não bateu. Já pensei em rever, mas pra ser honesto… me dá preguiça. E às vezes me sinto o próprio Estranho no Ninho (aliás, esse tá na minha lista de “filmes que vi e só pensei: sério isso?” — eu avisei que ia ser polêmico). Brilho Eterno tem 92% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes e 94% do público no mesmo site, nota 89 no Metacritic da crítica especializada e nota 8.8 no Metacritic do público, e 8.3 no IMDb. E pra mim? Nota 6. Isso não é ranço. É só uma verdade simples que todo cinéfilo precisa aceitar em algum momento: nem todo clássico nos toca — e tudo bem.
Mas o contrário também acontece. Tem um canal no YouTube, o Canal PeeWee, que diz que todo filme com “origem” no título é sinal de bomba. E é justamente um filme com “origens” no nome que eu defendo com unhas, dentes e garras de adamantium. Prontos pra bomba? Eu amo X-Men Origens: Wolverine. Sim, o mesmo filme renegado por praticamente toda a comunidade nerd: fãs de quadrinhos, dos X-Men e, claro, do Wolverine. O filme com 37% de aprovação da crítica e 58% do público no Rotten Tomatoes, nota 40 no Metacritic (crítica) e 5.4 (público), além de 6.5 no IMDb — é, esse aí mesmo. E ainda assim, é um dos meus filmes favoritos da franquia. Não tô dizendo que é “O Melhor Filme de Heróis de Todos os Tempos”, nem que supera X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, que pra mim é o auge da saga. Mas vou te dizer: me diverte muito mais que X-Men: First Class, por exemplo. Não que seja melhor enquanto obra de cinema, mas como entretenimento, como aquele filme que você coloca pra relaxar e curtir, ele ganha fácil. Eu sei que o filme tem seus problemas — o Deadpool ali é um crime cinematográfico — mas ainda assim, Wolverine Origens me diverte pra caramba. Acho, inclusive, que deviam ter dado mais espaço pro Liev Schreiber como Dentes-de-Sabre. Ele mandou bem demais. O filme me cativou, especialmente depois do desastre que foi X-Men 3: O Confronto Final. Wolverine Origens era exatamente o que eu precisava. Me diverti tanto que nem vi o tempo passar. E, diferente da decepção que senti no fim de X-Men 3, ali eu saí querendo mais, querendo outro logo. E é isso: eu amo X-Men Origens: Wolverine. E qual o problema disso?
E ainda digo mais: tem um clássico dos clássicos, unanimidade em qualquer mesa de cinéfilos, que eu simplesmente acho… qualquer coisa. Sim, estou falando de um vencedor do Oscar de Melhor Filme — não dos últimos 20 anos, mas da década de 40, uma época em que as decisões da Academia eram praticamente lei. E não, não tô falando de …E o Vento Levou, que, aliás, tá no meu top 5 da vida (apesar de muita gente achar superestimado). Tô falando de outro ícone do romance clássico: Casablanca. Isso mesmo. Eu acho Casablanca superestimado. Nesse momento, provavelmente tem gente me xingando em preto e branco, mas respira, que eu vou me explicar. Pensa comigo: você sempre foi apaixonado por cinema clássico, e dois títulos povoavam seus sonhos: …E o Vento Levou e Casablanca. Você só conhecia as cenas mais emblemáticas — a Scarlett jurando que nunca mais passaria fome, e a Ilsa pedindo pra Sam tocar As Time Goes By. Inclusive, aquela frase que todo mundo cita, “Toque novamente, Sam”, nunca foi dita no filme (o bom e velho Efeito Mandela). Aí você cresce, lá pelos 25, 27 anos, e finalmente assiste …E o Vento Levou. Quase quatro horas de filme e cada minuto vale a pena. Então pensa: “Agora só falta Casablanca.” Um dia, andando despretensiosamente pelo mercado, lá está ele: Casablanca, por R$ 9,90. Quase de graça. Na hora, comprei. Cheguei em casa empolgado, botei o DVD e me preparei pra ser transportado pra Casablanca, pra mergulhar no romance, pra me emocionar na cena de As Time Goes By. Mas… não rolou. A história é água com açúcar, o romance não me convenceu, e o Humphrey Bogart tá naquela vibe “sou sempre eu mesmo em todo filme”. Não é um filme ruim, longe disso — é um bom filme — mas eu esperava ser arrebatado, do mesmo jeito que fui com …E o Vento Levou. E aí entra o choque: um filme com 99% de aprovação da crítica, 95% do público no Rotten Tomatoes, nota 100 no Metacritic, e 8.5 no IMDb, comigo bateu um 6.5 ou 7.0. Achei bom… e só. É um filme inocente, certinho, sem grandes emoções. Eu até tentei reassistir, torcendo pra mudar de opinião, porque Casablanca sempre foi “o filme” que mais quis ver na vida. Mas é isso, né? A expectativa é a mãe da decepção. E assim, um clássico que levou 3 Oscars, incluindo Melhor Filme, entra na minha lista dos “filmes que todo mundo ama, mas eu não consigo amar de volta”.
E já que estamos falando de Oscar… bora falar de um vencedor que é praticamente o anti-queridinho dos cinéfilos? Um filme que ganhou a estatueta de Melhor Filme e, desde então, virou símbolo de injustiça na premiação. E olha, não tô falando de Shakespeare Apaixonado — esse aí eu também não suporto. Tô falando do famigerado Crash – No Limite. Sim, aquele mesmo que levou o Oscar em cima de O Segredo de Brokeback Mountain — e, desde então, virou saco de pancada. Muita gente chama de medíocre, pretensioso, didático demais. Mas, sinceramente? Eu amo esse filme. Pra começo de conversa, eu tenho um fraco por essas histórias em que personagens desconhecidos estão conectados por linhas invisíveis, por coincidências, tragédias, ou pequenos atos de humanidade. Esse tipo de narrativa sempre me pega. E Crash trata de um tema espinhoso — o preconceito — de forma, sim, didática, mas ainda assim relevante. O racismo ali não é só racial. É estrutural, social, é aquela coisa entranhada no cotidiano, até em quem acha que tá do lado certo. Não é o filme mais original da década, eu sei. A Luz é Para Todos já discutia antissemitismo em 1947, e os anos 2000 estavam cheios de histórias cruzadas: Traffic, Amores Brutos, 21 Gramas. Mas Crash me pegou. Me envolveu. As atuações me conquistaram — especialmente o Matt Dillon, e a Sandra Bullock ali, tentando fazer a transição pro cinema mais “sério”. E a cena da capa… cara, toda vez que eu vejo, eu choro. Inclusive, revi só pra escrever isso aqui. E sim: chorei. E aquele final com o policial vivido pelo Ryan Phillippe? Um tapa na cara. Eu lembro de ter pensado: “E se fosse eu no lugar dele?” É incômodo. E essa é a intenção. Tem também a cena das cinzas ao som de In the Deep — poética, melancólica, linda. Me remete àquela cena de Magnolia, com Wise Up — guardadas as proporções, claro. E logo depois vem o “pior” personagem do filme fazendo algo “bom”, e a roda da vida gira de novo com Maybe Tomorrow tocando no fundo. É isso: a vida é cíclica. Um eterno movimento entre o bem e o mal, entre queda e redenção. Todo dia alguém perde, todo dia alguém ganha. E talvez, quem sabe, amanhã as coisas sejam melhores. Por tudo isso, esse filme que tem 73% de aprovação no Rotten Tomatoes, nota 66 da crítica e 7.2 do público no Metacritic, e 7.7 no IMDb… leva de mim um 9.0 ou 9.5 sem medo de errar. Confesso que achei que as notas seriam mais baixas, mas talvez muita gente tenha revisitado Crash com outros olhos. Mesmo assim, continua longe da minha avaliação. Porque pra mim, Crash é isso: um filme que toca, que sacode, que incomoda — e que por isso, merece ser defendido.
Agora, e se eu te dissesse que acho Avatar superestimado? Pra mim, é só um Pocahontas do espaço com gráfico de videogame caro. E, ao mesmo tempo, defendo com unhas e dentes que Homem de Aço, Batman vs Superman e até a Liga da Justiça são filmes injustiçados, incompreendidos, cheios de identidade. E a lista não para por aí. Tem aqueles que o mundo ama — menos eu. Tipo: Encontros e Desencontros? Chato. Cavalo de Guerra? Superestimado. La La Land? Só vale mesmo pela cena de abertura. 2001: Uma Odisseia no Espaço? Tecnicamente impecável, mas quase dormi. E Amor Sublime Amor, o de 1961? Tão chato que nem criei coragem pra encarar o remake do Spielberg até hoje. Mas na contramão disso tudo, tem os renegados que me ganharam. Speed Racer é um espetáculo visual injustiçado pelas massas — direção afiadíssima das irmãs Wachowski. Rent é um musical que me emociona até hoje, e sim, o de palco é melhor, mas a adaptação pro cinema ainda me pegou de jeito. Thor: Mundo Sombrio? Não é a oitava maravilha do mundo, mas me divertiu horrores e acho muito melhor que o primeiro. Claro que tem muitos outros que caberiam aqui, mas se eu abrisse a porteira, esse texto virava tese de doutorado. No fim das contas, somos feitos dessas incoerências cinematográficas. Elas nos humanizam. Seja pelo impacto visual, pela trilha sonora, ou por nos pegarem num dia vulnerável — com sono atrasado, coração mole… ou duro. Às vezes amamos o que todos odeiam. Às vezes odiamos o que todo mundo reverencia. E quer saber? Tá tudo bem.
Tá tudo bem você amar um filme que ninguém suporta — e odiar outro que o mundo inteiro reverencia. Isso nos torna humanos. Imagina que tédio se todo mundo gostasse das mesmas coisas? É por isso que eu concordo demais com o bordão do canal Entre Migas: “Se funcionou pra você, você venceu!” Se você se emocionou e chorou com Dear Evan Hansen, mesmo encarando as rugas do “adolescente” Ben Platt, enquanto a internet inteira fuzilava o filme… tá tudo bem. Se O Poderoso Chefão – Parte III é o seu favorito da trilogia, como é pra mim, tá tudo bem também. Agora, se Onde os Fracos Não Têm Vez te deixa frio, mesmo com a atuação monstruosa do Javier Bardem… é isso aí: tá tudo bem. Se Os Infiltrados te parece só mais um filme de ação, sem alma, sem paixão, sem aquela faísca… tá tudo bem demais. Nenhum filme vai funcionar pra todo mundo. E não precisa. Gosto é bicho temperamental — depende da sua idade, da bagagem, do humor do dia, das cicatrizes, da vibe. A real é simples: se você gostou, você venceu. E se você não gostou? Também venceu. Porque você bancou sua visão. Você teve personalidade. E num mundo que vive tentando agradar a gregos, troianos, e até marcianos, isso é lindo de ver. É digno de aplauso. Então que tal agora abrir o coração? Manda nos comentários aqueles filmes que você ama e todo mundo detesta. Ou os que você não aguenta mais ouvir elogio e não entende o hype. Seja honesto. Seja você. Seja livre. E pra quem discordar, tudo bem. Mas que discorde com respeito — porque o debate é bom, mas a educação é o que sustenta. Bora ser feliz. Bora curtir do nosso jeito. Bora ser quem a gente é — e gostar do que a gente gosta, sem pedir desculpa por isso. Porque no fim das contas, meu amigo, o verdadeiro filme da vida é aquele em que você se assume como protagonista. E isso… isso é vencer.