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Crítica: Prédio Vazio – XXI Fantaspoa

Prédio Vazio – Ficha Técnica
Direção:
 Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2024.
Elenco: Gilda Nomacce, Rejane Arruda, Lorena Corrêa, Caio Macedo, Telma Lopes.
Sinopse: A jovem Luna parte em uma jornada em busca de sua mãe, desaparecida no último dia de Carnaval em Guarapari. Suas buscas a levam a um antigo edifício aparentemente vazio, mas habitado por almas atormentadas.

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Maternidade é sempre um bom tema a ser explorado em filmes de terror. O profundo senso de proteção materna é um espaço fértil para explorar os limites, principalmente morais, das ações humanas — até onde somos capazes de ir para proteger quem amamos?

Qualquer obra que parta de tal premissa por si só já parece nascer com carta branca para ignorar qualquer regra de plausibilidade. Em Prédio Vazio, Rodrigo Aragão ignorou todas as regras. O longa, realizado com fundos da Funcultura, foi um filme-escola feito a partir de oito oficinas de cinema, explorando diferentes áreas do fazer cinematográfico. Os jovens escolhidos, todos com “brilhos nos olhos” para o cinema, mergulharam de cabeça no projeto que seguiu uma lógica artesanal até o fim.

Usando Suspiria e a criatividade atemporal de Dario Argento como inspiração, o edifício Madalena foi uma maquete desenvolvida do zero, os cenários contaram com nuvens feitas de enchimento de almofadas e as janelas com molduras pintadas à mão. Os efeitos especiais são feitos na medida exata para nos convencer de que estamos presenciando uma história de horror que de fato se passa em um edifício abandonado, ao mesmo tempo que ainda mantém uma artificialidade reconhecível, tão especial e essencial para o longa.

Em um mundo onde até os filmes de gênero têm perseguido de maneira incessante o realismo, Aragão encontra beleza na luz artificial que invade os cômodos do Madalena, no improvável elevador vermelho que leva os personagens para a armadilha, no sol dourado que doi os olhos e deseja boas-vindas ao jovem casal que não sabe o que lhes aguarda, nos pequenos detalhes, o filme parece gritar que existe cinema sendo feito ali — e ainda bem que sim.

No longa, acompanhamos a história de vários personagens que têm suas vidas cruzadas em Guarapari. Entre vivos e mortos, duas mães e duas filhas atormentadas pelos seus próprios demônios precisam reencontrar a si mesmas. Uma vez que isso acontece, portas serão fechadas e ciclos de violência são quebrados. Dos primeiros dez minutos inteiros — e aterrorizantes — sem qualquer diálogo, até o final melodramático de uma mãe que protege e enfim liberta a filha, Prédio Vazio é cômico e perturbador, tudo ao mesmo tempo, e com uma maturidade irretocável.

A limitação de orçamento, por sua vez, permite que o filme explore artifícios simples de maneira inteligente para a narrativa, como o leitmotiv, o filtro em preto e branco a fim de caracterizar diferentes linhas temporais e as distorções da imagem causadas pela superfície de diferentes objetos, tudo é aproveitado ao máximo. Até mesmo os planos holandeses, fadados a indicar a instabilidade dos ambientes e das relações, além da inadequação dos personagens, são utilizados de maneira econômica e, por essa razão, bastante efetiva no filme.

Sobre gênero, acho importante apontar como a direção nos poupa do embate físico do casal em um determinado momento a fim de não expor a imagem de uma mulher que apanha. Também me agrada a maneira como subverte os papéis de gênero na figura do personagem de Caio Macedo que, com sua sensibilidade, contrasta com o forte protagonismo feminino de Gilda Nomacce, Rejane Macedo e Lorena Corrêa, que o filme possui.

Por fim, acredito que Prédio Vazio é um filme de artesão, daqueles que se dá bem com o cinema e, em especial, o cinema de horror. Seu longa-metragem não se esquiva do artificial, do grotesco, do cômico e, também, do amor, o que é libertador no cinema e inspirador para os jovens cineastas que puderam aprender nesse set. Em um país onde as pessoas ainda pensam que o gênero morreu com José Mojica, Aragão leva adiante o que aprendeu com o mestre e continua a dançar a difícil dança do “fazer cinema” no Brasil.

Nota: 3,5 /5

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