Crítica: Os Enforcados – 48ª Mostra de São Paulo
Os Enforcados – Ficha técnica:
Direção: Fernando Coimbra
Roteiro: Fernando Coimbra
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2024
Elenco: Leandra Leal, Irandhir Santos, Thiago Thomé, Pêpê Rapazote, Ernani Moraes, Augusto Madeira, Ricardo Bittencourt.
Sinopse: Em um Rio de Janeiro tomado pelo crime, o casal Valério e Regina se vê envolvido em dívidas e traições herdadas da família de Valério. Uma noite, eles encontram o plano perfeito.
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Em Os Enforcados, Fernando Coimbra (O Lobo Atrás da Porta) se junta a Leandra Leal novamente para falar do universo dos bicheiros e a corrupção que toma conta desse cenário. É um filme onde a violência está presente a cada instante, mas longe de ser uma narrativa que foca na dor desse universo, o diretor resolve contar a sua história através da comédia, em um filme cheio de sarcasmo que traz referências aos absurdos que o brasileiro viveu nos últimos anos.
A comédia aqui ridiculariza o rico, o patético de quem está lá em cima da pirâmide social. A futilidade da vida de quem oprime as classes trabalhadoras – normalmente o alvo das piadas. O filme sabe bem quem é seu público-alvo e tem ciência sobre quem quer transformar em piada.
Aqui temos Regina e Valerio, um casal feliz e apaixonado que só deseja se divertir e aproveitar a fortuna que ambos possuem. Só que Valerio trabalha para o jogo do bicho, não está entre os cabeças e, por isso mesmo, ainda é muito inocente com relação ao que acontece nesse universo. Um dia ele percebe uma queda brusca de dinheiro e resolve sair do negócio. É quando as coisas se desequilibram, e Valerio que não queria ser um grande criminoso acaba se tornando o novo chefe do crime do Rio de Janeiro. E se torna dos mais implacáveis.
A partir desse momento o filme se torna uma completa comédia de erros. Tudo vai saindo do controle e se tornando mais e mais absurdo. E isso se dá nas construções imagéticas do filme. Fernando Coimbra é um diretor competente e a composição de cada plano é pensada, cada detalhe do design de produção também. O casal antes unido e feliz era representado pela casa linda, em reforma para ficar ainda mais bonita. Só que quando tudo vai se desmoronando dentro da união, a casa começa a se tornar uma bagunça também.
Aqui a violência tem ares cômicos e o filme vai se construindo em um crescendo que vai fazendo com que tudo se torne mais e mais sem controle.
O elenco está espetacular. Leandra Leal brilha como a esposa troféu burra que no fim surpreende e traz ares de Lady Macbeth, manipulando tudo e todos ao seu redor. É fascinante ver a entrega de Leandra a essa mulher branca, privilegiada e que representa uma fatia desprezível do nosso país. Ainda assim é uma mulher que sofre violência de quem deveria estar ao seu lado, o que torna impossível não sentir certo tipo de satisfação ao vê-la se vingar de quem a violenta.
Os Enforcados é um filme cativante e gostoso de assistir, com um elenco afiado e que se entrega aos personagens. Uma grande sátira do universo dos bicheiros no Rio de Janeiro. Só que é uma obra que não se aprofunda nas complexidades desse universo, nas relações de gênero e raça que são tão importantes dentro desse universo. É um filme que não faz questão de trazer certos julgamentos morais, mesmo que com a piada esteja fazendo uma crítica. É hilário, mas não necessariamente profundo. É também não quer ser.