Crítica: Sol de Inverno - 48ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Sol de Inverno – 48ª Mostra de São Paulo

Sol de Inverno – Ficha técnica:
Direção: Hiroshi Okuyama
Roteiro: Hiroshi Okuyama
Nacionalidade e Lançamento: Japão, 2024
Elenco: Sōsuke Ikematsu, Keitatsu Koshiyama, Kiara Nakanishi.
Sinopse: Em uma pequena ilha japonesa, a vida gira em torno das mudanças das estações. O inverno é época de hóquei no gelo na escola, mas Takuya não demonstra muita animação com isso. O verdadeiro interesse do garoto está em Sakura, uma estrela em ascensão da patinação artística de Tóquio, por quem ele desenvolve um fascínio genuíno. Arakawa, treinador e ex-campeão da modalidade, vê potencial em Takuya e decide orientá-lo para formar uma dupla com Sakura para uma competição que acontecerá em breve.

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Para nós, brasileiros, assistir ao filme Sol de Inverno é se deparar com a diferença. Apesar de cada uma das cinco regiões do nosso país trazer características diferentes, em geral, somos considerados uma nação bastante calorosa e expansiva. No Japão, culturalmente, as pessoas já são mais quietas e introspectivas. E é isso que vemos em Sol de Inverno. 

Aqui temos Takuya, um menino que pratica hóquei, mas não se empolga nem é muito bom no esporte. Um dia ele assiste a jovem Sakura patinando no gelo e fica encantado com a menina e com os movimentos que ela faz. Com a ajuda do treinador Arakuwa ele começa a praticar a atividade. O professor há muito não sente prazer no ensino, mas ao perceber o talento de Takuya volta a sentir prazer com o que faz. E chega ao ponto de incentivar o jovem patinador a se tornar dupla com a talentosa Sakura. 

Uma das coisas mais interessantes em Sol de Inverno é como ele é um filme que quebra com as nossas expectativas ocidentais. Com muita sensibilidade e uma delicadeza que nunca se perde, o longa mesmo em seus momentos mais tensos é sutil. Logo de cara esperei que o protagonista fosse sofrer bullying por trocar o esporte que é considerado masculino por outro que se associa a delicadeza feminina, mas em nenhum momento isso veio. O melhor amigo apoia sua escolha, sua família também fica ao seu lado e todas as expectativas ocidentais de narrativa são quebradas. 

Os diálogos são poucos e os sentimentos dos personagens são menos focados no texto e são representados muito mais nas imagens. É um filme que segue praticamente sem conflito. Não existem obstáculos, mas isso nunca é negativo. O filme abraça seus personagens, inclusive nas suas falhas, de uma maneira que chega ao espectador. É quase um alento assistir a algo tão leve e com tanta doçura. E talvez seja por isso que as resoluções do final soem pouco satisfatórias e acabem incomodando tanto, já que poderiam ser bem mais desenvolvidas. 

O único conflito chega no final do longa, pontual, e com capacidade de destruir tudo o que foi construído durante os minutos anteriores da trama. A homossexualidade do professor que aparece de forma distanciada e sutil. A homofobia da comunidade que o cerca também. Tudo é trabalhado sem muita profundidade. Às vezes parecendo até como algo vergonhoso e que não precisa ser aprofundado. Se em dois terços de Sol de Inverno sua sutileza é para ser celebrada, a sutileza com quem trabalha algo tão sério como a homofobia soa agridoce e incômoda. E compromete o resultado de um filme tão lindo e acolhedor.

  • Nota
3.5

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