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Eu Cinéfilo #75: Terrifier 3

Terrifier 3 continua a saga de Art, o Palhaço, e eleva a violência e o absurdo a níveis que desafiam os padrões do cinema de horror atual. Damien Leone retorna na direção com uma confiança quase brutal, que é, ao mesmo tempo, impressionante e perturbadora, e que mantém o filme fiel ao seu estilo exagerado e cruel. A trama se desenvolve imediatamente após o insano desfecho de Terrifier 2, onde Victoria (Samantha Scaffidi) deu à luz a cabeça de Art, um momento que deixou todos atônitos e que o terceiro filme não se preocupa em explicar. Afinal, lógica nunca foi uma prioridade nessa franquia – o que, para o público dessa obra, é um ponto positivo.

Dessa vez, Art invade até o Natal, tornando o feriado um cenário de pesadelo sangrento. A narrativa gira em torno de Sienna (Lauren LaVera), que tenta superar o horror de seu último encontro com Art, agora vivendo com sua tia Jessica (Margaret Ann Florence). Embora o filme esboce uma abordagem dos traumas emocionais resultantes do massacre anterior, fica claro que o foco nunca esteve no desenvolvimento de personagens. Aqui, o enredo é apenas um fio condutor para o espetáculo grotesco de mortes cada vez mais criativas – e Terrifier 3 não decepciona em satisfazer os fãs do gore explícito e do horror visceral.

Os efeitos práticos em Terrifier 3 são um dos grandes destaques e merecem uma menção especial. Ao invés de recorrer ao CGI, o diretor Damien Leone – que também é maquiador e especialista em efeitos práticos – optou por uma abordagem artesanal e visceral, aumentando o realismo grotesco das cenas de morte. Essa escolha confere uma autenticidade perturbadora às cenas mais intensas, com sangue, mutilações e feridas exibidas em detalhes, o que pode deixar público com uma sensação desconfortável e, ao mesmo tempo, fascinada pela técnica. A combinação de maquiagem e próteses é tão crua que torna a violência mais tangível, e a dedicação aos efeitos práticos faz toda a diferença, destacando o filme em um mercado saturado por efeitos digitais e trazendo de volta a brutalidade realista dos filmes de horror clássicos.

A produção vai além do choque pelo choque, e os efeitos práticos elevam o jogo a um nível raramente visto. A maestria artesanal de Damien Leone, transforma a tela em um palco sangrento onde o terror é visceral e quase palpável. Há uma beleza brutal na forma como ele constrói cada cena, como se cada ferida e cada gota de sangue fossem uma obra de arte sinistra. A escolha de efeitos práticos não é só uma questão estética; é uma afirmação. Cada corte, cada membro decepado, cada expressão de dor genuína dos personagens nos lembra de que o horror pode ser cru e genuíno – e que, por mais perturbador que seja, estamos fascinados por ele.

David Howard Thornton volta a roubar a cena com uma performance intensa e hipnotizante como Art, o Palhaço, transformando-o em uma figura que mistura humor físico e terror de uma forma rara de se ver no gênero. Ele brinca com suas vítimas e usa decorações natalinas como armas, em cenas que vão de enforcamentos com guirlandas a esfaqueamentos com ornamentos de Natal. A violência é orquestrada com sadismo e criatividade, num show de brutalidade que poucos filmes de terror ousariam retratar. Quando o longa vai além dos limites convencionais e insere até mesmo mortes infantis, fica claro que Terrifier 3 se compromete totalmente com sua proposta de explorar o horror em sua forma mais crua e implacável.

Art, é um vilão como poucos, Thornton transforma sua atuação em uma coreografia macabra onde humor e horror encontram um equilíbrio perfeito. A ironia sádica com que ele brinca com as vítimas, cria um contraste entre o grotesco e o lúdico, que torna cada cena ainda mais impactante. Há algo inquietante na forma como ele conduz a violência, quase como uma performance de humor ácido no limite do insuportável. E mesmo nas cenas mais extremas, onde o filme poderia facilmente se perder no exagero gratuito, Thornton mantém o equilíbrio entre o horror e o humor, nos lembrando de que estamos no território de um pesadelo onde não há salvação – e onde a violência não só assusta, mas também hipnotiza.

Para quem busca uma trama coesa e personagens complexos, é melhor procurar em outro lugar – mas essa nunca foi a intenção de Terrifier. O filme cumpre exatamente o que promete: violência descontrolada e uma atmosfera de pesadelo que deixa o público na ponta do sofá. Nesse sentido, Terrifier 3 é um triunfo. Ele abraça a insanidade de Art, oferecendo mortes elaboradas, sangue em abundância e uma experiência que ultrapassa o esperado, criando algo quase teatral no seu comprometimento com o horror.

Em resumo, Terrifier 3 pode não ser para todos, mas para os fãs de horror extremo e do estilo grotesco e irreverente de Art, é uma experiência sem igual. Ele estende os limites do que o terror pode apresentar e nos deixa com uma questão: até onde Damien Leone pode levar essa saga? A resposta, qualquer que seja, certamente será acompanhada de perto pelos fãs – estômago preparado e curiosidade mórbida à flor da pele.

Texto escrito por: Sérgio Zansk

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