Crítica: É Assim que Acaba
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Crítica: É Assim que Acaba

“É Assim que Acaba” chega aos cinemas como uma adaptação do best-seller de Colleen Hoover, trazendo à tela a história de Lily Bloom (Blake Lively) e sua jornada de redescoberta emocional. Dirigido por Justin Baldoni, que também interpreta o príncipe encantado Ryle, o filme caminha entre a leveza do romance e a dureza das marcas do passado. A narrativa nos envolve num conto de fadas moderno, mas logo revela a complexidade de seus personagens e as dores que carregam.

A princípio, “É Assim que Acaba” parece apostar em clichês de comédia romântica: encontros improváveis, um par perfeito e uma protagonista em busca de recomeço. Entretanto, o longa faz uma virada ousada ao explorar um tema sério como a violência doméstica. Aqui, Baldoni e sua roteirista, Christy Hall, optam por mostrar como relações abusivas podem ser sutis, e como o perigo nem sempre é explícito. A ideia é importante: desconstruir o conceito de violência como algo apenas físico e extremo. O problema é que essa abordagem carece de sutileza no filme.

O que poderia ser uma análise profunda das relações humanas acaba se perdendo na artificialidade dos diálogos e em algumas coincidências forçadas. O tom do filme transita entre a estética plastificada de um romance metalinguístico e os momentos de dor que assombram Lily, trazendo flashbacks de seu passado e uma crescente tensão no relacionamento com Ryle. Essa oscilação, no entanto, dilui o impacto da mensagem, tornando a narrativa menos orgânica e deixando uma sensação ao público de algo já desenhado e esperado.

A mudança do final em relação ao livro também gera controvérsias. No livro, Hoover oferece uma visão mais realista e amarga sobre a relação entre Lily e seu ex-marido. Já no filme, a escolha de afastar a filha do convívio com o pai, sem espaço para o dilema da guarda compartilhada, acaba por simplificar o debate. A consequência disso é um desfecho que, embora possa ser lido como uma tragédia moderna, deixa pontas soltas e se distancia de uma verdadeira transformação para a protagonista.

Blake Lively se destaca ao conduzir a complexidade de Lily, mas Baldoni, ao viver Ryle, peca por uma atuação caricata em alguns momentos, o que faz com que a gravidade da questão se misture ao tom leve do início do filme. A direção, por sua vez, usa artifícios visuais que nem sempre conseguem sustentar a ambiguidade que a narrativa exige, transformando o longa em um jogo de “será que isso aconteceu?” que nem sempre funciona.

“É Assim que Acaba” tenta ser um espelho das contradições humanas e das feridas que carregamos, mas acaba tropeçando na sua própria ambição. Ao tentar agradar tanto os fãs do livro quanto um público novo, o filme se vê dividido entre um romance esperançoso e uma narrativa que deveria expor a dor e as consequências da violência. A obra tem seu valor e é um convite à reflexão sobre as complexidades do amor, do trauma e da superação, mas, no fim das contas, fica a sensação de que a história poderia ter florescido mais se tivesse encontrado um equilíbrio melhor entre a leveza e a profundidade que pretende abordar.

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