Crítica: Anatomia de Uma Queda - 47ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Anatomia de Uma Queda – 47ª Mostra de São Paulo

Direção: Justine Triet
Roteiro: Justine Triet, Arthur Harari
Elenco: Sandra Hüller, Swann Arlaud, Milo Machado–Graner, Antoine Reinartz, Saadia Bentaïeb, Jehnny Beth, Samuel Theis, Camille Rutherford, Anne Rotger, Sophie Fillières, Arthur Harari, Pierre–François Garel, Savannah Rol.
Sinopse: Uma mulher que vive um casamento em crise tem que lidar com o peso de uma acusação de algo que ela pode ou não ter cometido contra o seu marido.

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A tal “anatomia” do título é sobre “a queda” ao mesmo tempo que não é. Justine Triet constrói um filme de observações, de investigação, mas não da “morte” e do registro realista que encena ao tratar do processo que busca saber o que de fato aconteceu, das atenções midiáticas que isso atrai e da protagonista entre ser acusada e inocentada.

Na realidade tudo isso só está lá para acompanhar o verdadeiro interesse de uma “anatomia”: do desconforto de toda essa situação e dos seus envolvidos. O desconforto prévio e o desconforto do momento. Desde o começo com a música alta, a câmera fechada (parada e apostando em movimentações suaves) nos rostos durante as conversas, as composições rigorosas que se fundem com uma filmagem livre, cheia de zooms e trocas de foco, a câmera subjetiva, as trocas de gravação para registrar os fatos, os planos detalhes de rostos, dos objetos da casa, tudo isso sendo paralelamente exibido na montagem, os sons que são só vistos mas não são ouvidos, o pequeno Daniel minúsculo diante do tribunal, a câmera atrás dele enquanto ele toma banho ou se aproximando dele enquanto ele toca momento.

A todo momento o desconforto em simplesmente existir e estar vivenciando aquilo reina junto com esse mesmo peso do que já aconteceu seja na dificuldade sempre pontuada em você ter que falar uma língua que você não domina, num momento como uma discussão pesada entre um casal ou uma cena envolvendo um cachorro. Tudo transmite uma variedade de sentimentos ruins em volta do que aconteceu e do que está acontecendo. 

A paz é uma possibilidade distante, mas que talvez vejamos alguma chance disso no final. Dando voz e expressão a esse desconforto, a excelente Sandra Hüller se destaca numa belíssima interpretação acompanhada pela direção forte de Triet e de um texto carregado de uma sútil e pontual tragicomédia e uma secura dramática para somar esses graus fortes de embates e dores dos seus personagens.

  • Nota
4

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