Crítica: Dinheiro Fácil - 47ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Dinheiro Fácil – 47ª Mostra de São Paulo

Dinheiro Fácil
Direção: Craig Gillepsie
Roteiro: Lauren Schuker Blum, Rebecca Angelo, Ben Mezrich
Elenco:  Paul Dano, Pete Davidson, Vincent D’Onofrio, America Ferrera, Nick Offerman, Myha’la Herrold, Seth Rogen, Anthony Ramos, Sebastian Stan, Shailene Woodley, Dane DeHaan.
Sinopse: Acompanha o caos em Wall Street após as ações da GameStop dispararem devido a um movimento organizado por pequenos investidores no fórum WallStreetBets, do Reddit, causando bilhões em perdas para grandes fundos de investimento.

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É difícil assistir a Dinheiro Fácil e não pensar em A Grande Aposta. O filme, do mesmo diretor de “Cruella” e “Eu, Tonya”, tem montagem ágil e situações irônicas, além de tratar de questões que envolvem o mercado financeiro e criticar os bilionários que estão e estarão sempre no topo da pirâmide.

Mas é claro que há diferenças. “Dinheiro Fácil” é menos ácido e até menos agressivo contra os poderosos do mercado financeiro. Com o carisma de ótimos atores voltados à comédia, com destaque para Paul Dano, o filme acompanha personagens de cantos diferentes que estão envolvidos de alguma forma na compra e venda de ações da empresa GameStop.

O caso aconteceu recentemente: em 2021, um grupo de pessoas comuns (pequenos investidores) começou a comprar ações da rede de lojas de vídeo game nos Estados Unidos, segurando a venda das ações como forma de “peitar” os bilionários, que apostavam na queda destas, já que a empresa seguia em amplo declínio, mas viram o oposto acontecer.

Quem organizava e incentivava a compra de ações era Keith Gill (Dano), que utilizava o nome Roaring Kitty (Gatinho Feroz) nos fóruns do Reddit, comunidade em que o uso de memes e gifs (incluindo muitos felinos) era a norma.

Ao longo do filme, o uso de termos do mercado financeiro ocorre em profusão: short squeeze, vendas a descoberto e volatilidade estão entre as palavras que podem gerar alguma confusão no espectador pouco letrado no assunto. No entanto, o filme é didático o suficiente para evidenciar quem está ganhando e quem está perdendo na “batalha”.

Fica evidente, portanto, que a compra e venda de ações ocorre como um sistema de apostas, e que o lucro alcançado por pessoas pobres (cujas contas bancárias aparecem em letreiros no início da projeção) precisa ser “sacrificado” para que eles continuem incomodando os donos dos fundos de investimento.

A representação dos bilionários gera, é claro, o incômodo que deveria gerar: em plena pandemia, os personagens de Seth Rogen e Nick Offerman não colocam máscara uma única vez (rodeados de funcionários que as vestem) e ainda dão festas em casa.

O que temos, a partir de então, é uma corrida contra o tempo que intriga o espectador a respeito do que vem a seguir, e creio que isso ocorra até mesmo para aqueles que acompanharam as notícias na época. “Dinheiro Fácil” consegue deixar claro que os bilionários continuam com o poder que possuem – mesmo o que perde tudo e precisa de uma ajuda do parceiro mais poderoso – ainda que mostre como é possível que alguém consiga resultados positivos ao investir na bolsa.

De forma inteligente e natural, o roteiro coloca personagens “de fora” em diferentes momentos como interlocutores para o público compreender o que se passa. A entrevista dos fundadores da empresa Robin Hood (bem caracterizados como os típicos jovens ‘startupeiros’ descolados) funciona bem para apontar o “problema” de a empresa não cobrar taxas dos usuários. O irmão de Keith e o amigo de Jenny (America Ferrera) também servem bem como pontos de apoio para diálogos necessários.

O filme mantém o nível dos filmes anteriores de Gillepsie, que já havia provado ser capaz de fazer boas comédias sobre assuntos sérios com “Eu, Tonya”, e consegue reunir no filme todas as questões que envolvem o acontecimento sem que necessariamente os julgue – e aqui cabe apontar a boa escolha de Seth Rogen, cujo carisma nos impede de odiá-lo, ainda que sua (pequena) queda traga alguma satisfação.

Talvez um dos personagens mais simbólicos do filme seja Marcos (Anthony Ramos), que trabalha na loja da Game Stop e ainda investe em suas ações. Ao final, ele obtém uma boa vantagem com a valorização da empresa, mas sua realidade continua mesma: ele segue sendo um funcionário assalariado. Assim como todos nós.

Dinheiro Fácil tem como produtores os gêmeos Winklevoss, investidores em criptomoedas. É um produto da Sony. Ao comprar o ingresso para ver o filme, você contribui para que os bilionários fiquem mais ricos, enquanto assiste a um filme que denuncia a realidade desse mesmo grupo de pessoas. Paradoxos do nosso mundo.

  • Nota
3

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