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Crítica: Fale Comigo

Ficha técnica – Fale Comigo:
Direção: Danny Philippou, Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou, Bill Hinzman, Daley Pearson
Elenco: Ari McCarthy, Hamish Phillips, Kit Erhart-Bruce, Sarah Brokensha, Jayden Davison, Sunny Johnson.
Sinopse: Um grupo de amigos descobre uma mão embalsamada que lhes permite conjurar espíritos. Viciado na emoção, um deles vai longe demais e abre a porta para o mundo espiritual.

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Com bastante respeito pelos seus personagens e pela dor que eles carregam, Fale Comigo, novo lançamento da A24, vai usar o horror para falar sobre o luto. O longa australiano, dirigido por Michael e Danny Philippou traz uma premissa que não é necessariamente inovadora, mas mostra que até mais importante do que o que se conta, é como se conta. 

Como já vimos em outras obras do gênero, aqui temos um grupo de amigos que se reúne para participar de um tipo de ritual macabro para incorporar espíritos. Tudo sempre filmando tudo e colocando na internet. Só que o filme não cai no óbvio de problematizar a lógica vigente de tudo hoje em dia estar nas redes. O longa se preocupa mais em falar do sofrimento dos envolvidos e em como cada um lida com seus próprios fantasmas. 

Mia é a protagonista de tudo. Uma adolescente não muito popular, ela lida com a morte de sua mãe, que tirou a própria vida. Com um relacionamento distante com o pai que ainda sofre pela perda da esposa, a jovem procura afeto desesperadamente. Ela tenta fazer mais amigos, mas a maioria das pessoas não se interessa por ela. Até sua melhor amiga parece pouco preocupada com a dor e necessidade de carinho que ela tem. E é em busca de aceitação que Mia acaba gostando um pouco demais do ritual de incorporar espíritos. E isso pouco a pouco vai acabando com seu psicológico e emocional. E sua obsessão coloca não apenas ela em perigo, mas todos que a cercam.

A personagem faz inúmeras escolhas erradas que fazem o público se revirar na cadeira por estar claro que resultarão em algo ruim, mas o filme apesar de violento tem empatia por ela. A interpretação de Sophia Wilde traz em cada momento a dor latente do luto, junto com a confusão e o desespero que vão tomando conta da sua personagem. 

Fale Comigo é desses filmes que te deixa nervoso do início ao fim. Desde sua primeira cena a obra entrega que não vai ser piedosa. É cruel e brutal com seus personagens, fazendo com que eles encarem as consequências das suas ações. Também cria desconforto em boa parte dos momentos, até mesmo nas aparições dos espíritos, que são feios e estão em estado de decomposição. 

Fale Comigo não é completamente surpreendente, traz alguns elementos que já foram vistos antes, mas é um longa que pega o espectador, com um bom ritmo e uma criação de tensão e desespero constante. Poderia ser mais um filme esquecível, dentre tantos lançados semanalmente, mas é uma obra que usa muito bem elementos atuais para falar de traumas e dores. Ele te pega, te deixa mal e ainda te faz pensar.

  • Nota
4

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