Crítica: Indiana Jones e a Relíquia do Destino – Festival de Cannes 2023
Indiana Jones e o Chamado do Destino – Ficha técnica:
Direção: James Mangold
Roteiro: Jez Butterworth, John-Henry Butterworth
Nacionalidade e Lançamento: EUA, 2023 – 30 de Junho de 2023
Sinopse: O renomado arqueólogo aventureiro Indiana Jones parte em mais uma missão inesperada. O lendário herói encontra-se em uma nova fase de sua vida, à beira da aposentadoria. Ele enfrenta dificuldades para se adaptar a um mundo que parece ter evoluído além dele. Contudo, quando um mal muito familiar ressurge na forma de um antigo rival, Indiana Jones é compelido a vestir seu chapéu e empunhar seu chicote mais uma vez, a fim de garantir que um antigo e poderoso artefato não caia nas mãos erradas.
Elenco: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Mads Mikkelsen, Boyd Holbrook, Antonio Banderas, John Rhys-Davies, Toby Jones e Thomas Kretschmann
Depois de Matrix Ressurections e Top Gun: Maverick reviverem os personagens mais marcantes de Keanu Reeves e Tom Cruise, foi a vez de Indiana Jones dar a Harrison Ford o que provavelmente será um adeus para seu papel como Indy, quinze anos depois do último filme. Clássico absoluto do Cinema, a franquia Indiana Jones deve parte do seu sucesso à Steven Spielberg, é claro, mas devo dizer que a falta do diretor foi bem menos sentida nessa sequência do que eu achei que seria – o que só confirma que Indiana Jones sempre foi sobre o carisma de Ford, agora traduzido por Mangold em tela sem grandes dificuldades.
A história começa com uma sequência de ação de tirar o fôlego em um trem em movimento ocupado por nazistas e pelo vilão, Jürgen Voller, interpretado por Mads Mikkelsen. A premissa de Chamado do Destino irá girar em torno da disputa por um objeto feito pelo matemático Arquimedes, que tem a capacidade de funcionar como uma máquina do tempo, transformando quem o possui em uma espécie de “deus” capaz de reescrever a História do mundo. Ao longo dessa história, três pessoas irão entrar em conflito pelo mesmo objeto: Jurgen, Indy e Helena Shaw, a afilhada que se revela uma vigarista, interpretada por Phoebe Waller-Bridge.
O tema “nazismo” continua presente, claro, assim como a música inconfundível e nostálgica e os famosos mapas que irão apontar o próximo destino da aventura. Porém, o que temos nessa sequência é muito mais do que mais uma história da franquia: é um adeus definitivo. E, nesse sentido, fica claro que incorporar a passagem do tempo ao filme, para Mangold, era uma prioridade na construção dessa despedida. Tanto para o Cinema, quanto para a história da franquia, é essencial que as pessoas entendam que o tempo passa e tentar rejeitar isso, como o próprio diretor reconheceu em entrevistas posteriores, seria a pior escolha que ele poderia fazer.
Logo na primeira cena após o frenesi do trem, o filme corta para o apartamento onde Indy começa um dia tranquilo, vivendo sossegadamente em seu apartamento: apenas um senhor comum que trabalha como professor em uma universidade, possui seus conflitos com vizinhos e está passando por um divórcio. O herói de toda uma geração, quinze anos depois, segue uma rotina nada gloriosa, muito pelo contrário, absolutamente ordinária – até ser “chamado pelo destino”, rumo a sua última missão.
Para esta, acredito que Ford não tinha uma companheira melhor que Phoebe Waller-Bridge. O humor que a estrela de Fleabag traz para o filme condiz com a diversão que a franquia proporciona e mesmo seu texto mais irônico e sarcástico transmite maior maturidade no humor desse filme que alguns anteriores, o que também é totalmente condizente com o estilo da atriz. Em sua segunda exibição mundial, foi uma cena com ela que fez a sala inteira do Grand Theatre Lumiere aplaudir e sorrir ao mesmo tempo, consagrando pra mim, ainda mais, o que todos sabemos: Phoebe é uma grandes estrelas dessa nova geração.
Com eles, viajamos no tempo, direto para Roma Antiga, ficamos apreensivos a cada dez minutos, damos risadas e nos encantamos, uma última vez, com as habilidades de Indiana Jones, durante quase três horas. É difícil dizer tchau aos nossos heróis, assim como para os atores que uma vez os interpretaram, pois a despedida significa a passagem inevitável do tempo, sempre muito dolorosa. Mas, ao mesmo tempo, o tchau agridoce a Tom Cruise em Top Gun e a Keanu Reeves em Matrix, é similar ao adeus à Ford de Indiana Jones: não há espaço para tristeza, apenas para agradecimentos. Em todos esses encerramentos, existe um senso de missão cumprida que por mais que nossos corações fiquem apertados, ainda há espaço para o alívio – o que a última cena, para sempre marcada em mim, permite sentir.