Greve dos Roteiristas de Hollywood: Motivos e Impactos
Cinema Mundial

Greve dos Roteiristas de Hollywood: Motivos, Demandas e Impactos

Na terça-feira, dia 09 de maio, completou uma semana da greve dos roteiristas de Hollywood. A falta de acordo entre a WGA, que é o sindicato dos roteiristas, e a AMPTP, que é a aliança de produtores de cinema e televisão (e que representa Netflix, Amazon, Apple, Disney, Warner Bros. Discovery, Sony, Paramount e NBCUniversal) foi o que fez a paralisação acontecer. 

No dia 1° de maio o contrato trabalhista do WGA com a AMPTP se encerrou. E as negociações de um novo contrato para a categoria dos roteiristas não foi acordado. 

Os roteiristas lutam por melhores condições de trabalho. Durante a última década o número de episódios dos seriados diminuiu. Antes, existiam temporadas de 22 episódios, atualmente temos uma maioria massiva de séries com no máximo 10 episódios por temporada. E com isso os roteiristas ganham bem menos. 

Mas não fica só nisso. Anos atrás, as séries e filmes eram licenciadas para serem reexibidas na televisão ou vendidas num DVD/Blu-ray. E o roteirista tinha direito a receber um valor. Na última década os streamings cresceram bastante e a distribuição para TV e mídia física quase não existe mais. Enquanto nas plataformas de streaming existem diversas produções que geram lucro por anos e anos, uma renda que não chega para os roteiristas. 

A WGA propôs à AMPTP que para esses filmes e séries que ficam gerando lucro dentro das plataformas, poderia se instituir uma taxa para os roteiristas levando em consideração o número de assinantes do serviço de streaming, juntamente com a quantidade de pessoas que assistiram a uma determinada produção. A AMPTP não concordou, não se deu nem ao trabalho de enviar uma contraproposta.

Imagem do protesto de roteiristas na Disney

É importante frisar que a maioria dos serviços de streaming não costuma divulgar o número completo de pessoas que assistiram aos filmes e séries, e para que essa taxa pedida pelo sindicato dos roteiristas pudesse existir, as plataformas teriam que começar a divulgar esses dados. Algo que não desejam fazer. 

A WGA também pede o fim das mini-salas de roteiristas, prática comum entre os estúdios, onde eles reúnem um grupo de escritores para concluir um roteiro e eles são dispensados logo depois. O sindicato pede que os roteiristas tenham contratos com a garantia de pelo menos 10 semanas de trabalho. 

Outra demanda da associação diz respeito às inteligências artificiais. Eles desejam a regulamentação das IAs e de ferramentas como o ChatGPT. A WGA pediu que as inteligências artificiais não sejam usadas como material base, nem para escrever ou reescrever roteiros. Podem, porém, ser utilizadas como material de pesquisa. 

Como os pedidos da WGA não foram atendidos pela AMPTP e eles não fizeram nenhuma contraproposta, os roteiristas entraram em greve, sendo apoiados pelos sindicatos de várias outras categorias. 

A última greve dos roteiristas aconteceu entre 2007 e 2008 e durou 100 dias. E nesse período muitos programas e séries de TV foram prejudicados. 

Atualmente, com a dominação dos streamings a coisa se modifica um pouco, já que nessas plataformas as pessoas assistem o que querem, quando querem. Então não precisam se preocupar em passar reprises no lugar das séries paralisadas. Ainda assim, muitos programas, séries e filmes têm sido prejudicados e enquanto a greve continuar maiores serão os prejuízos. Só que a greve não vai terminar enquanto não existir um acordo, coisa que os roteiristas desejam, mas a AMPTP não tem se esforçado para fazer. 

Logo de cara já foram impactados os late shows e os morning shows sendo paralisados, já que precisam de roteiros diários ou semanais. 

Em seguida as produções de série começaram a ser afetadas. Na lógica atual poucas são as séries que vão ao ar sem estarem com as temporadas completamente gravadas, o que faz com que seja mais difícil ter temporadas encurtadas. Ao mesmo tempo temos cronogramas atrasados porque as salas de roteiristas foram fechadas. Algumas tinham acabado de começar os trabalhos, como é o caso de Yellowjackets. E logo em seguida pararam tudo por conta da greve. 

Muitas séries e filmes já estavam com roteiros prontos e em período de produção, mas é importante pensar que nos sets de filmagem também tem roteiristas a postos. Todos os roteiros precisam de modificações e quem faz essas modificações de roteiros nos sets de filmagem são roteiristas. Locações de cena, inclusão ou exclusão de personagens, mudanças de falas. Tudo isso acontece durante as filmagens. E só os roteiristas podem mexer nos roteiros, então sem eles nenhuma alteração pode ser feita e os filmes e séries precisam ser filmados da forma que estão, o que definitivamente é um grande problema. 

Imagem do protesto de roteiristas na rua

Além disso, as séries de TV possuem os showrunners, que são quem comandam tudo. Eles produzem, mas são essencialmente roteiristas. Várias séries estão em produção e como o trabalho desses profissionais está intrinsecamente relacionado à escrita, o sindicato pediu que eles não fossem aos sets de filmagem. Antes do pedido alguns profissionais estavam nas filmagens, mas sem mexer em nada dos roteiros e do encaminhamento das séries, tentando fazer apenas o trabalho de produção. Só que dia após dia novos showrunners abandonam os sets de filmagem. 

E com as outras categorias apoiando a paralisação dos roteiristas, mais e mais sets de filmagem são obrigados a fechar. Ruptura foi uma das séries que acabou paralisando as gravações porque os motoristas se recusaram a passar pelos manifestantes. 

Não existe previsão de quando a greve dos roteiristas vai terminar. O que se sabe é que quanto mais tempo para se ter um acordo entre as duas partes, mais produções são prejudicadas. E claramente os roteiristas estão desejando voltar ao trabalho, mas com seus direitos garantidos. É o que todo profissional deseja. 

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