Crítica: M3GAN
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Crítica: M3GAN

M3GAN – Ficha Técnica:

Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: Akela Cooper, James Wan
Elenco: Allison Williams , Violet McGraw, Ronny Chieng
Sinopse: Uma engenheira de robótica de uma empresa de brinquedos constrói uma boneca realista que começa a ganhar vida própria.

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A figura do “boneco amaldiçoado” existe no cinema diante de uma fórmula bem cimentada. Seja fruto de assombrações sobrenaturais (Annabelle, 2014), transtornos psicológicos (Magia Negra, 1979) ou inseridos num contexto slasher (Chucky), existe algo na ideia de bonecos trazidos à vida que causa um desconforto quase primordial, algo aproximado a um vale da estranheza que parece vir do mesmo lugar de inadequação causado por humanos construídos por computação gráfica: aquilo simplesmente não deveria estar vivo.

O olhar para os outros bonecos do terror não vem tanto como uma comparação tonal, mas sim contextual, uma vez que estamos diante de M3GAN, nova produção da Universal em parceria com a Blumhouse. Se esses filmes representam picos de popularidade de um certo tipo de gênero do terror de acordo com sua época, M3GAN claramente joga de acordo com as convenções – melhor, algoritmos – dos anos 2020, e ele saber disso é o que torna esse filme não só um divertido entretenimento, como também uma competente sátira.

O tom satírico se instaura desde os minutos iniciais da projeção, com os comerciais de TV dos brinquedos fictícios que escancaram a natureza escatológica dos mesmos, quase sempre como um simulacro dos cuidados da vida adulta para que a criança seja colocada num papel de “brincar de gente grande”. O roteiro de Akela Cooper (baseado num conceito de James Wan) escancara esse estranhamento já no início para depois retratar um comentário um pouco mais subjacente em Gemma (Allisson Williams). Engenheira de robótica para uma empresa de brinquedos, a protagonista se torna mãe adotiva de sua sobrinha, Cady (Violet McGraw), após a morte dos pais da garota num trágico acidente. Sem saber lidar com as responsabilidades de criar a menina, Gemma decide tirar da prateleira um projeto rejeitado – a boneca M3GAN, construída através de tecnologia de última geração e com uma inteligência artificial que a torna a companheira ideal para sua sobrinha. O que seria, na cabeça de uma pessoa da geração Z, a melhor ideia para os cuidados de uma criança senão um brinquedo que fizesse todo o trabalho? A boneca vem, então, como a personificação da superproteção dos millenials traumatizados pela geração passada, ainda despreparados para cuidar de outro ser humano.

O diretor Gerard Johnstone é competente em instaurar a sensação de estranhamento desse universo através da boneca. M3GAN se aproxima mais de uma ficção científica do que um terror de fato, dada a atenção em sua primeira metade à construção da inteligência artificial e à relação de Gemma com sua sobrinha, na qual as situações escabrosas ou assassinatos eventualmente promovidos vêm mais com uma veia de ironia e entretenimento do que da intenção de provocar pavor – este reservado para o incômodo causado pela inteligência artificial em si. O filme sabe do seu potencial pop e diverte com a personalidade superficialmente perfeita de M3GAN, investindo mais no humor involuntário do que em provocar medo.

A nova boneca amaldiçoada – aqui, através da inteligência artificial – que dá nome ao longa se comunica, com os personagens dentro do filme e conosco, através das programações de nossa época: danças ao melhor estilo TikTok (que já viralizaram fora do filme), frases prontas de Instagram e canções pop motivacionais. M3GAN não é só uma boneca do mal: é uma diva pop em formação.

  • Nota
3

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