Crítica: Córki dancingu / A Atração (2015)
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Crítica: Córki dancingu / A Atração (2015)

Bem trabalhado visualmente, “Córki dancingu” ou “The Lure” (A Atração) é um filme de fantasia que estreou em festivais em 2015 e teve lançamento limitado nos Estados Unidos somente em 2017. A diretora Agnieszka Smoczynska se utiliza da figura mística da sereia e toda a sexualidade levantada por ela, buscando na essência da criatura uma forma de desenvolver uma história, no mínimo, estranha. Isso porque ela desenvolve um mundo próprio, ao contorno de uma boate noturna, onde as pessoas assimilam facilmente o fato de que duas jovens irmãs são sereias.

Há de ser elucidado a proposta de banalizar a linearidade narrativa, é evidente a tentativa de provocar risos pelo grotesco das cenas – que atinge o ápice em uma cena de sexo lésbico/zoofílico(?), onde uma mulher busca na cauda de uma das irmãs o seu prazer. Aliás, a busca pelo prazer é um tema deveras presente aqui, ainda que diversas vezes de forma linear, o que de fato rege o roteiro é o limite entre o amor e o desejo, pois Prateada (Marta Mazurek) se apaixona por um rapaz e cai em um dilema melancólico por causa da ausência de uma vagina. A propiciação de prazer é o que almeja e se sente incompleta como humana, mas se o seu físico representa um ser dividido em duas partes, não estaria ela recusando a outra? Essa é a maior e mais inteligente crítica da diretora Agnieszka Smoczynska, é o debate do lampejo de consolação instintivo feminino, que muitas vezes rejeita sua própria condição e desejo em base ao homem, como se o prazer fosse o único e último vínculo entre eles.

Se Marta Mazurek interpreta Prateada através da delicadeza, algo como o famoso estereótipo da “moça virgem que se apaixona pelo príncipe”, a excelente Michalina Olszanska – que retoma uma parceria com Mazurek, visto que ambas trabalharam no ótimo “Eu, Olga Hepnarová” (2016) – busca um olhar cruel para compor a personagem Dourada, causando constantemente o senso de misteriosidade, é a personagem que não quebra o seu vínculo com o âmago do monstro, despertando receio constante sobre suas reais intenções ao lado de tantos seres humanos. É o feminino em seu estado puro e cônscio; que tenta sobreviver em um mundo repleto de homens manipuladores e que usam o corpo como uma ferramenta de exposição.

Elegantemente somos conduzidos para um submundo burlesco, com doses de horror e que em seu caminho apresenta súbitos momentos musicais, onde algumas boas canções funcionam como mais uma forma de envolvimento tétrico para uma experiência confusa, mas certamente ousada. Desde os créditos iniciais o conto de fadas se apresenta e se desmistifica, traduzindo os eventos a partir de então como verdadeiras provocações bizarras.

“Córki Dancingu” possui um visual maravilhoso, que se embriaga nas luzes da boate e encontra o garbo nas sombras e no gélido. Não se trata de uma obra exemplar, tenta emular alguns trabalhos do Sion Sono ainda que tematicamente seja infinitamente inferior, estranhezas são perfeitas como forma de conduzir o espectador à críticas sociais e aqui, apesar de existir essa pretensão, nunca demonstra o suficiente. De qualquer forma, é uma grande experiência e boa entrada ao cinema de horror moderno polaco.

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