Crítica: Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem
Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem - documentário de Natara Ney
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Crítica: Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem

Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem

Direção: Natara Ney
Roteiro: Natara Ney
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 9 de junho de 2022
Sinopse: Em janeiro de 2011 um lote com 180 cartas de amor foi encontrado em uma Feira de Antiguidades, todas escritas por uma moradora de Campo Grande/MS para o seu noivo no Rio de Janeiro. Durante 2 anos, 1952/53, ela relata sobre a paixão e a distância. A partir desta descoberta, uma investigação se inicia para localizarmos este casal apaixonado e descobrirmos o desfecho do romance. Uma história sobre amor, tempo e memória.

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Uma das funções mais belas do documentário é a sua proposta de encapsular a memória de um povo e mantê-la viva. Não que a arte precise de utilidade ou propósito (a própria ideia de que a arte necessita de alguma função já traz, por si só, um longo debate), mas este é um documentário que tem a função tão singela quanto importante de eternizar a memória de pessoas comuns.

“Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem” não busca documentar um acontecimento grandioso da nossa história, nem mesmo uma temática efervescente em nossa sociedade.

Quando a documentarista Natara Ney descobre cartas de amor escritas por uma mulher chamada Lúcia ao namorado Oswaldo nos anos 1950, sua pulsão artística a leva até o Mato Grosso do Sul para tentar descobrir a origem daquela história. Ao longo do documentário ouvimos sua voz, mas não a vemos. Acompanhamos apenas os locais por onde ela anda até voltar ao Rio de Janeiro, onde a história principal encontra seu desfecho.

No entanto, o documentário “Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem” vai muito além de contar a história de um casal apaixonado de tempos atrás. Se as cartas são protagonistas, as histórias dos outros são coadjuvantes: pessoas que lembram de seus amores do passado, das idas e vindas ao longo das décadas, de como as coisas eram mais simples (ou mais lentas) no passado.

Em certo momento, um dos entrevistados reflete que os amores de hoje são mais efêmeros, assim como suas trocas de mensagens. “Ninguém manda e-mail de amor”, diz ele. E com isso, o documentário de Natara Ney se torna uma ode aos tempos que não voltam, ao amor entre as pessoas, e ao registro das coisas simples.

A escolha da câmera discreta – quase escondida – para se aproximar das pessoas torna tudo mais próximo, conectando o espectador ainda mais com a investigação e contribuindo com os momentos mais emotivos. As cenas de arquivo muito bem escolhidas contribuem para o mergulho no túnel do tempo que o documentário se propõe a ser.

Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem - documentário de Natara Ney

Em diversos momentos, algumas pessoas são convidadas a ler trechos das cartas escritas por Lúcia e, ao fazê-lo, não conseguem conter as lágrimas. “Que bonito”, dizem. Afinal, são palavras verdadeiras e poéticas, e que nos emocionam porque nos lembram de como a vida é, de fato, bonita.

Em tempos de proliferação de ódio e tentativas de apagamento da nossa memória, é muito bem vindo um documentário que nos lembre da beleza das histórias de amor e das vidas comuns. Viver, por si só, já é emocionante.

Quando uma entrevistada declara o medo de uma doença capaz de apagar nossas memórias, o espectador talvez não imagina que vai se deparar com esta mesma doença alguns minutos depois. No entanto, mesmo diante da tristeza de saber que até mesmo nossas vivências podem ser roubadas, somos consolados por saber que elas podem ser eternizadas pela arte. Mesmo com a extinção das cartas e do papel, nos resta o cinema a registrar memórias e emocionar e, assim, nos ajudar a sermos um pouco mais amorosos.

“Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem”: a frase típica das cartas de outrora faz com que o documentário funcione como uma carta ao Brasil de 2022. Não estamos bem. Mas filmes como este alimentam a esperança de que vamos melhorar.

  • Nota
4.5

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