Terceira mulher a vencer é ofuscada por briga entre homens
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A terceira mulher na história a vencer Melhor Direção é ofuscada por uma briga entre homens

Texto por: Eduarda Smilari e Matheus Zúñiga

A premiação mais conhecida do mundo por seu glamour e influência no universo do entretenimento, Oscar – oficialmente chamado de Prêmios ou Prémios da Academia – pela terceira vez na HISTÓRIA, entrega o prêmio de Melhor Direção para uma mulher neste domingo, dia 27 de março de 2022. 

Sim, isso mesmo, Jane Campion é a terceira mulher na história do Oscar, o qual já completou 94 anos de existência, a vencer a categoria mais prestigiada da noite de Melhor Direção, por Ataque dos Cães. Além disso, nestes mesmos noventa e quatro anos, a segunda estatueta anteriormente viera para Chloé Zhao em 2021, pelo filme Nomadland – também vencedor de Melhor Filme naquela noite.

Troy Kotsur

Agora, na mais recente edição do Oscar, a qual deveria ter sido marcada por tantos acontecimentos relacionados à inclusão, entre elas a primeira vitória de um ator surdo como coadjuvante, Troy Kotsur, a conquista é midiaticamente ofuscada pelo episódio do tapa que Will Smith desferiu no comediante Chris Rock. Praticamente todos os veículos de informação focaram no acontecimento, o qual representa uma infeliz característica da editoria de entretenimento, que necessita de informações polêmicas dessas grandes cerimônias, para gerar ainda mais cliques e compartilhamentos.

Dentre as discussões que deveriam ter mais repercussão na mídia, está o fato de que, pela primeira vez, duas mulheres vencerem dois anos consecutivos um Oscar de direção, o que pode ser considerado um sinal de vitória em relação ao machismo estrutural no cinema mundial, mesmo que ainda falte uma grande estrada histórica pela igualdade.

Greta Gerwig

Isso porque, diretoras renomadas que vieram antes de Zhao e Campion, como Lina Wertmüller, Jane Campion, Sofia Coppola, a primeira vencedora de direção Kathryn Bigelow, e Greta Gerwig, representavam apenas cinco mulheres a serem indicadas nesta categoria até o ano de 2018. Em 2021, pela primeira vez, tivemos outro evento surpreendente: duas mulheres concorrendo à mesma categoria de direção, Emerald Fennell e a vencedora da noite, Zhao.

Porém, durante todos estes anos, diversos homens já haviam ganhado mais de uma vez o prêmio cobiçado, tornando-se grandes nomes do cinema pelos inúmeros Oscars vencidos. John Ford recebeu por quatro vezes o prêmio de Melhor Diretor. Não só ele, Alejandro González Iñárritu também levou duas vezes consecutivas o mesmo prêmio por “Birdman” (2015) e “O Regresso” (2016).

Avançando para a categoria de Melhor Filme, os longas que mais bateram recordes no Oscar, foram, consequentemente, dirigidos por homens. Titanic, dirigido por James Cameron, levou para casa 11 Oscars da Academia; Ben-Hur, de William Wyler, também onze; por fim, O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei, de Peter Jackson, igualmente.

Desta maneira, Ignorar conquistas de lutas tão duras e necessárias, como a de mulheres como Jane Campion, Chloé Zhao e Kathryn Bigelow, para enaltecer polêmicas, fere um dos valores mais valiosos que o jornalismo deve seguir hoje: a pluralidade. 

Em um mundo cada vez mais polarizado, é importante que as vozes de diversos grupos sejam apresentadas pela mídia, e claro que a briga entre Will Smith e Rock deve ser discutida e entendida, porém, não basta focar apenas nessa questão, quando há diversos grupos ganhando espaço não somente nas grandes cerimônias, mas na sociedade como um todo. 

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