“Bê-a-bá” Cinematográfico: O que é B-roll?
O termo B-roll pode parecer algo muito longe do comum, mas na verdade é algo tão cotidiano que as vezes passa até despercebido pelo público, críticos e até editores.
Vamos dar uns passos para trás para entender de onde veio o termo.
A origem do termo
Nos primórdios do cinema, os filmes eram captados em rolos. Esses rolos eram classificados por suas medidas, por exemplo: os mais famosos são os rolos 16mm ou de 35mm. Eles tem esse nome porque 16mm é a bitola cinematográfica. (Só por curiosidade, uma resolução do filme de 16mm é de cerca de 3K (3.000 linhas horizontais), oque é considerada até hoje uma boa qualidade para filmes.)
Enfim, esses rolos de filmes em inglês são traduzidos como film rolls.
Durante o período de filmagem, era preciso fazer um planejamento para fazer as captações de cenas, isso otimizava o tempo e também economizaria o gasto com os rolos. Então, de uma maneira bem básica, dividiam-se em “A” como sendo as filmagens principais e “B” como sendo as filmagens complementares.
O termo A-roll (rolo A), acabou caindo em desuso principalmente depois da digitalização, mas o B-roll (rolo B) se manteve forte e é usado até hoje!
Utilização
Antes de tudo, é necessário deixar claro, que não necessariamente você precisa ter duas câmeras, ou dois rolos, para gravar o B-roll. A utilização desta nomenclatura existe para organizar as cenas filmadas e por isso que o B-roll acaba sendo apenas de filmagens complementares. Porém, ele pode ser feito no mesmo rolo ou com a mesma câmera, ou ainda, pode ser inserts de banco de imagens por exemplo. A única coisa é que na hora de organizar as cenas, acaba ficando claro o que são as filmagens principais e as complementares.
Mas o que isso quer dizer? Basicamente, quando falamos de complementariedade, estamos falando de filmagens que auxiliam a narrativa, isto é: detalhes do local, detalhes da ação, detalhes extras que ajudam a contar uma história.
Exemplos
Vamos começar exemplificando a utilização do B-roll de uma maneira mais clara. Veja essa cena de Eu sou a Lenda (2007):
Podemos ver claramente que a filmagem principal é do personagem do Will Smith tentando caçar e tudo que vem em torno disso é o B-roll. Isso acaba ficando mais claro ainda quando temos filmagens como esta:
Temos uma cena aberta que mostra a estrutura da cidade, ou seja, ela complementa a filmagem principal trazendo uma camada a mais para a história: vemos que a cidade está completamente abandonada e sem estrutura alguma.
O B-roll se repete em outros momentos dessa mesma cena, mas para dificultar um pouco mais o exercício de identificar essas cenas complementares, vamos para A Origem (2010):
Aqui temos uma cena de ação, agitada, rápida, mas o B-roll continua presente para trazer essa complementariedade. Por exemplo, nas cenas onde vemos o “cenário desmanchar”. Ali está mostrando que aquele mundo está acabando através das atitudes dos personagens (cena principal):
Porém, também podemos considerar como B-roll, cenas de detalhes, como os documentos que o personagem do Leonardo DiCaprio está olhando. Trata-se de uma cena complementar, que ajuda a trazer o senso de urgência e contextualiza a importância daquela ação:
Nova tendência
Algo que tem sido observado é como o B-roll começa a ser utilizado quase que se misturando a filmagem principal. Isto porque, na sua origem, essas filmagens complementares muitas vezes são utilizadas de forma mais direta, com uma transição simples e com o objetivo claro de complementariedade.
Porém, nomes como: Daniel Schiffer, Peter McKinnon e Peter Lindgren – youtubers que focam na produção audiovisual e técnicas de filmagens, tem levado a produção de B-roll para um outro nível!
Uma das coisas que podemos observar é a utilização de filmagens mais detalhadas ou com planos diferentes, como essas que Daniel Schiffer faz para mostrar como se faz um sanduíche:
São ângulos completamente destintos uns dos outros, com uma dinâmica muito própria. Aqui podemos dizer que a filmagem principal seria desse personagem querendo fazer seu sanduíche, e as cenas complementares são destes detalhes da faca cortando a cebola, do pão pulando da torradeira e do moedor de pimenta sendo utilizado.
Outra nova tendência de B-roll são as variações de transições. Há uma mescla de velocidade entre uma cena e outra, ou ainda a utilização de ângulos diferentes que revelam uma cena de forma muito encantadora. Cenas lentas mescladas com alta velocidade que acabam trazendo dinamismo.
Veja esse exemplo de Peter McKinnon fazendo transições muito modernas em uma apresentação de preparo de café:
É importante frisar que estes exemplos acima de novas tendências de B-roll servem para mostrar que algo muitas vezes trivial, utilizado para auxiliar uma história, pode ganhar novas camadas e complementar de forma profunda um longa-metragem.
Aqui vimos 2 exemplos de vídeos rápidos, mas o importante é entender a essência, ou seja, captar que a utilização de B-roll pode ser muito mais que cortes secos e planos abertos de cidades, o B-roll muitas vezes se confunde com a filmagem principal porque por mais que sirva para complementar, ele é o responsável por transmitir a atmosfera do filme para o espectador.