Crítica: O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes – Mostra de São Paulo
O Nariz ou a Conspiração dos Dissidentes - 44ª Mostra de Cinema de São Paulo
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Crítica: O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes – 44ª Mostra de São Paulo

O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes” é um filme totalmente fora da caixa que se passa dentro de uma caixa.

Ficha técnica:
Direção: Andrey Khrzhanovskiy
Roteiro: Yuriy Arabov, Andrey Khrzhanovskiy
Nacionalidade e Lançamento: Rússia, 27 de janeiro de 2020 no Festival de Roterdã (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Nessa mistura de animação e ópera, acompanhamos o século 20 na Rússia e o reinado de terror de Josef Stalin por meio de fragmentos inspirados no clássico O Nariz, escrito por Nikolai Gógol em 1836. Com trilha da obra homônima da década de 1920 do compositor Dmitri Shostakovitch, a narrativa combina cenários históricos, biografias de importantes personagens da época e obras-primas de artistas, compositores e escritores russos de vanguarda que viveram durante esse período de totalitarismo.

A primeira cena de “O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes” é em um avião. Sentadas nas poltronas, os passageiros assistem a diferentes filmes. Em seguida, em uma montagem nada óbvia deste filme ainda menos óbvio, começamos a assistir à ópera “O Nariz”, de Dmitri Shostakovich, baseada no clássico conto de Nicolau Gogol.

Enquanto toda a apresentação da ópera vem com o uso de um estilo de animação nada tradicional, vemos homenagens a obras e elementos da cultura russa (como a óbvia referência ao filme O Encouraçado Potemkin) e uma segunda parte do filme que explora uma história envolvendo Stálin e um dramaturgo que precisou da ajuda do líder para lançar sua peça.

Assim, por meio de uma narrativa que mistura histórias e referências, “O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes” mostra uma visão sarcástica de Stálin e denuncia as perseguições do regime soviético. Além disso, o filme ainda promove um vai-e-vem” na relação entre o que se assiste e o espectador: assim como os passageiros veem os filmes em uma “caixinha”, o filme reproduz as exibições de teatro em caixinhas (comuns no início do século XX) e por vezes “sai da animação” para mostrar o trabalho dos animadores.

Assim como não há limites entre as camadas daquilo que estamos vendo (uma ópera dentro de uma caixa dentro de uma animação dentro de um avião dentro do filme?), não há limites entre o que é referência, o que é ficção e o que é “documentário”, já que o filme se propõe a apontar para elementos dos mais variados da história russa e da relação entre a produção artística e governos autoritários.

 Também não tem como não lembrar do documentário “1917 – O Outubro Real” (1917 – Der wahre Oktober), que apesar de ser de produtores totalmente diferentes, fala sobre a Rússia e utiliza animações em stop-motion com desenhos para ilustrar as histórias – sendo que a produção alemã tem uma visão muito mais positiva do período comunista do país.

“O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes” não é um filme fácil e certamente terá mais interesse daqueles que conhecem a história e a cultura russa, mas tem todas as vicissitudes de uma obra que se pretende ser diferente e “fora da caixa”.

  • Nota
3

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