Crítica(2): Entre Facas e Segredos (2019)
** Este texto contém spoiler da obra ‘Entre Facas e Segredos’**
Entre Facas e Segredos (2019) é um filme estadunidense escrito e dirigido por Rian Johnson (The Last Jedi) que narra a história de um famoso escritor de histórias policiais que é encontrado morto em sua propriedade. Logo, o detetive Blanc (Daniel Craig) é contratado para investigar este caso e descobre que todos os funcionários e familiares são suspeitos do crime.
“My House, My Rules, My Coffee”, esta frase estampa a caneca do escritor, dono de toda propriedade e de uma editora de sucesso, que acabara de ser encontrado morto. Todo este império agora está à deriva esperando pelo próximo que dará o bote e irá ditar as regras deste império. O que desencadeia um jogo de aparências entre os familiares que é jogado com muita falsidade, onde em frente todos acabam sendo amigos, por trás acabam – em seus interrogatórios com Blanc – sempre se isentando de alguma suspeita e apontando para o outro uma suposta culpa. Uma sinuca em que o importante é impedir o outro de encaçapar para permanecer vivo no jogo, mas este jogo muda quando uma nova peça é inserida: a enfermeira imigrante. O escritor decide mudar seu testamento uma semana antes da morte deixando todo o império para a pobre moça. Agora a família, antes desunida, passa a se juntar em bando para que seu império, sua casa, suas regras e seus empregos não sejam tomadas por uma imigrante.
Uma questão pertinente aos dias atuais onde o mundo ficou tão globalizado na internet, onde podemos ver filmes de outros países, seguirmos e dialogarmos com pessoas de outros países e que, por alguma razão, não queremos que essas mesmas pessoas se mudem para o nosso país e que haja uma mescla de culturas, porque temos medo de perder nossa casa, nossas regras e nosso “café”. É algo tão contraditório que Rian mostra toda sua perspicácia ao negar uma estética mais naturalista e visceral de filmes criminais de David Fincher e se utiliza de uma mise-en-scène muito mais formalista e caricata, embrulhando esse jogo de aparências dos personagens que logo se tornou um jogo de sangue nacionalista (não por menos temos um neonazi no grupo) em um pacote que vai do absurdo ao cômico.
Estética esta que também auxilia a interação entre os personagens em cena, onde os familiares esbravejam caricatura. Quase como se Entre Facas e Segredos transportasse pensamentos e posturas agressivas em redes sociais e criasse personagens através destes. Contrapondo uma lucidez naturalista da imigrante que nada mais faz além de reagir às ações dos familiares, sem entender muito bem o contexto, apenas realizando seu trabalho da melhor forma possível em busca de uma vida melhor para si e para seus semelhantes.
Por fim, Entre Facas e Segredos nos dá uma cena satisfatória ao colocar a imigrante tomando um pouco de café na caneca “My House, My Rules, My Coffee” enquanto todo o resto da família assiste incrédulo. Mas afinal, por que ficar tão espantado? Todos temos direito a nossa própria casa, nossas próprias regras e nosso próprio café.