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Crítica: Uma Mulher Alta

Filmes sobre as guerras mundiais, Holocausto e Guerra Fria sempre tiveram uma aceitação de grande parte do público e também dos membros da Academia norte-americana. Não é de hoje que histórias de heróis de guerra e sobreviventes ganham as telonas, e arrebatam prêmios nos maiores festivais.

Quando se trata desse assunto sempre nos vem à mente filmes como A Lista de Schindler, O Pianista, A Vida é Bela, O Resgate do Soldado Ryan, Platoon e tantos outros. Não é a toa que três filmes pré-selecionados na lista do Oscar de Melhor Filme Internacional tem seus enredos ligados ao pós-segunda guerra. Uma Mulher Alta (Rússia), O Pássaro Pintado (República Tcheca) e Aqueles que ficaram (Hungria) trazem personagens sobreviventes do maior conflito bélico. Dois dos longas citados, Uma Mulher Alta já fez sua estreia no Brasil, enquanto o filme húngaro chegou nesta quinta-feira (26/12).

Porém este texto é dedicado ao filme russo. Uma Mulher Alta nos leva a visitar a cidade de Leningrado de 1945, pós-segunda guerra. O filme dirigido por Kantemir Balagov, vencedor do Prêmio Um Certo Olhar: Melhor Direção, em Cannes, narra a história de duas jovens mulheres que buscam reconstruir suas vidas em meio aos traumas deixados após o cerco de Leningrado, na Rússia, de ocorreu entre setembro de 1941 e janeiro de 1944.

O confronto entre a Alemanha Nazista e a União Soviética foi uma das mais brutais e durou cerca de 900 dias, privando a população russa do acesso à água, energia comida deixando mais de 1,5 milhão de mortes. Estima-se que cerca de 20 mil pessoas morreram diariamente em Leningrado, a escassez de comida fez com que a população fizesse de tudo para alimentar-se. 

Uma Mulher Alta é sensível e inquietante, fazendo o espectador mergulhar na visão feminina do pós-guerra. As ótimas atuações de Viktoria Miroshnichenko e Vasilisa Perelygina conduzem o filme de maneira tristemente bela. De forma sútil e silenciosa as personagens transmitem a dor e os traumas que as acompanham diariamente. Não é preciso saber o que elas viram ou enfrentaram na guerra para sentir ou se compadecer de seus sofrimentos.

A angústia nos consome já na primeira cena. Com poucos minutos de tela mergulhamos nos traumas psicológicos de Iya (Viktoria Miroshnichenko), que tem paralisias, que se manifestam ao longo da narrativa sem um critério especifico. A sobrevivente mora e trabalha em um hospital militar cuidando dos veteranos de guerra, além de cuidar do filho da melhor amiga que está para voltar da frente de batalha em Berlim, na Alemanha.

Em Uma Mulher Alta descobrimos que o terror da guerra nunca acaba para aqueles que a vivenciaram. As marcas não estão só no corpo, mas principalmente no psicológico. Cicatrizes que nunca desaparecerão.

A chegada de sua amiga Masha (Vasilisa Perelygina) vem para complementar e dar maior tensão na narrativa. Sem o apoio e o auxílio de suas famílias ou do Estado, Iya e Masha buscam reconstruir suas vidas, mesmo sem qualquer perspectiva de melhora. Os conflitos diários e a maneira como cada uma lida com a morte e o sofrimento causa perplexidade e incomodo. Com suas vidas destruídas, elas se arriscam e situações que somente uma pessoa com diversos traumas e que nada tem a perder se colocariam.

O diretor consegue ir além da história das duas e leva para as telas também um pouco das consequências da guerra na vida de milhares de famílias russas, completamente destruídas e abandonadas pelo governo soviético. Homens mutilados e paralíticos que reencontram suas famílias, as quais sofreram com a fome e a miséria ao longo dos anos da guerra, perdendo filhos, e tendo que encontrar formas de alimentar a todos.

Os tons saturados de vermelho e verde estão presentes em todo o filme, criando um contraste entre as personagens, como se fossem complementares e ao mesmo tempo opostas. As cores vibrantes acompanhadas da bela fotografia ajudam na construção da tensão e da sensibilidade das protagonistas.

  • Uma Mulher Alta
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Resumo

Uma Mulher Alta é sensível e desconfortante. Sem a necessidade de grandes diálogos o longa consegue transmitir a dor e o sofrimento da guerra apenas nos gestos corporais e olhares perdidos e tristes.

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