Bacurau é selecionado para o Festival de Nova York - Cinem(ação)
Bacurau
Cinema Mundial

Bacurau é selecionado para o Festival de Nova York

Novo filme de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles quer conquistar Nova York depois de conquistar Cannes

Main Slate FEstival de Nova York com Bacurau

Enquanto parte da população pede a extinção da Ancine, inclusive alguns cinéfilos, o cinema nacional continua fazendo bonito no exterior. Depois de ganhar o Prêmio do júri em Cannes, Bacurau foi selecionado para o Festival de Nova York, um dos mais importantes dos EUA.

Dirigido por Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, Bacurau mostra a história de um pequeno vilarejo, de mesmo nome, do sertão brasileiro que está lamentando a morte de dona Carmelita aos 94 anos. Dias depois, os moradores de Bacurau percebem que a comunidade não consta em nenhum mapa. Após isso a tranquilidade de Bacurau fica ameaçada. E uma sequência de incidentes mergulham o vilarejo numa tensão crescente. O filme trás no elenco Sônia Braga, Barbara Colen, Karine Teles e Silvero Pereira, e tem recebido críticas positivas da imprensa internacional. Além de ter ganho o Prêmio do Júri em Cannes desse ano, Bacurau ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Munique desse ano, e agora é selecionado para o Festival de Nova York. Que carreira maravilhosa do novo filme de Kleber e Juliano né? Uma curiosidade interessante, é que o último filme brasileiro a aparecer no Festival de Nova York foi Aquarius também de Kleber. Agora o cineasta volta para um dos mais importantes festivais dos Estados Unidos.

57º New York Film Festival

O New York Film Festival (NYFF) é realizado anualmente todo outono na cidade de Nova York, apresentado pela Film Society of Lincoln Center (FSLC). Fundada em 1963 por Richard Roud e Amos Vogel, com o apoio do presidente do Lincoln Center, William Schuman, é um dos mais antigos e prestigiados festivais de cinema dos Estados Unidos. O festival não é competitivo, é centrado em torno de um “Main Slate” de 20-30 longas-metragens, com espaço para cinema experimental e retrospectivas. Embora não tenha prêmios para os filmes selecionados, diversos diretores fazem questão de esperar para que seus filmes tenham a primeira exibição no festival, isso porque sabem da importância dos seus filmes estrearem em Nova York. Isso porque o Festival é um dos últimos antes da temporada de premiação, o que quer dizer que estrear em Nova York é uma força a mais para ganhar os votos dos críticos e especialistas. Tanto é assim que todo ano pelo menos um ou dois filmes da seleção depois aparecem entre os indicados ao Oscar.

Só para se ter uma ideia, nos últimos 5 anos, mais de 30 filmes que passaram no Festival de Nova York receberam ao menos 1 indicação ao Oscar do ano seguinte, entre eles os vencedores do Oscar de Melhor Filme Birdman e Moonlight. Ano passado A Favorita, Roma, O Portal da Eternidade, A Balada de Buster Scruggs, Guera Fria, Se a Rua Beale Falasse e Assunto de Família, todos filmes com indicações ao Oscar, estiveram entre os selecionados do Festival de Nova York. Ou seja, Bacurau terá uma visibilidade de grande expressão ao ser selecionado para o Festival de Nova York, e quem sabe pode até aparecer entre os indicados ao Oscar 2020.

Outros destaque no Festival de Nova York

O Irlandês

Entre os filmes selecionados para o Festival de Nova York, temos vários filmes esperados (para conferir a lista completa clique aqui). Entre eles o novo filme de Martin Scorsese O Irlandês. O encontro de Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci no cinema, que ainda trás Harvey Keitel e Anna Paquin no elenco, conta a história de Frank Sheeran (Robert De Niro) um veterano de guerra cheio de condecorações que concilia a vida de caminhoneiro com a de assassino de aluguel número um da máfia. Promovido a líder sindical, ele torna-se o principal suspeito quando o mais famoso ex-presidente da associação desaparece misteriosamente. O filme que é uma produção Netflix será o filme de abertura do Festival.

Outro destaque é Dor e Glória, novo filme de Pedro Almoldóvar. Estrelado por Antonio Banderas, o filme conta a história de Salvador Mallo,  melancólico cineasta em declínio que se vê obrigado a pensar sobre as escolhas que fez na vida quando seu passado retorna. Entre lembranças e reencontros, ele reflete sobre sua infância na década de 1960, seu processo de imigração para a Espanha, seu primeiro amor maduro e sua relação com a escrita e com o cinema. O filme ganhou dois prêmios em Cannes Melhor Ator para Antonio Banderas e Melhor Trilha Sonora, foi selecionado para o Festival e Toronto e agora também foi selecionado para o Festival de Nova York.

Marriage Story

Outro destaque é Marriage Story, de Noah Baumbach, com Scarlett Johansson e Adam Driver no elenco. O filme conta a história do casal Nicole e Charlie que estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Temendo que a pequena filha sofra as consequências da separação, o casal decide continuar vivendo sob o mesmo teto, tentando fazer com que este seja um divórcio amigável. Porém, a convivência forçada entre os dois acaba criando feridas que talvez nem o tempo seja capaz de curar. Antes de estrear em Nova York, o filme de Baumbach irá passar na mostra competitiva em Veneza em agosto desse ano.

Quem também estará em Nova York é o vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o coreano Parasite, de Bong Joon-ho. O filme conta a história da família Ki-taek que está toda desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.

Outro destaque é o novo filme dos irmãos Dardenne, Le Jeune Ahmed. O filme conta Ahmed (Idir Ben Addi) é um menino muçulmano de 13 anos de idade que vive na Bélgica. Seguindo as palavras de um imã local, e inspirado nos passos do primo extremista, ele começa a rejeitar a autoridade da mãe e da professora. Quando se convence de que a professora é uma pecadora por ministrar um curso de árabe sem utilizar o Corão, Ahmed decide matá-la para impressionar os líderes religiosos e agradar a Alá. Depois do ato, o adolescente precisa lidar com as consequências. O filme ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes desse ano.

Varda por Agnès

Um último destaque no Festival de Nova York é o último filme da diretora francesa Agnès Varda, que faleceu em março desse ano. Em Varda por Agnès a diretora francesa expõe seus processos de criação e revela sua experiência com o fazer cinematográfico. A cineasta dá um enfoque especial no método de storytelling que ela denomina de “cine-writing”, uma espécie de fórmula utilisada por ela na grande maioria de seus documentários e ficções.

Um pouco mais sobre Bacurau

Bacurau

Com essa seleção que inclui Scorsese, Almoldóvar, NoahBaumbach, Bong Joon-ho, irmãos Dardenne e Agnès Varda, Bacurau terá grande visibilidade e talvez até consiga uma distribuidora internacional, o que seria espetacular para a carreira internacional do filme. Cidade de Deus que o diga!

A verdade é que o filme já está conseguindo uma carreira explêndida no exterior. Confira abaixo algumas críticas do filme:

Bacurau pode representar uma cidade pequena, que ninguém notaria se sumisse do mapa, mas através de longas, cativantes e frenéticas sequências que são vibrantes em detalhes; Mendonça Filho e Dornelles constroem a sensação de uma cidade vital, próspera e unida.

Wendy Ide – Screen International

Bacurau é um trauma alucinógeno, com um toque de Alejandro Jodorowsky ou de Pelos Caminhos do Inferno, de Ted Kotcheff. Também é um faroeste vingativo que lembra Clint Eastwood em Por um Punhado de Dólares. É um filme estranho, executado com claridade e força brutais.

 Peter Bradshaw – The Guardian

Apesar da violência gráfica em sua parte final, a terceira narrativa de Mendonça Filho tem um tom mais leve do que seus antigos trabalhos, combinando uma comédia de pequena cidade ensolarada com uma trama de fábulas e um toque de realismo mágico.

Stephen Dalton – The Hollywood Reporter

Devemos dar crédito quando é preciso, já que Bacurau deve consideravelmente a Carpenter – ao mesmo tempo que pega deixas de outra meia duzia de autores de gênero – mas, em termos de complexidade e ambição, essa furiosa alegoria política co-escrita e dirigida por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (o designer de produção de lançamentos passados de Filho) é o caso de alunos superando os mestres.

Giovanni Marchini Camia – The Film Stage

Mais forte e inescrutável que os trabalhos anteriores de Filho, Bacurau mergulha mais fundo no território da meia-noite, enquanto suas ideias centrais se consolidam, seus fantasmas se tornam literais e seus heróis pegam em armas.

David Ehrlich – Indiewire

É perturbador e bagunçado, um sonho febril para um tempo perturbador e bagunçado no Brasil. E, ocasionalmente, é bem divertido também

Steve Pond – The Wrap

Pode não haver um mapa para navegar neste filme gonzo, mas, no entanto, Bacurau é uma aventura encharcada de sangue que vale ser procurada.

Bradley Warren – The Playlist

Tanto é assim que no Rotten Tomatoes o filme está com 87% de aprovação com base em 38 críticas e com nota 74 no Metacritc com base em 14 críticas. Ou seja, enquanto muitos clamam pelo fim da Ancine, a imprensa internacional dá o devido valor ao cinema nacional. Dá ao cinema o destaque que ele merece. Aí eu te pergunto meus amigos: “O que seria e Bacurau se não fosse a Ancine?”

Polêmicas a parte, o novo filme de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, tem feito bonito lá fora. Bacurau chega aos cinemas no dia 29/08/2019. Que tal conferir o filme no cinema e dar valor ao que é nosso?

Cartaz Bacurau

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