Roar: a versão sangrenta de O Rei Leão
Depois de anos de expectativa, o remake de O Rei Leão finalmente chegou aos cinemas de todo o mundo nesta quinta, 18 de julho. Apesar de se tratar de uma animação feita com tecnologia de última geração, muitas pessoas estão chamando o filme de uma versão live-action do clássico animado. Isso acontece devido a qualidade ultrarrealista da produção, que fazem com o que o espectador tenha a sensação de que os envolvidos realmente filmaram e dirigiram animais selvagens de verdade. Mas é claro, seria impossível dirigir e coordenar tantos animais selvagens juntos ao mesmo tempo, não é mesmo? E aí que você se engana! Em 1981, o coprodutor, diretor e ator Noel Marshall realizou um dos filmes mais ambiciosos (e problemáticos) de todos os tempos: “Roar”, um longa com a tagline “Nenhum animal foi ferido durante as gravações. 70 membros da produção foram”.
Estrelado pelo próprio Noel Marshall, o filme ainda teve a participação da sua então esposa Tippi Hedren, seus filhos John e Jerry Marshall, sua enteada, ainda no anonimato, Melanie Griffith, e mais de 150 animais selvagens, como leões, leopardos, jaguares e pumas. A história é sobre uma família que viaja até a África para conhecer o santuário natural coordenado pelo patriarca. Chegando lá, todos começam a defender o santuário dos contrabandistas e caçadores em busca dos animais. Com uma belíssima cinematografia de Jan de Bont e uma trilha sonora empolgante, ‘Roar’ é muito mais conhecido pelos inúmeros acidentes e ataques de animais que ocorreram no set do que pelo filme em si.
Depois de viajarem pelo Zimbábue e se apaixonarem por animais selvagens, Noel Marshall e Tippi Hedren decidiram fazer um filme que se passasse inteiramente dentro de um santuário de animais selvagens. Determinados a filmarem o projeto na Califórnia, o casal começou a procurar o maior número de leões treinados possível. Quando perceberam que seria difícil encontrar tantos leões “atores”, o casal decidiu começar o seu próprio santuário com orientação de um biólogo da família. Durante uma década, mais de 150 animais selvagens foram criados na casa e até dormiam com as crianças. Com tantos anos de convivência, Marshall achava que os animais não causariam problemas, mas ele estava enganado.
Marshall teve um comportamento extremamente megalomaníaco no set e colocou toda a equipe e elenco, incluindo sua família, em perigo para conseguir as mais diferentes tomadas junto dos animais. O diretor recusava a gritar “corta” mesmo quando os mais bizarros ataques aconteciam. Muitos deles foram gravados e mantidos no filme, como o ataque de Melanie Griffith, que precisou de uma intensa cirurgia de reconstrução facial. Hedren foi pisoteada por um elefante e atacada por um leão pelas costas; John Marshall, foi atacado por um leão que mordeu sua cabeça, precisando da ajuda de 6 homens e 25 minutos para soltar. Com 56 pontos na cabeça, o ator já estava de volta às filmagens dois dias depois.
O diretor de fotografia, Jan de Bont, que fazia sua estreia no cinema americano, foi escalpelado por um leão e precisou de 220 pontos para recolocar sua pele. Nem o próprio diretor escapou dos ferimentos. Noel Marshall sofreu tantos ataques que acabou diagnosticado com gangrena e precisou ser hospitalizado por seis meses, além de ter sido arrastado pelo set por um leão.
Durante o longa é possível ver o quanto desconfortáveis os atores estavam. Muitos deles choravam de medo nas cenas, e é impressionante como ninguém sofreu nenhum acidente fatal nas gravações. Como se não bastasse todos esses acontecimentos, o rancho onde aconteceram as filmagens foi afetado por dois grandes incêndios e uma enchente. Durante um desses incidentes, 15 leões e tigres acabaram escapando e atacaram as pequenas e remotas cidades nos arredores das gravações, o que acabando colocando a região em estado de alerta. Em um dos incêndios, o diretor acabou sendo atacado por uma puma quando tentava salvá-la do fogo.
Após as gravações, o diretor e sua esposa se divorciaram, principalmente por conta da intensa experiência das filmagens. Por outro lado, o ex-casal continuou sua luta e fascinação pelos animais selvagens. Em 1988, Tippi Hedren escreveu um livro chamado “The Cats of Shambala”, contando sobre a sua experiência nas filmagens e como ela acredita que é possível viver em meio a animais selvagens. O santuário do casal, inclusive, está em ativa até hoje, onde a atriz mora e é presidente.
Planejado para custar 3 milhões de dólares e ser rodado em um percurso de 6 meses, o filme ultrapassou todas as metas e acabou custando 17 milhões, 5 anos para ser filmado e mais 5 para ser finalizado. O mais bizarro de toda história é que o longa só foi estrear nos EUA mais de 30 anos depois. Entre 1981 e 1982 estreou em alguns mercados na Europa e na Austrália, mas amargou as bilheterias pela falta de uma grande distribuidora para divulgar o produto. Em 2015, a Drafthouse Films acabou comprando os direitos do filme e lançou em vários cinemas, além do festival South by Southwest, que contribuiu para firmar o status de cult da produção.
Depois de conferir a nova versão de “O Rei Leão”, com todas as grandes tecnologias, “Roar” é uma pedida imperdível para os apaixonados.