Eu Cinéfilo #44: Crítica: O Peso do Passado - Cinem(ação)
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Eu Cinéfilo #44: Crítica: O Peso do Passado

O filme “O Peso do Passado” gira em torno de Erin Bell, uma detetive que… olha, já passou por bastante coisa na vida! Uma coisa que dá para perceber logo de cara é a simplicidade da história: a detetive Erin é atormentada pelo tempo que passou como agente infiltrada e a morte de seu parceiro. 17 anos depois ela encontra pistas desse mesmo caso, o que a faz enfrentar seus demônios  e largar tudo para encontrar sua paz. Só que o diferencial aqui está na estrutura narrativa: ao invés de vermos a personagem ser quebrada aos poucos até chegar os 17 anos depois e a vermos enfrentar essas consequências, o roteiro faz o inverso aqui.

Conhecemos a detetive literalmente quebrada, e como funciona a sua rotina. Temos algumas pistas de que aconteceu algo extremamente marcante durante seu tempo infiltrada, e aos poucos, em pequenas doses, temos flashbacks, que são um outro acerto por parte do roteiro por não serem usados apenas para revelar motivação dos personagens. Enquanto o filme nos deixa curiosos para saber o que aconteceu, os primeiros flashbacks fazem o paralelo da personagem, sem revelar absolutamente nada. Pode parecer estranho falando dessa forma, mas funciona quase como se fossem duas tramas correndo em paralelo. Antes de sabermos o que aconteceu, vamos conhecer a rotina de Erin no passado e aos poucos entendendo o que ela passou e o que ela fez para carregar tudo que carrega por tantos anos. Ao mesmo tempo, no presente, acompanhamos Erin quebrada, querendo ter paz com sua mente e, no meio disso tudo, ainda tenta ficar de olho em sua filha.

E tudo isso é muito bem escrito. O equilíbrio entre passado e presente beira a perfeição, o ritmo de ambos anda junto, e realmente parece que estamos acompanhando duas tramas em paralelo. A tensão cresce junto e você se pega vidrado, querendo saber se ela vai resolver o caso e ao mesmo tempo o que aconteceu no bendito assalto que a quebrou.

É muito complicado falar de atuação aqui. O filme inteiro é dominado pela Nicole Kidman, que, sinceramente, está sensacional. Com toda a certeza entra para a galeria das melhores de sua carreira: toda a amargura e o enrijecimento da detetive são mostrados com perfeição pelo olhar. Sabemos de cara que aquela pessoa passou por muitas merdas e está completamente quebrada, e quando ela vai resolvendo o caso surge uma fagulha de ferocidade, para no final a paz finalmente surgir.

A atriz também possui outros momentos de brilho na trama com sua filha, apesar de esta não ter muita diferença na estória, servindo basicamente para mostrar que a detetive ainda possui humanidade, mas no final acabou me emocionando.

Sebastian Stan é quem mais tem tempo de tela junto de Nicole e aparece bem. Seu personagem tem uma grande importância para a detetive, e é o centro do que aconteceu com ela para virar a mulher que virou. Seu personagem é focado e seus valores são mostrados desde o começo: ele sabe o que tem que fazer e sua decisão no final é completamente condizente com sua personalidade, e mesmo já sabendo seu destino, me peguei torcendo para que, de alguma forma, fosse diferente.

O elenco de apoio… bom, apoia bem! Como eu disse, praticamente ninguém tem muito destaque, mas temos Tatiana Maslany e Toby Kebbell muito bem, este último consegue mesmo quando não aparece, ter toda uma presença em volta da detetive.

Com uma trama simples, mas muito bem construída, roteirizada e principalmente atuada, “O Peso do Passado” é um filme que se destaca bastante, e possui uma virada completamente inesperada no final, que olha, vai te surpreender bastante! E vai te querer fazer assistir mais uma vez, por mudar a forma de acompanhar os acontecimentos durante o filme. A forma escolhida para o andamento da trama, junto com a atuação de Nicole Kidman, são o grande destaque do filme, que provavelmente e infelizmente não vai ter muito destaque. Não vai ser muito comentado por ser um filme pesado e tratar de assuntos fortes sem dramatização, e por tudo ser muito realista, as vezes até seco de mais, além de não possuir um final feliz.

Texto escrito por:

Gustavo Adriano

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