Parem de dar ouvidos ao barulho dos idiotas - artigo - Cinem(ação)
Bohemian Rhapsody
Cinema e algo mais

Parem de dar ouvidos ao barulho dos idiotas

Já faz um tempo que eu quero escrever sobre isso. Não sabia como, tive várias ideias, mas agora é a hora.

Eu lembro que há algumas semanas, quando o filme Bohemian Rhapsody estava bombando nos cinemas, começaram a noticiar que as pessoas estavam vaiando os momentos em que Freddie Mercury beijava um outro homem. Revoltados, nós começamos a bradar aos quatro cantos nossa revolta quanto ao preconceito instalado nas pessoas, que foram ver um filme sobre a história do Queen e do Freddie Mercury sem saber ou imaginar que o filme teria tais cenas.

Não demorou muito para que, na mesma semana, fossem lançados o primeiro teaser do filme “live-action” de O Rei Leão, e o teaser da Netflix para a exibição do anime Evangelion. Com isso, há quem tenha declarado ideias malucas, como a de que a estreia de um novo filme do leão da Disney deveria ser para quem é “velho” e viu o longa no cinema, comprou a tal da “fita verde”, com aquele discurso de que “este momento é nosso”, em contraponto à tal da “geração Nutella” que assiste tudo com facilidade no streaming.

A outra ideia que parece ter surgido diria que o anime “Evangelion” deveria pertencer, de alguma forma, aos pobres coitados que sofreram para baixar o desenho nos antigos sites de download dos primórdios da internet, ou àqueles bravos guerreiros que enfrentaram o sofrimento de acompanhar o desenho no finado canal de TV a cabo “Locomotion”.

 

Mas tudo isso só aconteceu porque demos voz a um bando de idiotas!

Eu não estou dizendo que esses três fatos não ocorreram. Podem muito bem ter ocorrido: alguns idiotas devem realmente ter vaiado as cenas de “beijo gay” do Freddie Mercury, algum ser humano brincalhão fez um meme dizendo que “esse momento é só nosso”, e tuiteiros de plantão podem ter achado ruim que o anime preferido deixaria o submundo para ser visto por todos na Netflix.

O grande problema é que, assim como em outros âmbitos da sociedade, a rapidez da comunicação na internet permitiu dar voz aos idiotas, e o que é pior: reverberar ainda mais o que eles dizem.

Note, por exemplo, a repercussão das “vaias aos beijos” em Bohemian Rhapsody: começou com um depoimento no Facebook, alguns tweets com coisas do tipo “na sessão que fui, um cara vaiou”, e diversas matérias nos mais variados portais de notícias sobre a repercussão nas redes sociais, destacando sempre as mesmas publicações. O resto são apenas milhares de usuários discutindo o assunto, reclamando dos preconceituosos ou questionando a estupidez de quem faz algo assim.

No caso de “O Rei Leão”, apenas um meme foi espalhado pelas redes. “Esse momento é só nosso”, dizia ele, enquanto relembrava com saudosismo o fato de o desenho da Disney ter sido visto e revisto em fitas cassete. O mesmo com quem reclamou que Evangelion na Netflix supostamente tiraria o status “cult” da série japonesa.

 

Demos vozes aos idiotas porque idiotas geram cliques

Eu entendo, e confesso que eu mesmo cheguei a repercutir o assunto no twitter, reclamando que de fato existem pessoas que pregam o “privilégio” à geração que viu O Rei Leão na fita verde, por exemplo. Isso gera polêmica, e polêmica gera clique, repercussão, RT, compartilhamento, etc.

É aí que mora o problema. Imbecis existem, sim! Mas foram pouquíssimos, e mereciam ter sido ignorados. No entanto, preferimos expor suas ideias e ações na internet, dando a essas pessoas ainda mais visibilidade acerca de suas idiotices.

Os idiotas são poucos, mas fazem muito barulho. Tudo o que não precisamos é dar um alto-falante a eles.

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