Crítica: Apóstolo (Apostle, 2018) – Original Netflix
Apóstolo é um bom acerto da Netflix.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Gareth Evans
Elenco: Dan Stevens, Paul Higgins, Michael Sheen
Nacionalidade e lançamento: Reino Unido e EUA, 2018 (12 de outubro na Netflix)
De cara vale ressaltar que Apóstolo tem classificação indicativa de 18 anos e isso se deve pelo alto teor de violência. Então se você tiver problemas com essa questão, principalmente com sangue, talvez Apóstolo não seja a melhor opção.
Escrito e dirigido por Gareth Evans (Operação Invasão 1 e 2), o longa conta a história de um homem Thomas Richardson (Dan Stevens, A Fera do Bela e a Fera) que tenta resgatar a irmã de uma seita religiosa que a sequestrara. Para isso, ele se infiltra em uma ilha onde esta sociedade se instaurou. Uma série e mistérios e atitudes estranhas povoam os habitantes locais.
O nosso protagonista desde o início se mostra capaz de não medir esforços para a empreitada. O que facilita o engajamento, mostra as habilidades dele, mas tira o título de herói puro. A figura dele transita entre um sorriso amigável quando necessário e um desprezo por aqueles que julga não poder ajudá-lo. Além disso, ele carrega na pele marcas de um passado tortuoso.
O fanatismo dos habitantes é muito bem retratado, seja pelos fiéis, seja por aqueles que gerenciam o local – não é difícil imaginar que fé não é o único motor por parte dos chefes, mas tal como Thomas, eles também são capazes de tudo para um objetivo: no caso manter a ilha e prosperar, ainda que precisem sequestrar e fazer sacrifícios.
A fotografia fria dá o tom de início de século XX. E mesmo em certa penumbra, o filme nunca deixa o espectador às escuras. Há uma alternância de planos abertos e fechados que exploram bem a paisagem como um todo e detalhes. Esse domínio do que é mostrado é um dos grandes méritos aqui.
Apesar de desnecessariamente longo, a montagem trabalha em uma velocidade crescente e recompensante. O primeiro ato tem alguma lentidão que condiz com a situação do personagem, de descoberta e ir tateando onde ele pode encontrar a irmã e em quem confiar. Já no último, após diversos acontecimentos, a coisa explode e a ação fica intensa.
A trilha, junto com o design de produção e a fotografia, ajuda a compor o cenário de modo bem imersivo. Em alguns momentos há sustos por parte dela, mas sem usar em momento algum do famigerado jumpscare. O terror vem dos acordes pesados e precisos, sem apelar para saídas fáceis de algo pulando na tela.
O horror aqui vem de um pé no sobrenatural, mas principalmente das atitudes mundanas. Momentos de tortura são aplicados sem parcimônia pelos personagens e por consequência pelo filme. Da tortura mais explícita, perfurando corpos, até uma mental usando o fator religioso como lavagem cerebral.
Os personagens secundários preenchem os espaços com diversidade de personalidades. São significativos e tem arcos produtivos. Contudo, o foco está em Thomas e na jornada pela irmã, quase um mcguffin. A entrega de Dan Stevens é essencial para o sucesso de Apóstolo.
Alguns temas como a questão da natureza e o sexo – tudo envolto em fé/religião – lembram de raspão os filmes mãe! e A Bruxa. E tal como aqueles dois, Apóstolo deve dividir o público. Há menos símbolos aqui que nos filmes citados, mas ainda assim pode ir contra as expectativas de muitos que estão acostumados com os filmes de terror mais populares.