51º Festival de Brasília – Marés e Luna – dia 4
O 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro chega ao quarto dia (terceiro da mostra competitiva e primeiro da Mostra Brasília). Na noite foram exibidos 5 filmes, 3 curtas e 2 longas.
Segundo dia (Mostra Competitiva): Boca de Loba, Kairo, Torre das Donzelas e Los Silencios
Terceiro dia (Mostra Competitiva): Liberdade, Sempre Verei Cores no seu Cinza e New Life S.A.
Vamos ao dia 4 do Festival de Brasília:
Mostra Brasília:
Curtas:
Para minha gata Mieze:
Ficha técnica: De Wesley Gondim, 25min, ficção, 16 anos, 2018. Elenco: João Campos, Sérgio Sartório e André Araújo
Sinopse: Francisco, um jovem veterinário, em suas horas vagas cuida de gatos de rua abandonados. Um dia Francisco é perseguido por homofóbicos…
O filme é um suspense /horror que trata da história de um dono de uma Pet Shop que sofre ataques homofóbicos. Paralelo a isso, ele flerta com um dos clientes. Não demorei para matar a charada proposta, contudo nem por isso o curta diminuiu a tensão e conseguiu manter atenção os (longos) 25 minutos. A montagem é um tanto dura, apelando para a tela preta e deixando algumas passagens carecendo de uma certa lapidação. Os atores, em especial o protagonista, sustentam bem as várias emoções. Nota: 3/5
O Homem Banco:
Ficha técnica: de Cícero Fraga, 11min28s, ficção, 12 anos, 2017. Elenco: Daniel Lacourt, Maíra Moraes, Vini Martins e Julia Henning
Sinopse: curta performático que mostra como, pouco a pouco, um rapaz abre mão da convivência social e das relações interpessoais para se tornar apenas um objeto: um banco de madeira. Unindo linguagem cinematográfica e dança, o filme é um experimento que coloca o movimento dos corpos e as coisas do cotidiano em primeiro plano.
A sinopse resume bem o que é o filme: uma performance poética sobre um homem banco (objeto pra sentar e não instituição financeira). Uma narração em off ilustra os anseios do banco em um texto bem raso. Apesar de bem fotografado (tônica deste Festival) e do uso circense do corpo dos atores, a mensagem soa um tanto pobre. Nota: 1,5/5
Marés:
Ficha Técnica: de João Paulo Procópio, 84min29s, ficção, 14 anos, 2018. Elenco: Lourinelson Vladmir, Julieta Zarza, Sérgio Sartório, Fernanda Rocha, Vinícius Ferreira, Bianca Terraza e Camila Guerra
Sinopse: recém-separado, Valdo se vê desafiado a encarar o alcoolismo a fim de não perder a guarda da filha.
Acompanhamos a trajetória de um homem na luta contra o vício. Valdo, fotógrafo, precisa tentar trocar o estilo etílico para não ter mais perdas. Quase 100% do tempo a câmera buscando o protagonista em um ciclo eterno de sucessos e recaídas. Lourinelson Vladmir, que faz o papel principal, teve uma das melhores atuações do festival, a melhor da Mostra Brasília, precisando alternar diversos sentimentos e sem cair no caricato ou em uma artificialidade. Alguns bons diálogos cotidianos entrecortados pela presença carregada de um texto político que só tira força (tal qual o filme Domingo, exibido no primeiro dia). É quase um fanservice para os que preferem esse lado. Apesar de consistente, Marés acaba repetitivo, talvez de forma intencional como já demonstra o título. Há um bom uso do espaço urbano, algo que na Mostra Brasília pode pesar favoravelmente. NOTA: 3,5/5
MOSTRA COMPETITIVA:
Curta:
Mesmo com Tanta Agonia:
Ficha técnica: direção: Alice Andrade Drummond. Ficção, 20 min, 2018, SP, 10 anos. Elenco: Maria Leite, Preta Ferreira; Rillary Rihanna Guedes, Rogério Bandeira; Olanias Silva, Julia Inhota
Sinopse: É aniversário da filha de Maria. No trajeto do trabalho para a festa, ela fica presa no trem, em função de uma pessoa caída acidentalmente sob os trilhos.
O filme é dividido em duas parte. Na primeira, acompanhamos a rotina da mãe: o final do expediente e as desventuras no transporte público. Nos (longos) minutos finais temos a filha, juntos com amiguinhas, fazendo coisas de criança. À semelhança de um Projeto Flórida, quando o filme usa boa parte dele para mostrar as crianças aprontando, perde-se completamente a mão e fica a apelação da criança fofa para arrancar risinhos do público. A agonia do título vem pelas vias tortas. Nota: 1/5
Longa:
Luna:
Ficha técnica: Direção: Cris Azzi. Ficção, 90 min, 2018, MG, 16 anos. Elenco: Eduarda Fernandes, Ana Clara Ligeiro, Lira Ribas, Manu Maria, Hewrison Ken, Paulo André, Matheus Soriedem, Guto Borges
Sinopse: Luana é uma adolescente introvertida, criada por sua mãe solteira. No primeiro dia de aula do último ano escolar, ela conhece Emília, também filha única, mas com pais ricos que vivem viajando. Sentindo a mesma solidão em contextos totalmente diferentes, as duas se tornam amigas. Mas a promessa dessa amizade intensa e explosiva é interrompida, quando Luana tem sua intimidade exposta nas redes sociais. Diante de uma situação cada vez mais opressiva, ela terá que descobrir quem realmente é: a menina que se esconde ou a mulher que se revela?
Luna tem diversos méritos. A história sabe bem o que quer nos mostrar e o faz com um texto, quase sempre, bem certeiro. Retratar adolescentes é complicado por ser tentador cair em alguns clichês ou transformá-los em idiotas (mais do que eles normalmente os são). Cris Azzi sai quase sem arranhões dessa difícil tarefa. Há tanto momentos banais (como as menianas brincando de cócegas ou dançando), quanto questões sexuais e de drogas e álcool. A parte sexual, muito forte aqui, é tratada com todo o carinho e importância. O corpo das meninas é exposto na medida certa, sem sensacionalizar e sempre com muita suavidade (obtendo a sensualidade necessária, além de outros objetivos bem intencionados). Os subtextos agregam demais. Em especial o uso da internet e a exposição que isso pode causar
As atrizes vão surpreendentemente bem. O texto e a exigência física não são fáceis e elas dão conta com louvor mesmo com a baixa idade. A jovem Eduarda Fernandes já figura como uma das favoritas ao prêmio da categoria.
Como nota negativa, cito três pontos: 1 – há um prólogo que acaba quebrando a linearidade e tal opção é uma faca de dois gumes, eu tendo a ver mais pontos negativos de entregar parte do desfecho ali. 2- Os personagens adultos e parte dos personagens masculinos são renegados a um segundo plano. Toda vez que o filme sai da interação entre as duas personagens principais, ele perde força. 3- Luna tem toda uma pegada realista e mais pro final há uma cena “poética” que destoa completamente.
Felizmente, depois dela temos duas cenas maravilhosas. Uma que opta-se por uma abertura no plano e tal movimento faz todo sentido naquele contexto. E a outra é uma cena durante os créditos, após o letreiro final. Esta cena tem um potencial de impactar grandes plateias e pela amostra na sessão do Festival, esse potencial foi plenamente atingindo. A cena em si é um soco e lamento não poder contá-la aqui, pois estragaria, contudo saibam que foi um desfecho daqueles marcantes. Nota: 3,5/5
Estou fazendo a cobertura em parceira com os sites Razão de Aspecto, O Sete e Louco por Filmes
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