1001 Filmes para Ver Antes de Morrer - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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1001 Filmes para Ver Antes de Morrer

Aqueles que gostam de cinema, se nunca leram, com certeza já ouviram falar do livro 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer, um verdadeiro manual de filmes dos mais diferentes gostos e épocas. O próprio título já entrega a proposta da obra, que é dar ao leitor um ‘cardápio’ do que de melhor e mais importante foi produzido pelo cinema – do início do século 20 aos dias atuais -, mostrando assim os filmes que fizeram a história da Sétima Arte. O livro cita cada obra (muitas delas ilustradas com fotos), apresentando, além de análises críticas, uma ficha técnica com a nacionalidade do filme, duração, idioma, diretor, produtor, roteirista, fotógrafo, autor da trilha sonora, elenco, quantos Oscars ganhou, quantas indicações ao Oscar obteve, se ganhou algum prêmio no Festival de Cannes e BAFTA. No início dos comentários de cada obra, temos, além do título aqui no Brasil, o título original e o ano de produção.

Enquanto alguns guias de filmes como o DVD News (de Rubens Ewald Filho) e o Guia de Vídeo e DVD da editora Nova Cultural traziam filmes lançados no mercado de Home Vídeo, o 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer vai além, trazendo um número maior de filmes e com informações mais abrangentes sobre cada um deles, em um pouco menos de mil páginas de muito conteúdo.

 

“O Gabinete do Dr. Caligari é a pedra angular de uma corrente de cinema fantástico e bizarro que surgiu na Alemanha na década de 20 e está ligada, de certa forma, ao movimento artístico expressionista.” – O Gabinete do Dr. Caligari (1919)

 

O crítico norte-americano Steven Jay Schneider, editor do livro, escreve em sua introdução: “Conforme seu título já sugere, 1001 filmes para ver antes de morrer é um livro que busca não apenas informar e sugerir, mas também motivar; transformar leitores curiosos em espectadores apaixonados e deixar claro que a pressão é imensa, o tempo é curto e o número de filmes que devem ser assistidos se tornou realmente grande (…)

O livro que você tem em mãos assume um grande risco ao oferecer uma lista de filmes imperdíveis que abrange todas as épocas, gêneros e países. Contudo, este é um risco que vale a pena correr e, se você tiver disposto a ver todos os filmes discutidos aqui, pode ter certeza de que morrerá um cinéfilo feliz. Resumindo: quanto mais filmes que você vir, melhor” (…).

 

“O filme foi, em todos os aspectos, o projeto mais elaborado da carreira de Chaplin.” – Em Busca do Ouro (1925)

 

Sim, a ideia e a proposta são muito boas. Há, porém, algo que ser precisa ser analisado. Uma obra que contém filmes de todas as épocas e de todos os gêneros só serão realmente vistos por verdadeiros amantes da Sétima Arte dispostos a encarar este grande desafio. Até mesmo entre grandes cinéfilos há uma certa resistência a um ou outro tipo de gênero fílmico. Alguém gosta de drama, mas pode não gostar de western; alguém pode gostar de comédia, mas pode não ter paciência para filmes de ficção científica ou musical. O que dizer de documentários, vistos como algo chato por muita gente.

 

“Sintetizando o espírito hollywoodiano clássico, O Grande Motim, de Frank Lloyd, é uma obra-prima do cinema de estúdio.” – O Grande Motim (1935)

 

Além dos gêneros, outro fator que pode afastar parte do público em relação a ver todos os filmes contidos no livro é o ano de produção das obras. Muita gente se esquiva de produções do cinema mudo, enquanto outras preferem acompanhar filmes apenas dos anos 60 ou 70 em diante. Há também o fato de algumas pessoas não gostarem muito de movimentos como o Neorrealismo Italiano e a Nouvelle Vague. Não é todo mundo que está disposto em “embarcar” em uma intensa jornada de ver 1001 filmes dos mais diferentes tipos. É uma empreitada para poucos.

 

“Essa obra-prima é geralmente considerada – e com justiça – uma das peças-chave do Realismo Italiano.” – Ladrões de Bicicleta (1948)

 

Podemos nos perguntar se não é pretensão editores acharem que podem julgar quais são os 1001 filmes essenciais do cinema, e se o número 1001 abrangeria realmente todos, ou até mesmo se há mesmo tantos filmes que seriam essenciais para ver antes de morrer. Mas todo mundo tem o direito de fazer sua seleção dos melhores disso ou daquilo. Claro que, em meio a dezenas de milhares de filmes já produzidos, muitos deles merecem ser assistidos (e muitos talvez não), mas isso fica a cargo de cada um.

 

“Essa cena foi parodiada diversas vezes e é uma pena que tenha passado a representar todo o filme no imaginário popular.” – O Sétimo Selo (1957)

 

Listas são listas e estão sempre sujeitas a debates e críticas. Meus 1001 filmes essências do cinema com certeza não são os mesmos 1001 filmes aos olhos de outros cinéfilos e admiradores do cinema. Isto explica a ausência de alguns filmes no livro. Alguém certa vez lembrou, por exemplo, que o elogiado filme “Sociedade dos Poetas Mortos” não está na lista desses 1001 filmes, o que constitui, por assim dizer, em uma falha grave. Também podemos discordar de um ou outro que esteja na lista, e dizer: “Eu poderia sim morrer sem ter visto esse filme”.

 

“O hilariante desempenho de Sellers em papel triplo é legendário, mas todo o elenco dá uma aula em marcações exageradas e perfeitamente executadas.” – Dr. Fantástico (1964)

 

No entanto, um livro é aquilo que foi publicado e não podemos alterá-lo ou subtraí-lo, então devemos encará-lo tal e qual ele é. Sendo assim, vejamos alguns aspectos da obra. Assim como em outros países, o livro 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer passa por modificações a cada edição. As mudanças mais visíveis são algumas obras adicionadas e outras retiradas. Claro que isto pode gerar um descontentamento por parte de alguns leitores e cinéfilos. Confesso que eu jamais teria retirado o filme “Desejo e Reparação”, como eles fizeram entre uma edição e outra.

 

“Solaris é um argumento contra a ambivalência da realidade vivida a favor da satisfação abrangente das fantasias.” – Solaris (1972)

 

O livro não traz grandes surpresas, escolhendo muitas obras que você geralmente encontra em listas dos melhores filmes já produzidos. O primeiro filme (na verdade um curta) é o pioneiro “Viagem à Lua” (1902. Direção de Georges Meliès), seguido de outro curta “O Grande Roubo do Trem” (1903. Direção de Edwin S. Porter), passando por obras como “Intolerância” (1916. Direção de D. W. Griffith), “Nosferatu” (1922. Direção de F. W. Murnau), “O Encouraçado Potemkin” (1925. Direção de Sergei M. Eisenstein), “Metrópolis” (1927. Direção de Fritz Lang), “A General” (1927. Direção de Buster Keaton), “A Caixa de Pandora” (1928. Direção de Georg Wilhelm Pabst), “Sem Novidades no Front” (1930. Direção de Lewis Milestone), “King Kong” (1933. Direção de Mervin C. Cooper), “Uma Noite na Ópera” (1935. Direção de Sam Wood), “Tempos Modernos” (1936. Direção de Charles Chaplin), “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937. Direção de David Hand), “E o Vento Levou” (1939. Direção de Victor Fleming), “Cidadão Kane” (1941. Direção de Orson Welles), “O Falcão Maltês” (1941. Direção de John Huston), “Casablanca” (1942. Direção de Michael Curtiz), “A Felicidade Não se Compra” (1946. Direção de Frank Capra), “Os Sapatinhos Vermelhos” (1948. Direção de Michael Powell e Emeric Pressburger), “Crepúsculo dos Deuses” (1950. Direção de Billy Wilder), “Rashomon” (1950. Direção de Akira Kurosawa), “Uma Rua Chamada Pecado” (1951. Direção de Elia Kazan), “O Salário do Medo” (1953. Direção de Henri-Georges Clouzot), “Rastros de Ódio” (1956. Direção de John Ford), “Ben-Hur” (1959. Direção de William Wyler), “Amor, Sublime Amor” (1961. Direção de Robert Wise e Jerome Robbins), “Lawrence da Arábia” (1962. Direção de David Lean), 8 1/2 (1963. Direção de Federico Fellini), “Os Pássaros” (1963. Direção de Alfred Hitchcock), “Laranja Mecânica” (1971. Direção de Stanley Kubrick), “O Poderoso Chefão” (1972. Direção de Francis Ford Coppola), “O Exorcista” (1973. Direção de William Friedkin), “Chinatown” (1974. Direção de Roman Polanski), “Um Estranho no Ninho” (1975. Direção de Milos Forman), “All That Jazz” (1979. Direção de Bob Fosse), “Touro Indomável” (1980. Direção de Martin Scorsese), “Blade Runner – O Caçador de Androides” (1982. Direção de Ridley Scott), “Memórias do Cárcere” (1984. Direção de Nelson Pereira dos Santos), “Asas do desejo” (1987. Direção de Wim Wenders), “Akira” (1988. Direção de Katsuhiro Otomo), “Os Imperdoáveis” (1992. Direção de Clint Eastwood), “A Lista de Schindler” (1993. Direção de Steven Spielberg), “Titanic” (1997. Direção de James Cameron), “Matrix” (1999. Direção de Lilly Wachowski e Lana Wachowski), “Amnésia” (2000. Direção de Christopher Nolan), “A Viagem de Chihiro” (2001. Direção de Hayao Miyazaki), “Fale com Ela” (2002. Direção de Pedro Almodóvar), “Oldboy” (2003. Direção de Chan-wook Park), “O Labirinto do Fauno” (2006. Direção de Guillermo del Toro), entre centenas de outros, só para ficar entre os mais conhecidos.

 

“Dos 1001 filmes que você precisa ver antes de morrer, Ran está, com certeza, entre os 10 primeiros.” – Ran (1985)

 

Se a gente se propõe a ver os 1001 filmes citados no livro, nos esbarramos em outros filmes de fora que vão nos “seduzindo” pelo caminho e nos desviando, “atrasando” assim a nossa missão. Então, o melhor a fazer seria ler o livro e escolher quais filmes poderiam ser assistidos antes, dando prioridade aos mais importantes entre os listados. Com isso, chegamos ao grande defeito do livro 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer: ele contém spoilers, muitos spoilers.

 

“Na verdade, é demasiado inteligente, divertida e muito bem acabada para ficar restrita ao público infantil.” – Toy Story (1995)

 

Em se tratando de um guia fílmico, a obra poderia (e deveria) se limitar a resenhas de filmes que não estragassem o prazer do espectador com revelações surpresas e nem informar como o filme termina. O cinéfilo que não gosta de spoilers (poucos gostam) com certeza não avançará na leitura desse livro sem antes ter assistido ao filme. Quando não dá grandes spoilers, o livro acaba revelando alguns fatores que você com certeza gostaria de ver apenas durante a exibição do filme. Os spoilers não estão em todos os textos (escritos por autores diferentes), mas a essa altura já não dá para correr o risco de ser (negativamente) surpreendido. Não tem como adivinhar quais textos estão sem spoilers.

 

“É uma obra firmemente enraizada em tom e ritmo na cinematografia norte-americana do final do século XX e do início do XXI.” – Cidade de Deus (2002)

 

Outra falha do livro é em relação aos prêmios. Dá para reparar alguns erros quanto a alguns prêmios recebidos ou suas indicações. Um exemplo é quando eles citam que o filme “Apocalypse Now” ganhou os Oscars de melhor filme, direção, roteiro, fotografia e som, quando na verdade o filme só ganhou os dois últimos prêmios. Melhor filme, direção e roteiro daquele ano foram para o drama “Kramer vs. Kramer”. Mas é uma falha menor que pode ter sido (ou não) corrigida em novas edições.

1001 Filmes para Ver Antes de Morrer talvez seja mais importante para alguns como registro histórico do cinema em suas várias fases, épocas e estilos, do início até os dias de hoje, do que propriamente como uma ideia que possa vir a ser totalmente seguida e executada. Mas não deixa de ser um indispensável guia de consulta para cinéfilos e estudiosos.

 

Imagem da capa: Biel José

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