Filha de Ninguém (Hong Sang-soo, 2013) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Filha de Ninguém (Hong Sang-soo, 2013)

Filha de Ninguém (Noogooui Daldo Anin Haewon, Coréia do Sul, 2013) Direção: Hong Sang-soo

Hong Sang-soo vai de desencontro com o cinema popular sul-coreano, principalmente em relação à narrativa, mas sem dúvida nenhuma se trata de um realizador mágico, que hipnotiza aqueles que assistem os seus trabalhos, transformando assim movimentos simples e personagens comuns em extraordinários. Existe uma beleza intrínseca no registro da verdade e nem sempre ela está enraizada com a surpresa. Existe um milagre escondido em todos aqueles que encontram o inesperado em meio à rotina.

O maior mérito do diretor é justamente não soar cansativo mesmo em meio à pouquíssimos movimentos de câmera, isso acontece por uma série de competências, principalmente na naturalidade da narrativa que apresenta personagens centrais cativantes, singelos e diálogos brilhantemente delicados. Hong Sang-soo é verdadeiro mestre do acaso.

Filha de Ninguém (2013) acompanha a história de Hae-Won (Jeong Eun-Chae) que fica chateada com a iminente despedida da mãe, cuja partida está marcada para o Canadá, e, logo em seguida, se depara com conflitos emocionais movidos por uma relação secreta com o professor Sung-joon, a qual a protagonista pretende acabar.

Essa premissa funciona como uma porta de entrada para diversos silêncios contemplativos que, em uma primeira camada, não significam muita coisa, mas que subtendem diversos elementos dramáticos, sendo a maioria relacionados com as relações humanas. Amizades, amorosos ou meras conversas com desconhecidos, o indivíduo é construído através de trocas de experiências. No final da obra, certamente Hae-Won evolui, mas jamais de forma exagerada, pois transformações demandam muito tempo, o filme é inteligente em recusar essa preocupação que envolve a maiorias dos filmes: contemplar todo um processo de mudança da personagem. Não vemos Filha de Ninguém (2013) o processo todo, apenas trechos esporádicos na vida de alguém que se sente carente, que procura a si mesma nos diálogos que têm e que sorri para esquecer o medo de enfrentar a vida adulta – e uma prova disso é citado duas vezes que Hae-Won quer comprar um livro, mesmo que internamente acredite que já o tenha em casa.

O estilo do diretor é singular, dotado de uma coragem espetacular, ele se apoia na identificação daqueles que assistem no seu texto. Estilo que certamente pode desagradar muitos mas que funciona como um filtro de sensibilidade. Me peguei profundamente emocionado com a sutileza das câmeras precisamente estáticas e os movimentos inteligentes dos personagens no quadro, dá a sensação de que se trata de pessoas intrusas naquela determinada paisagem, como se o mundo fosse muito mais do que um ou dois, mas que, através delas, ganha cores e se torna inesquecível. A naturalidade das relações são impressionantemente  banais e profundas, mesmo no seu término. Ainda bem que Hong Sang-soo nos lembra disso a cada novo trabalho.

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