REFLEXÕES PÓS FILME: DIA DOS MORTOS - A DERROTA DA VIOLÊNCIA - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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REFLEXÕES PÓS FILME: DIA DOS MORTOS – A DERROTA DA VIOLÊNCIA

(Esse texto contém spoiler do filme)

O nome de George Romero já está marcado para sempre na história do cinema, pois redefiniu o subgênero de Zumbi (antes relacionado com feitiçaria e controle mental) fazendo com que essas criaturas soassem muito mais amedrontadoras já que a partir de A noite dos Mortos Vivos elas não teriam mais um objetivo definido, mas sim uma irracionalidade voraz e uma fome insaciável de carne humana. Porém mais do que nos deixar uma criatura assustadora ele nos deixou algo para refletir, seus monstros não são meras bestas, são um reflexo exagerado do que nós seres humanos somos por natureza. Em a Noite dos Mortos Vivos os zumbis são um mero escape para discutir as tensões raciais nos Estados Unidos na década de 60 e 70 e sua sequência Despertar dos Mortos Vivos as criaturas são usadas como personificação da sociedade de consumo andando em meio ao Shopping buscando um prazer que jamais terão.

Entretanto é em Dia dos Mortos, quase vinte anos após seu primeiro filme, que George Romero mais uma vez surpreende ao utilizar suas criaturas como fonte de uma nova discussão: a desumanização por meio da violência militar. Logo no começo do longa conseguimos ver a tensão no grupo de sobreviventes que são divididos entre o bloco dos cientistas e o bloco dos militares. Enquanto o primeiro grupo quer entender o que está acontecendo e arranjar uma solução para o apocalipse, o segundo quer apenas sobreviver dia após dia matando os zumbis para não serem mortos pelas criaturas. E essa tensão entre os dois grupos só vai aumentando pelo grande tempo necessário para realizar um estudo mais aprofundado, afinal quando estamos em uma situação de estresse tendemos a querer uma solução rápida e fácil que seria ideal para os militares saírem pelo mundo matando o máximo de criaturas possíveis, porém como o próprio cientista fala “Para onde nós iríamos?” essa pergunta é pertinente para entendermos como a medida da violência é apenas algo paliativo para uma questão complexa que temos pavor de demorar para solucionar.

Então chegamos ao ponto final da tensão quando o cientista começa a ensinar um dos zumbis a raciocinar e percebe-se que por trás da fome irracional temos um subconsciente que ainda se lembra da vida humana e é justamente essa humanização da criatura que quebra o fraco elo entre os dois grupos, mas porque isso? O horror dos militares ao ver uma criatura decrépita agir como um humano é apenas uma emoção que lhes remete ao verdadeiro medo, o de saber o que estão matando. Quando os militares não sabiam a violência era apenas uma questão de sobrevivência, como já vimos no longa Nascido para Matar de Stanley Kubrick e recentemente em um episódio de Black Mirror, transformar o outro em um monstro irracional é a melhor forma de você fazer alguém obedecer uma ordem de matar outrem. Exatamente nesse momento que o grupo de sobreviventes entram no declínio total e são pouco a pouco e um a um consumidos pelos zumbis que ironicamente agem em grupo sem se importar com hierarquia ou comando.

Logo após essa catarse de George Romero não tem como não imaginar nosso mundo real que mesmo tendo passado por diversas guerras ainda não aprendemos nada e continuamos a guerrear, matar outras pessoas e pouquíssimo fazemos para tentar melhorar isso. Os investimentos em gastos militares só aumentam nos EUA, China, Rússia, entre outras potências e isso é algo que não vai mudar em um curto prazo de tempo. Enquanto pessoas são mortas em Israel/Palestina, Síria, Rio de Janeiro e entre tantos outros conflitos militares os Zumbis de Romero vão tentando nos ensinar a ser mais racionais, espero que eles caminhem um pouco mais rápido.

 

Textos utilizados para criação do artigo:

https://rebeca.emnuvens.com.br/1/article/view/312
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792013000100003
http://pt.euronews.com/2017/04/25/gastos-militares-aumentam-nos-eua-e-europa
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=quanto-o-mundo-gasta-em-ciencia&id=010175130529#.WqhrVudrzIU

 

 

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