Black Mirror S04xE01: USS Callister
Análise do episódio USS Callister, da 4ª temporada de Black Mirror
Ficha técnica:
Direção: Toby Haynes
Roteiro: Charlie Brooker, William Bridges
Elenco: Cristin Milioti, Jesse Plemons, Jimmi Simpson, Michaela Coel, Osy Ikhile, Milanka Brooks, Billy Magnussen,
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (29 de dezembro de 2017)
Sinopse (Netflix): Esta série antológica de ficção científica explora um futuro próximo onde a natureza humana e a tecnologia de ponta entram em um perigoso conflito. Neste episódio, uma mulher acorda em uma nave do tipo “Star Trek”, onde toda a equipe teme o poderoso capitão Daly.
Black Mirror é com certeza a série mais instigante e intrigante dos últimos anos. Seus episódios antológicos são na sua maioria um espetáculo visual e de roteiro. É incrível como os criadores da série conseguem fazer algo tão diferente mas tão coeso. O universo de Black Mirror se conecta e se completa.
Dia 29/12 estreou a esperada quarta temporada na Netflix. Nós do Cinem(ação) nos juntamos para escrever uma crítica da temporada. Cada um dos participantes irá escrever sobre um episódio. E o episódio que eu irei escrever é o episódio número 1 USS Callister.
Como em Black Mirror quanto menos souber melhor irei dividir essa crítica em duas partes. A primeira irei falar sobre o episódio sem spoiler, falando de atuação, design de produção, roteiro. Na segunda parte irei discutir com spoiler o que o episódio quis passar e lógico os easter eggs que existem no episódio. Então vamos lá?
USS Callister é o nome de uma nave comandada pelo comandante Daly (Jesse Plemons). Tudo parece em paz e o comandante parece comandar a nave sem dificuldades e é amado por todos. Até a chegada da recruta Cole (Cristin Milioti) que vai mudar pra sempre a rotina da nave. Nada será como antes.
O episódio é uma verdadeira homenagem/sátira de Jornada nas Estrelas. O design de produção perfeito faz uma bela homenagem à franquia. O figurino, as personagens, e até as posições na nave lembra as séries e os filmes. Além, é lógico da trilha sonora com notas e nuances da trilha sonora original de Jornada nas Estrelas.
Um dos grandes acertos do episódio é o elenco, em especial Jesse Plemons e Cristin Milioti. Plemons consegue criar um personagem multifacetado que se revela aos poucos quem realmente é. Não tem como falar muito sem dar spoiler, basta dizer que ao início temos uma ideia dele e ao final essa ideia mudou totalmente. Já Milioti, mostra que é muito mais do que a Sra. Ted Mosby de How I Meet Your Mother. Sua personagem mostra impetuosidade e inocência sem nunca soar forçado. Ela pode se dizer que é a engrenagem que faz tudo seguir em frente. Vale também destacar Jimmi Simpson que também é um personagem multifacetado. Ele consegue mostrar todas as nuances necessárias nos momentos propícios. Ele mostra medo, tristeza, descontentamento, raiva, é caricato, tudo de forma tão natural que é admirável.
E como não podia deixar de ser, o roteiro é um espetáculo a parte. Ele aborda o tema tecnologia como poucas vezes. Além de ir pro lado social e até trazendo discussões sobre a mulher, seu lugar e como ela é retratada. O episódio também discute questões sobre quem realmente somos, e como os outros nos vêem. Além de questões de liberdade de expressão e nos submeter autoridades que não merecem. O episódio ainda faz conexões com pelo menos outros 3 episódios da segunda e terceira temporada.
A melhor definição desse episódio é uma homenagem/sátira de Jornada nas Estrelas indo para o terror, com toques sociais e atuais amarrados pela tecnologia. Ou seja o episódio é muito Black Mirror.
A partir de agora irei falar do episódio com Spoiler. Então se você não assistiu pare agora, assista ao episódio e volte mais tarde.
Então vamos lá…
Um dos grandes acertos desse episódio é a criação de um universo paralelo. Mas realmente qual seria esse universo? A realidade onde Daly é um fracassado ou onde ele é adorado? Mostrar que estamos lidando com realidade alternativa, ou realidade virtual em poucos minutos de série foi um grande acerto.
Isso porque você entende porque Daly comandante é tão adorado. E as atuações caricatas se tornam totalmente necessárias. Afinal eles estão representando o que eles não são. O próprio Daly representa alguém que ele sonha em ser. Alguém adorado por todos. É interessante a construção do personagem. No início temos pena dele, mas conforme o tempo passa passamos a encará-lo como o vilão. E ao mesmo tempo Walton de quem tínhamos raiva ganha nosso respeito e carinho. Essa inversão de valores é sem dúvida a melhor sacada do roteiro.
Além é claro das críticas sociais. Logo no início do episódio Nanete entra no escritório de Daly e ali se vê uma crítica a como as mulheres são mostradas na cultura pop. Nanete fala de mulheres de mini saia no espaço. Visão que o Daly tem.
Uma crítica que a série também faz é com a nossa vida virtual. Muitas vezes tentamos ser quem não somos nas redes sociais. Ou buscamos no virtual criar uma vida que não temos. Descontamos nosso descontentamento no virtual, ao invés de buscar a resolução na vida real. Será que não seria melhor Daly se resolver com seus colegas ao invés de descontar neles no virtual?
Se não tomarmos cuidado pode ser que achemos a fantasia melhor que a realidade, e cortemos nossas relações humanas. Se não tomarmos cuidado seremos como Daly.
Outra crítica é aqueles que mostram quem realmente são no virtual. Daly realmente se mostrou um grande babaca, se escondendo atrás de um Black Mirror. E quantos não fazem o mesmo. Se escondem atrás de uma tela de computador ou celular para destilar seu ódio contra negros, homossexuais, transexuais e todas as minorias.
Um outro ponto interessante no episódio é a conexão com outros 3 episódios. O primeiro e bem claro é com San Junipero e Versão de Testes da terceira temporada. O Infinity é um jogo de realidade virtual como o testado por Cooper, só que agora melhorado e seguro. E assim como em San Junipero eles usam um pequeno círculo para poder se conectar e viver a vida que sempre quiseram. A outra referência é com o episódio Natal Branco da segunda temporada. Em dado momento um personagem fala que prefere viver a fantasia de Daly a passar 10.000 anos ali. Uma referência ao castigo dado rebeldes e aos criminosos dentro da interface virtual criada para ajudar nas atividades do dia a dia.
Ou seja mesmo estando tudo aparentemente desconectado, em Black Mirror tudo está conectado. Até a Netflix é citada. O que mostra que aquele futuro não está tão longe assim.
USS Callister é dessa forma um dos melhores episódios de Black Mirror. Ele diverte, faz pensar, te dá um tapa na cara, se conecta com outros episódios da série e se mostra muito perto da realidade. Com certeza esse episódio é muito Black Mirror!!
Resumo
Um dos grandes acertos do episódio é o elenco, em especial Jesse Plemons e Cristin Milioti. Plemons consegue criar um personagem multifacetado que se revela aos poucos quem realmente é.