Crítica: Suburbicon (2017), de George Clooney - Cinem(ação)
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Crítica: Suburbicon (2017)

Suburbicon é uma crítica social repleta de ironia e cinismo sobre a classe média americana.

 

Ficha técnica:

Direção: George Clooney
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, George Clooney, Grant Heslov
Elenco: Matt Damon, Julianne Moore, Noah Jupe, Tony Espinosa, Karimah Westbrook, Gary Basaraba, Oscar Isaac.
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (21 de Dezembro de 2017 no Brasil)

Sinopse: No idílico condomínio Suburbicon, em 1959, Gardner Lodge (Matt Damon) vive com o filho, a esposa e a constante presença da cunhada. Ao mesmo tempo em que a primeira família de negros se muda para a vizinhança, deixando a comunidade branca em polvorosa, uma invasão domiciliar resulta em morte na casa na Lodge, que passa a ter sua vida dificultada.

 

Quando a tia do menino Nicky (Jupe) insiste para que ele jogue baseball com o novo vizinho, ainda não sabemos o que essa família representa. Somente depois é que o espectador se dá conta do que se trata a família: o microcosmo de toda a classe média branca americana que não chega a ser racista, mas fecha os olhos (e as cortinas) para o racismo dos outros.

Mas Suburbicon é muito mais do que isso. O roteiro dos irmãos Coen é dirigido por Clooney, que antes havia apenas atuado com o texto deles. E a fábula não poderia ser melhor conduzida ou produzida em melhor período. Uma das óbvias respostas de Hollywood à América “pós-Trump”.

Com informações que vão sendo liberadas pouco a pouco em uma sequência de revelações interessantes, o filme mostra o desenrolar de um plano (que dá errado, ao melhor estilo Coen) e as reações de personagens que circulam ao redor do protagonista.

O curioso, entretanto, é observar como a trama “principal” serve para dar destaque ao pano de fundo no qual ela acontece. Mais importante que a morte de uma personagem e suas consequências, é a cerca no quintal. E quando vemos a multidão preocupada em expulsar os indesejados moradores, sabemos que ela está fechando os olhos para os verdadeiros criminosos. A mensagem é contundente e funciona para muito além das fronteiras estadunidenses.

O design de produção é inteligente em criar um ambiente “idílico” dos anos 50, reforçando o cinismo da produção ao mesmo tempo em que escancara o quanto aquela situação é apenas uma versão (nem tão) exagerada da sociedade em que vivemos – e não espanta que o roteiro seja baseado em um caso real de racismo.

Matt Damon consegue demonstrar gradativamente a verdadeira personalidade de Lodge (ao mesmo tempo em que seu corpo mostra sua degradação moral); Julianne Moore traz peso às duas personagens que vive; Oscar Isaac é uma surpresa agradável; e Noah Jupe mostra que é o ator mirim do momento.

Suburbicon ainda funciona como um ótimo homólogo ao surpreendente “Corra!“, ainda que não seja tão impactante quanto o filme de Jordan Peele. De fato, há que se criticar o fato de centrarem praticamente toda a trama em personagens brancos para falar de racismo – ainda mais que os personagens negros não sejam explorados. No entanto, isso não elimina a importância do comentário social proposto – e a ideia de que são todos representantes de uma sociedade inteira.

É também importante citar o fato de observarmos a história sob o ponto de vista de uma criança. É o pequeno Nicky que simboliza a proposta de uma nova sociedade, que não aceita os dizeres passados de geração em geração. E a cena final é particularmente sugestiva ao mostrar que, mesmo que ele se conecte com o vizinho, ainda há uma cerca (baixa, é verdade) que os separa.

Suburbicon é uma sátira, uma comédia de erros, um thriller e uma representação da sociedade. Há quem diga que ele não sabe o que deseja ser: uma produção típica dos Coen? Um desvio na obra de Clooney? No fim das contas, o que importa é que ele tem clareza em uma única coisa: é um ótimo – e necessário – filme.

  • Nota
4

Resumo

Suburbicon ainda funciona como um ótimo homólogo ao surpreendente “Corra!”. De fato, há que se criticar o fato de centrarem praticamente toda a trama em personagens brancos para falar de racismo – ainda mais que os personagens negros não sejam explorados. Há quem diga que ele não sabe o que deseja ser. No fim das contas, o que importa é que ele tem clareza em uma única coisa: é um ótimo – e necessário – filme.

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