Crítica: Star Wars: Os Últimos Jedi (2017) – Episódio VIII
Star Wars: Os Últimos Jedi honra a franquia, tem identidade própria e aponta para um futuro promissor.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Rian Johnson
Elenco: Daisy Ridley, Mark Hamill, Adam Driver, Andy Serkis, Carrie Fisher, John Boyega
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (14 de dezembro de 2017 no Brasil)
Normalmente nas críticas eu tento separar o tema, as opiniões de fãs (eu incluso) e a bagagem de outras mídias e só me ater àquela expressão cinematográfica. Fazer isso com Star Wars é um desserviço, pois ele é um marco para a cultura pop e reverbera muito além daquelas pouco mais de duas horas.
Contudo, posso ficar tranquilo Star Wars: Os Últimos Jedi entrega sim um fanservice arrepiante para quem acompanha a saga, mas também tem um filme técnica e narrativamente consistente. Vale o comentário que esta crítica não terá spoiler – serei até mais vago que o normal no que tange à história.
Sequência direta de O Despertar da Força, Os Últimos Jedi abre com uma batalha espacial que honra o Star Wars do título. Naves explodindo, manobras inventivas, estratégias sagazes (ou nem tanto) e consequências naturais de uma guerra já tomam a tela nos primeiros minutos.
Não tarda para toda a sorte (nossa sorte) de personagens conhecidos e alguns novos transitarem com uma fluidez rara. É difícil um filme dar conta de tantas figuras sem soar superficial. Há pelo menos uma cena especial para cada um, em geral mais de uma.
A trama tem como cerne a Primeira Ordem querendo se impor e devastar a Resistência – como já anuncia o letreiro inicial. Paralelo a isso temos duas buscas pessoais, que claro remetem ao tema central (da franquia e do filme em específico): Rey (Daisy Ridley) buscando conhecimento e ajuda com o recluso Luke (Mark Hamill), e Kylo Ren (Adam Driver) que tenta não decepcionar o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), além de se provar como alguém pronto.
A partir desses arcos, que aparentemente são simples, temos grandes estudos de personagens que jogam por terra o velho preto/branco. E o principal: tem um número extraordinário de decisões no roteiro que levam o filme para caminhos surpreendentes. Talvez você preveja o destino deste ou daquele personagem, mas dificilmente pensará naquele trajeto escolhido.
A montagem tem um papel fundamental aqui. O jeito como dois personagens distantes fisicamente se conectam, a alternância dos três arcos sem soar confuso e até um leve arrastar que no frigir dos ovos você entende e aceita em prol de uma construção, tudo isso compõe um cenário virtuoso.
Visualmente é um espetáculo. Nas cenas de luta vemos tudo que está sendo nos mostrado. Não há uma bagunça como é comum em muitos filmes blockbusters (Transformers mandou lembranças), e nem mesmo o 3D atrapalha. Além disso, mundos e cenários diversos permitem uma brincadeira visual. Seja pela tonalidade, seja por conta do design de produção, sentimos que estamos no local X ou Y. Nada é genérico. Há vida o tempo inteiro.
Por falar em vida, a gama de criaturas também é destacável. E aqui com função narrativa. Porém, por vezes (e chegou a hora de apontar um pequeno exagero do filme) tais bichinhos fofos estão lá para serem bichinhos fofos, vender boneco e fazer piadas à la Marvel. Nada que atrapalhe o andamento de Star Wars: Os Últimos Jedi, porém você sente que alguém pensou: “vamos parar aqui e fazer fulano tropeçar para o público rir”.
Falando dos personagens mais detidamente, a Rey mantém o carisma e deixa mais uma vez o público tranquilo de que ela pode ser o rosto dessa nova trilogia. Finn (John Boyega) não tem tantos momentos engraçadinhos como antes, porém o ar mais compenetrado e maduro é posto de forma orgânica. Luke e Leia (Carrie Fisher) funcionam como porto e a voz da experiência, sem que soem infalíveis – há um momento com cada um que com certeza o cinema irá à loucura.
Já General Hux (Domhnall Gleeson), Maz Kanata (Lupita Nyong’o), Capitã Phasma (Gwendoline Christie), DJ (Benicio Del Toro) e até o querido Chewbacca têm pouco espaço e acabam frustrando os fãs.
Quem evoluiu mais, pasmem, foi o Kylo Ren. Ele tem tantas camadas, reviravoltas e decisões importantes que se tornou a principal figura aqui. Algumas considerações importantes: ele não é o novo Vader e isso é um acerto preciso do roteiro. Além dos chiliques que fizeram muita gente (eu também) não gostar do personagem outrora, aqui é usado com um propósito.
Aliás, outro mérito de Star Wars: Os Últimos Jedi é corrigir pequenas escorregadas do Despertar da Força. O mais notável cai na conta da identidade. Temos, claro, diversas rimas com outros episódios, mas em momento algum soa como um remake ou preguiça criativa. Ninguém vai falar que este é um episódio V do século XXI. Vamos lembrar de Os Últimos Jedi (e que título bem escolhido) como um legítimo episódio VIII.
Se em Rogue One já tínhamos a força como um elemento de fé mais amplamente abordado do que antes. Agora temos a compreensão desse elemento sob os olhos dos Jedi e toda a construção crescente naqueles personagens. Há um uso em especial que talvez entre para o top 3 momentos da franquia. Será daquelas cenas eternizadas.
Por falar em top, para quem gosta de ranking, coloco este como o terceiro melhor da franquia. Atrás apenas dos episódios V e IV. Claro que em revisitadas futuras essa posição pode mudar para baixo ou para cima… Tudo isso mérito em especial do diretor e roteirista Rian Johnson. Quando JJ saiu muitos ficaram com o pé atrás, medo sem fundamento, Johnson entendeu o universo e colocou o dedo de forma precisa.
Aqui no Cinem(ação) ainda falaremos muito de Star Wars: Os Últimos Jedi. Este foi uma primeira reflexão mas que já dá para ter uma noção dos diversos pontos positivos presentes. Fiquem ligados no site que em breve nos vemos em uma galáxia não tão distante.