Crítica: Uma Verdade Mais Inconveniente (2017)- Novo Filme do Al Gore
Uma Verdade Mais Inconveniente (2017) repete alguns erros do primeiro e o que tenta fazer diferente erra também.
Ficha técnica:
Direção: Bonni Cohen, Jon Shenk
Elenco: Al Gore
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (09 de novembro de 2017 no Brasil)
Uma Verdade Inconveniente (2006) sacudiu o mundo, não só por ganhar o Oscar de Melhor Documentário em 2007, mas principalmente por dar holofote a uma questão urgente. Dirigido por Davis Guggenheim e tendo como rosto principal, e quase que exclusivo, o Al Gore, Uma Verdade Inconveniente vai pouco além de uma palestra com algumas inserções aqui, acolá. Traz uma mistura de dados irrefutáveis, com uma manipulação barata, e faz algo que mais condeno em um filme: coloca a mensagem na frente do cinema.
O adendo então se faz necessário: meu objetivo aqui não é discutir o aquecimento global ou mesmo se Al Gore tem ou não razão na causa que ele é engajado há décadas, o objetivo é apenas falar de cinema. Tal porém é necessário, pois Uma Verdade Mais Inconveniente repete boa parte das fórmulas do anterior, com alguns adicionais que irei comentar.
O tom professoral, aqui agravado por Al Gore ter se assumido como uma espécie de coach recheado de treinees, continua dando o tom. Piadinhas típicas de palco com as devidas pausas dramáticas são abundantes. Admirável a capacidade retórica de Gore, mas frágil ao anteciparmos o que vem a seguir.
A manipulação emocional, seja na trilha ou na montagem, carimba a necessidade de enviesar o discurso. Mesmo quando ele se coloca contra a parede o faz para logo a seguir se auto promover, como na negociação com a Índia.
Soa ridículo o tanto de tempo que o longa perde com selfies de fãs, apertos de mãos e outras formas de mostrar como o porta voz ex-Vice Presidente é querido. O que soa ainda mais triste ao pensarmos que ele tinha conteúdo para mostrar, já que se debruçara no tema, como ele mesmo faz questão de frisar algumas vezes.
Como lado positivo, Uma Verdade Mais Inconveniente equilibra a esperança com a desesperança, como ele mesmo fala. Mostrar as atitudes que estão dando certo para o clima e são economicamente favoráveis é um dos pontos altos. Outro mérito, mas que não diz respeito ao filme em si, mas à distribuição, cai na conta dos letreiros em português. Muito bom não precisar sequer da legenda para entender certos contextos e quem é quem.
Mas isso é pouco para segurar o filme. Novamente vemos diversas cenas que tem como objetivo um apelo raso à emoção, como nas cenas nas Filipinas. Ou então um arco alongado na conferência em Paris. Parece que não tinha mais filme e eles foram tacando cena ali. E o pior tudo inflando o ego do Al Gore, mostrando como ele é famoso ou como ele mete o pé na água e pega metrô cheio.
Se o Trump tem ideias malucas e/ou se de fato somos culpados pelo aquecimento, o longa perde tempo com passagens completamente irrelevantes, quando poderia reforçar a própria ideia ou refutar a visão contrária. Ou seja, mesmo quem concorda com a mensagem é afastado por essa vaidade de Al Gore.
Tematicamente há pouca novidade. Prova disso é que parte da obra pega cenas do outro filme, mas usando imagens diferentes ou em situações diferentes. Talvez a sequência “inconveniente” se justificasse mais ao frisar as comparações entre 2005 e 2016 e não com saltos tão pretéritos. Há muito panfleto político/ideológico e pouco cinema.
E como é comum em algumas sequências, esta soa mais como caça-níquel do que como “necessária”…
Ps: mesmo com todas essa críticas, aposto que ele esteja entre os indicados ao Oscar. A Academia já provou que curte o Al Gore e ao ser inimigo do Trump praticamente coloca uma mão na taça. Uma pena que a parte política tenha tanta influência. Espero estar errado e que a obra passe longe da premiação.